domingo, 16 de novembro de 2014

Blackbird na Casa de Cultura Laura Alvim

Baseado em fatos reais, o espetáculo Blackbird, em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim é, de longe, um dos melhores que assisti nos últimos tempos. Trata-se de uma verdadeira aula de dramaturgia e de interpretação, explorando um grande tabu de maneira competente.

O premiado texto de David Harrower, que tem no Brasil, a direção de Bruce Gomlevsky, vem agradando o público e a crítica em temporadas bem sucedidas. Antes mesmo dos atores entrarem em cena, o cenário intimista já chama a atenção do público por estar repleto de lixo. O espectador se sente preso e desconfortável. Causar este efeito foi uma boa sacada da produção, já que as personagens, muito bem defendidas por Viviani Rayes (Una) e Yashar Zambuzzi (Ray), são presas ao passado, e revirar o passado gera nelas um desconforto.

Una e Ray viveram uma tensa relação há quinze anos atrás, quando ela tinha apenas doze anos, e ele, quarenta. Ray cumpriu pena pelo crime de pedofilia e agora está disposto a refazer sua vida, assumindo, inclusive, uma nova identidade. 

Eu já assisti Vivany numa comédia romântica, mas vê-la num drama foi uma grata surpresa. Achei bem interessante o contraste entre os dois. Ela, às vezes explode; às vezes demonstra fragilidade e às vezes é irônica. Ele, segue sendo mais receoso, talvez por querer esquecer o passado que ela faz questão de lembrar. Talvez, o lixo espalhado no palco seja uma simbologia ou represente as frases não ditas, as  expectativas criadas... Pensei nisso justamente quando um começou a jogar lixo no outro. 

Enquanto tento encontrar palavras para expor minhas opiniões sobre a peça, penso em vários "talvez"... Talvez eles se amem de verdade, talvez não... Talvez eles não consigam sair dali... Talvez resolvam ficar juntos... Talvez não se vejam nunca mais... Qual ponto de vista é o correto? O dele ou o dela? Uma coisa é certa: As incertezas que guiam o espetáculo. Mais um acerto da equipe foi aproveitar-se disso, tanto na iluminação, quanto na sonoplastia. 

Um dos momentos mais fortes do espéculos é quando entra em cena uma terceira personagem: : uma menina que demonstra afeto por Ray. Neste momento, fica visível o desconforto do público, que aguarda com ansiedade o desenrolar dos acontecimentos.

Blackbird está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim de quinta a sábado às 21:00 e domingos às 20:00.


Ficha Técnica

Elenco: Viviani Rayes, Yashar Zambuzzi e Bella Piero
Texto: David Harrower
Tradução: Alexandre J. Negreiros 
Direção: Bruce Gomlevsky
Direção de produção: Viviani Rayes
Produção executiva: Yashar Zambuzzi
Cenário: Pati Faedo 
Cenotécnico: André Salles
Figurinos: Ticiana Passos
Iluminação: Elisa Tandeta
Técnico de Luz: Rafael Tonoli 
Operador de Luz: Samuel Rottas 
Trilha original: Marcelo Alonso Neves
Assistente de direção: Francisco Hashiguchi 
Assistente de produção: Glau Massoni
Assessoria de imprensa: Alessandra Costa
Programação visual e fotografias: Thiago Ristow
Fotos de Cena: Thaissa Traballi
Realização: Rayes Produções Artísticas
Idealização: Te-Un TEATRO




segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Tempo não para.... Cazuza também não!

Agenor de Miranda Araújo Neto, conhecido popularmente como Cazuza morreu em sete de julho de 1990, vítima do HIV,mas sua obra e o seu nome estão mais vivos do que nunca, seja através de sua mãe, Lucinha Araújo, engajada em projetos sociais, seja através do cinema, do teatro ou shows de hologramas. No cinema, o poeta foi vivido por Daniel de Oliveira e no teatro por Emílio Dantas. Duas visões de Cazuza diferentes, mas que se completam.

Daniel de Oliveira se preparou um ano e meio para viver um dos personagens mais importantes de sua carreira. O ator disse à Revista Época que chegou a alugar um apartamento em Leblon e colocou um poster dele no seu quarto para se acostumar com a imagem. Mas teve um momento em que Walter Lima Júnior disse para o Daniel esquecer o Cazuza, jogar tudo fora e fazer ele mesmo. A convivência com Lucinha Araújo e com os amigos de Cazuza da época foi fundamental, tanto para Daniel de Oliveira quanto para Emílio Dantas, que interpretou Cazuza no teatro. O estilo despojado de Cazuza influenciou todo o trabalho por trás das câmeras. Trabalharam apenas com câmeras leves. Para alguns fãs, o filme não foi tão fiel, faltaram algumas coisas. Claro que faltaria. São dez anos contados em noventa minutos. Mas isso é Cazuza: sempre apressado. Ele preferia viver dez anos a mil do que mil anos devagar.

Já Emílio Dantas não é fisicamente muito parecido com Cazuza, mas o timbre é semelhante. Ele optou por não assistir ao filme estrelado por Daniel para não pegar as nuances do ator. Aliás, antes de ser ator, Emílio Dantas já cantava profissionalmente.  Os dois Emílio também teve muito contato com Lucinha Araújo durante o processo de preparação.

Além de Fejat, Ney Matogrosso e Luiz Melodia, quem tem cantado o repertório de Cazuza é Maria Gadu dentro do projeto Banco do Brasil Covers. As homenagens não param por aí. Há treze anos atrás, foi construída no Leblon a Praça Cazuza. O tempo não para... Cazuza também não!




Fontes:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR64712-5856,00.html
http://guia.folha.uol.com.br/teatro/2014/07/1487321-pro-dia-nascer-feliz-o-musical-ator-fala-da-preparacao-para-viver-cazuza.shtml

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A Espera






O projeto Furo de Pauta do SESC de São João de Meriti apresentou no dia 25 de setembro de 2014 a peça “A Espera” da Cia Teatropelo. Sou suspeito para falar de peça teatral de cunho político e histórico, mas a nova montagem da Cia Teatropelo superou as expectativas ao quebrar a tensão dos anos de chumbo com a dose certa de humor.
            A primeira coisa que me chamou atenção foi o cenário: bonecos decapitados ao fundo e os objetos cênicos como a cafeteira e os ovos. O cantor Tuco, interpretado por Tiago Machado, permanece trancado em seu quarto. Quantos não permaneceram trancados dentro de suas casas ou dentro de si mesmos, enquanto do lado de fora, pessoas morrem ou simplesmente desaparecem? Esperamos tantas coisas de nós e dos outros, e o preço, muitas vezes é caro: a liberdade.
            Tuco espera retomar sua carreira, interrompida pelo regime militar. Espera os músicos enviados pelo seu amigo Mingo. Eis que entra Sebastian (Cláudio Galvão) e o espetáculo começa a fluir. As interpretações são verossímeis. Os atores trabalharam no processo desta peça durante um ano e meio, sob a supervisão do diretor Abílio Ramos. A química entre elenco e direção é visível.
            Um dos pontos mais altos da peça foi a declamação do texto de Raul Seixas, fechando com chave de ouro. Falando em Raul, a trilha sonora escolhida é um espetáculo à parte. As próximas apresentações de "A Espera" serão no Teatro Armando Gonzaga em Marechal Hermes nos dias 03 e 04 de outubro às 20:00 e no dia 05 de outubro às 19:00. 

sábado, 6 de setembro de 2014

Marlene Dietrich - As Pernas do Século


Está em cartaz no Teatro Maison de France, o espetáculo Marlene Dietrich – As Pernas do Século de Aimar Labaki sob a direção segura de William Pereira.  Quem tem a missão de interpretar a diva alemã que se naturalizou americana para combater o Nazismo é Sylvia Bandeira, que chega a cantar em inglês, alemão, russo e francês. Na trama, ela conhece um entregador de bebidas, vivido por José Mauro Brant, que consegue segurar bem a responsabilidade de manter a comicidade do espetáculo. É com ele que ela divide suas memórias. Os dois, ao lado de Marciah Luna Cabral e Sílvio Ferrari dão um show à parte quando cantam, em especial, as músicas Ne me quitte pas, Ruins of Berlin e Lili Marlene.

O autor acerta ao mesclar o presente com o passado, e o diretor, ao conciliar as passagens de tempo com movimentos bem marcados, sobretudo, quando Marlene abandona a poltrona. Roberto Bahal, que também assinou a direção musical de "Palavra de Mulher", mais uma vez mostra seu talento ao assumir os arranjos de Marlene Dietrich. 

Pode-se dizer que Marlene Dietrich tinha as pernas mais famosas do século passado. Aliás, ela era bem mais que duas belas pernas. Foi uma mulher à frente do seu tempo. Se apaixonou por todos os tipos de pessoas, sejam homens ou mulheres, entre eles, Gary Cooper, Edith Piaf, Jean Gabin, Frank Sinatra, Cole Porter e Eric Maria Remarque. Foi atriz de rádio, cinema mudo e falado e televisão, além de ter cantado em cabaré. Sua personalidade era mais visível que seu talento, que só foi reconhecido a partir do filme O Anjo Azul. Trocou Hollywood por Durante a II Guerra, Marlene fez a sua parte. Deixou Hollywood para lutar ao lado dos Aliados na II Guerra Mundial.

Os figurinos, fiés à época dão a elegância  e o intimismo que o espetáculo pede. Não são poucos os que acham que Sylvia Bandeira está em seu melhor momento. Suas expressões são tão ricas que ela nem precisa de maquiagem pesada para reforçar as características de sua personagem, então, com noventa anos. 

MARLENE DIETRICH - AS PERNAS DO SÉCULO
Teatro Maison de France (Av. Presidente Antônio Carlos, 58)
Quinta : 19H30 R$ 60,00
Sexta : 19H30 R$ 60,00Sábado : 20H00 R$ 80,00Domingo : 18H00 R$ 70,00

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Brasil ou Alemanha???

O Brasil é o país dos contrastes até mesmo no futebol. O pentacampeão perdeu de goleada para a Alemanha. E onde está o patriotismo presente nos jogos da Croácia, Camarões e Chile? Pois é, esse é o nosso povo que torce quando convém. Aliás, torcer para a seleção não significa, necessariamente, ser patriota. Agora virou moda comparar o Brasil com a Alemanha, um país que seria exemplo na educação e na saúde.
Até que ponto o futebol e a política se misturam? Será que a derrota do Brasil poderá influenciar de alguma forma o resultado das eleições? O fato é que a política é uma caixinha de surpresa e o futebol também. 
Bom, eu parto do princípio que não devemos comparar pessoas, tampouco, comparar países. Li no facebook que a Alemanha tem uma história linda. Não foi uma pessoa que escreveu, mas várias. E isso se reproduz de forma assustadora, assim como o slogan "Tem estádio, mas não tem saúde; tem estádio, mas não tem educação". Confesso que tenho medo. Será que as pessoas não estão reproduzindo este conteúdo sem uma análise crítica apropriada como se tudo que postassem no facebook fosse verdade?   
É certo que a Alemanha de hoje não é a sombra da Alemanha que lutou as guerras mundiais. O país melhorou em todos os sentidos, mas o Nazismo não tem nada de lindo, convenhamos. E se o Brasil quiser chegar ao "nível" da Alemanha, o primeiro passo não está numa reforma política, e sim numa reforma social. Em algumas cidades alemãs é proibido beber cerveja ou vinho em lugares públicos. A classe media de lá não tem o costume de comprar carros antes dos vinte e cinco anos, e quando compra, permanece anos com o mesmo. Eles não têm empregada doméstica e nem previdência social. Na media, os planos de saúde e os transportes são tão caros quanto no Brasil. A mão - de - obra é supervalorizada, ou seja, não há pechincha, não há descontos, nem adianta chorar.
No país de Isabel de Baviera o jeitinho brasileiro não tem vez. Será que estamos prontos para morar na Alemanha? Mesmo se tivesse esta opção, ficaria no Brasil. O que resta é aproveitar o final da Copa. Se a taça será da Alemanha ou da Argentina, não sei, mas quem ganhou mesmo de goleada neste mundial foram as mulheres: Dilma (Brasil), Isabel (Alemanha) e Cristina Kirchner, mais um motivo para essa ser considerada a Copa das Copas. Boa noite!

domingo, 1 de junho de 2014

História em Versos

Seguem alguns poemas que escrevi para serem trabalhados em sala de aula:

Pré – História
Eles viveram antes que houvesse a nossa escrita
Mas nem por isso
Suas vidas foram menos bonitas
Já que toda gente
Tem história para contar
Por mais que sejam “estranhos”,” monstros” e “brutos”
Se comunicavam por rabiscos
Em quaisquer muros
Seja pedra polida ou lascada
Toda história precisa e merece ser contada.

Roma (publicado na antologia Professores não só ensinam, eles também escrevem da Big Time Editora)
Da loba nasceu Roma
Eis que os Bárbaros testemunharam
A decadência de um Império
Que no Oriente encontrou uma resistência...
Entre Constantino e a cruz,
Um Mistério
A Cultura Antiga se dissipa
E renasce com os humanistas
E resiste a cada dia
No interior dos tribunais. 

Atlântico (Poema escrito para a peça A Sinhá e O poeta, apresentada em 24/10/2012. Foi publicado na antologia Professores não só ensinam, eles também escrevem da Big Time Editora.) 
Choravam as vozes negras
Dos que deixavam a pátria
Choravam mães e filhos
Órfãos da África
Gente que não era gente
Corpos sem alma
Morriam como indigentes
Jogados ao mar...
Dos que restavam o futuro era incerto
A esperança, pequenina
Ficam aos navegantes, as partidas comuns
Ficam aos órfãos as cicatrizes...   

Independência (publicado na antologia Professores não só ensinam, eles também escrevem da Big Time Editora) 
Tudo começa quando João aqui adentra
Os ingleses anunciam as novas vendas
O monopólio português cessa
A esperança está acesa
O Teatro é Decente, mas o povo é indecente
Na visão de Carlota Joaquina
Aos ventos, a carnificina
Eis que Pedro dá o grito no Rio Ipiranga
Enquanto João estava com a voz entalada na garganta
O Príncipe Regente vira o Imperador Primeiro
É tido como herói e guerreiro
Mas foi morrer em Portugal
Deixando o meninote sozinho
Ao som do Carnaval
Amante das artes e das letras
Dos coqueiros e das bananeiras
E dos sonhos de liberdade
Para cessar as revoltas
Assumiu a maioridade
Da popularidade que tinha o segundo Pedro
Isabel não fazia sombra
Era casada com um estrangeiro
Causando ao povo uma desonra 

A Redentora
País cheio das riquezas
Ainda no regime da escravidão
Até que veio a princesa
E libertou do cativeiro
Os nossos irmãos
Mas sem indenização.
Isabel, a redentora
Era católica até na sombra
Os filhos tardaram
Dando ao marido francês má fama e desonra
Ele, que no Paraguai
Deu um passo para a abolição
Que tiraria o país de dimensão continental
Da contramão
Isabel não era tão popular como o pai
Mas assinou a Lei Áurea 
Dando aos cativos a sonhada alforria
Ato que rompeu, no ano seguinte
Com a monarquia
A república não tardou
Ninguém constatou a mudança
O Imperador exilou-se
Levou pedaços do Brasil
Para Portugal e para França
E assim termina a longa história
Da monarquia de Bragança.
    


Identidade (publicado na antologia professores não só ensinam, eles também escrevem da Big Time Editora). 
Eu sou um
Você também.
Juntos nós somos muito mais que dois.
Eu sou branco e tu és negro
Juntos somos todas as cores.
Do verde e amarelo ao azul e branco
Da África sou riso
Da Europa sou pranto
Sou de lá e daqui
Quem sabe sangue tupi...
Meu pai é de Kardec e minha mãe de Iemanjá
Eu sou de Santo Antônio
Que um casamento vai me arranjar
Acredito que do Pai também sou filho
Sou de Amazonas, mas moro no Rio.
Não há motivos para vertigem
Pois no fundo somos da mesma origem.

                                                

sábado, 31 de maio de 2014

A Minha Historia

Ao lado do ator Tiago Machado na peça A Sinhá e O Poeta, apresentada na UNISUAM em 24 de outubro de 2012.
Hoje encontrei dois alunos. Falamos um pouco sobre teatro, livros e também sobre Historia. São nessas horas que percebo que fiz a escolha certa.  Resolvi, neste post, falar um pouco de mim e sobre o fato de ter escolhido fazer Historia. A História inclui todas as letras, números, todas as crenças e lendas. Ela é feita de gente para gente. Por incrível que pareça, isso é o que me move: trabalhar com gente. 
Quando tenho uma sala de aula, tenho um mundo a ser descoberto. Levo para lá, então, as perguntas que faço aos meus personagens de teatro: Quem eu sou? Sou na questão, um professor, e mais do que isso, sempre disposto a aprender com todos que estão ao meu redor. Trato meus alunos como gente, de igual para igual.
Um professor tem que amar o seu ofício. Eu amo profundamente o meu. Tento inovar e renovar, não somente os meus métodos de ensino, mas principalmente, mudar o meu modo de pensar. 
Se não tenho material de trabalho, crio, reciclo ou invento. Para isso escrevo peças como A Sinhá e O Poeta, e poemas como Atlântico, que aborda o tráfico negreiro. Se tenho uma turma com vinte ou trinta alunos e cada um tem sua maneira única de ver a vida e cada um tem a sua realidade, por que a História deveria ser limitada à sala de aula? 


terça-feira, 20 de maio de 2014

De crítico, médico e louco todo mundo tem um pouco.

Do dia para a noite todo mundo virou crítico, seja de teatro, cinema, televisão, futebol...Esse é o resultado da liberdade de imprensa, que defendo com todas as forças. Eu mesmo tenho feito algumas críticas aqui no blog, mas nem sei se posso ser mesmo considerado um crítico, já que levo muito para o lado pessoal, aliás, fazendo teatro, não tem como não levar para o pessoal. Não acredito nessa imparcialidade que alguns críticos dizem ter.

Agora, falando sobre aquele crítico que escreve em jornais e revistas, que faz disso uma profissão, o buraco é mais embaixo. Para quem ele escreve? Para o artista? Para o leitor? Ou para o editor? Agradar gregos e troianos é bem difícil. O triste disso tudo é ver críticos de teatro criticando apenas para cumprir a sua função e não porque amam o teatro e entendem disso. Imagina alguém tecer uma crítica sobre Hamlet de Shakespeare e não citar a Ofélia... Prefiro não comentar...

Vez ou outra algum ator comenta que não liga para críticas. Não sei como isso é possível, já que ele precisa ser visto. Não só os atores, mas todas as pessoas querem ser reconhecidas por seu trabalho.

Eu assisto muitas peças e a modinha da vez, segundo alguns críticos é aplaudir de pé.  O crítico inglês Michael Billington chamou este hábitio de “hábito sujo”. Por que essa discussão agora? Esses aplausos poderiam cair sob qualquer atriz em detrimento das grandes divas da nossa dramaturgia?  Será que o público aplaude já com a intenção de ir embora? O sujeito que aplaudiu e riu do começo ao fim vai lembrar da peça e recomendar aos amigos no dia seguinte? E a senhora que não esboçou risos? Será que não achou mesmo graça do espetáculo ou ficou tão surpresa que não conseguiu reagir?


Eu nunca me fiz essas perguntas, mas creio que o fato de aplaudirem todas as peças de pé não coloca as peças ditas ruins e as boas no mesmo patamar. Um ator tem como saber, a partir das reações do público durante o espetáculo e pelo tempo em que aplaudem, se realmente gostou ou não. Ah, só para constar, essa é apenas a minha opinião. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Mulheres de Nelson no Teatro Miguel Falabella

Ninguém escreveu / descreveu a mulher tão bem quanto Nelson Rodrigues. Partindo deste princípio, Izaac Erder e Márcio Zatta reuniram num único espetáculo, cinco personagens femininas do anjo pornográfico. Ali, questionando a sociedade como um todo,  elas se conhecem e se reconhecem, sem fugir do universo rodriguiano. Descobrem que são muito parecidas, a começar porque são todas mulheres de carne e osso. Além de questionar a sociedade, as Mulheres de Nelson questionam a si mesmas, e de certa forma, também, o Nelson Rodrigues.
Quem já assistiu Apocalipse, outra peça da Cia Teatro da Estrutura, certamente não vai se surpreender tanto, mas isso não tira o mérito do elenco, nem da direção. Estão todos muito seguros em cena e a dinâmica proposta faz com que você não tire sua atenção do espetáculo que conta com Helen Maltasch, Carol Mattos, Fellipe Gonçalves, Sarah Diniz e Cristiana Carvalho. E segue em cartaz até o dia primeiro de junho na Sala Atores de Laura do Teatro Miguel Falabella. Sextas e Sábados às 21:30 e domingos às 20:30. Se você não conhece a obra de Nelson Rodrigues, assista. Se conhece, assista também. Vale a pena. 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Entrevista com Juliano Feldens

No dia primeiro de agosto de 2013 entrevistei o ator Juka Garibaldi. Hoje, 14 de maio de 2014, entrevisto o ator Juliano Feldens. Quem é o Juka e quem é o Juliano?

Na verdade a mesma pessoa,nunca fui uma personagem...O "Juka" é meu apelido,por ser um apelido começou a ser visto por mim,como um diminutivo,até brinco que "Juka" pode ser cachorro,papagaio,periquito...O "Juliano" é o cara que nasceu no sul,veio morar no Rio,se formou em teatro e está amadurecendo,e por este motivo,por estar mudando,achei necessário a mudança no nome.

Por que você assumiu agora o seu nome de batismo? Essa mudança foi repentina ou você já estava pensando em aposentar o seu apelido?
Então...estou num outro momento,de vida,de carreira,um momento de experimentos adultos,processos mais alternativos,buscas de "gente grande" eu já vinha trabalhando isso,uma vez cheguei até fazer uma enquete aqui na internet,na ocasião venceu o "Juka",mas com o passar do tempo,isso começou a me incomodar,digo como artista...Pois não nego nada o que eu fiz,mas as pessoas estão acostumadas a associar minha carreira a coisas infantis,peças e atuações para este público....óbvio que tem isso!Mas não quero somente essa associação entende?Sou um ator, e não somente um ator de peças infantis...Já fiz bastante coisa adulta também,mas o Juka é linkado ao infantil...O Juliano veio para mostrar que sou multifacetado....e quero que me vejam como um camaleão da arte!

E as pessoas já estão se acostumando a te chamar de Juliano?
Então...kkkkk...As vezes alguém me liga e fala :Juka,ai a mesma pessoa me chama inbox: Juliano você tá ai?Acho que a composição do nome é bem melhor...E com o tempo todos vão acostumar,o mais "doido",foi enviar um e-mail para cada produtor de teatro, Tv, cinema e publicidade explicando o porque da mudança...mas sabe?todos gostaram.

Se não fosse ator, o que você seria?
 "Caracoles!"Paisagista,decorador ou produtor de moda ou botânico, algo que estudasse a natureza, coisas que pra mim não deixam de ser arte. Mas um sonho futuro é ter um sobrado,um espaço para dar aula de teatro,fazer um brechó e ter um café,um sebo de discos e livros.tudo junto....uma espécie de 'QG" da arte! onde possa expor minha coleção de brinquedos e fazer leituras,receber artistas,produzir minhas peças no meu próprio espaço.

Sei que ao longo de sua carreira, você trabalhou com peças infantis. Fale um pouco da sua experiência com este público.
Então,certamente é um público,muito especial...Me sinto uma pessoa também especial,porque tenho o carinho deles...Chegar no coração das crianças não é para qualquer um,eles sentem quem é especial...E o o mais legal é ver um pai,vindo me abraçar ou apertar a minha mão,pois os "homens"não são muito disso...E quando isso acontece é porque eles também compraram a ideia,sempre fiz com o coração e sempre farei! Muita coisa que eu tenho e consegui,foi graças ao público infantil...tenho muitas coisas que quero fazer ainda pra eles,mas numa linha cada vez mais educativa e não somente lúdica.


Qual peça você não faria?

Olha,eu não faria algo que eu não acredite...Teve um tempo,que acho que não foi privilégio meu,muita gente passa por isso...Que a gente faz algumas coisas muito "toscas" para pagar contas,e sobreviver...Mas a vida vai se encarregando de te fazer ter mais oportunidades...Agora estou num outro momento,posso me dar a chance de não fazer mais coisas que me agridam como artista...Não faria mais o que não acredito.


Na outra entrevista você chegou a comentar que tem insônia e interpretou um personagem com uma fobia, o medo de morrer dormindo. Como foi encarar esse desafio? Isso alterou de alguma forma sua vida pessoal?

Olha,muito boa essa pergunta..rsrsr...Pois fazem 4 meses que venho fazendo tratamento para insônia...sempre fui uma pessoa que dormia tarde,mas dormia e sempre acordei cedo....Mas cheguei a um limite e ai fui ao médico,ficando quase 48 hs sem dormir....Estou melhorando,mas foi constado que sou hiper ativo,minha cabeça não para...Eu faço mil coisas ao mesmo tempo,mas infelizmente ou felizmente não sei ser diferente.Agora tenho feito caminhada,meditação e tenho me sentido melhor,mas sou "noturno" não adianta....Posso dormir 4 horas que me acordo a mil tipo:'UHUUU"


O que você indica para um ator que vai fazer seu primeiro teste?

O que você indica para um ator que vai fazer seu primeiro teste? Recebo uns inbox,com essas perguntas,atores que vão fazer algum teste....Na verdade é buscar um monólogo que tenha o seu estilo,que vc possa dar nuances,se for um teste musical,conheça o seu timbre,até onde vc pode ir e busque uma música que te favoreça...Expressão corporal é tudo!Movimento cortante!Nossa e muito carão né? Convencer a você mesmo primeiro!

Já tem algum novo trabalho em vista?

Tenho sim....Amanhã vou fazer a leitura de um texto adulto,para uma montagem que vem por ai...Ainda esse ano vou lançar o "Plimplamplum",sim!ele não virou lenda(rsrsrs)....E tem uma possível volta de uma peça adulta que eu já fiz,vivendo um personagem que foi um grande desafio ter feito,é provável que eu reviva uma "Rainha" muito má!E de boa né?Eu quero ainda fazer no mínimo mais uns 5 projetos esse ano...ta só em maio!Mas projetos bons,que somem.


Juka, ops, Juliano, muito obrigado por mais uma entrevista.  É sempre muito bom aprender um pouquinho contigo sobre esse amplo universo teatral.  Sucessos na sua carreira e na sua vida.

Sucessos na sua carreira e na sua vida. Eu é que agradeço e desejo vida longa para vc,para o Blog e pra vc que está lendo...se gosta de mim ok!senão "beijinho nas costas"...valeu gente!!!!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Bodas pelo Avesso no Teatro das Artes

Joana (Naura Schneider) sonha em comemorar bodas de prata. Não haveria nada de estranho nisso se não fosse a ideia de reunir seus três ex maridos, já que os anos de duração dos três casamentos juntos somam vinte e cinco anos. É claro que isso acarretaria numa grande confusão. Joana volta a ser alvo dos três homens, interpretados por Antônio Fragoso, Luiz Guilherme e Douglas Sampaio.Enquanto isso, sua amiga Lu, vivida por Mariana Bassoul, não consegue de maneira nenhuma encontrar sua cara metade.
É no jantar que as qualidades e defeitos até então desconhecidos de Joana vão aparecendo cada vez mais e mais, a caracterizando como uma mulher de várias facetas. Na verdade ela foi se transformando no convívio com cada um dos maridos, assim como eles também se transformaram.
Prestes a completar cinquenta anos, o que Joana deseja é viver em paz com seu passado, é juntar numa única noite algumas das pessoas mais importantes de sua vida. Ela quer mostrar que o amor não acabou, mas se tornou uma bela amizade.
Bodas pelo Avesso é uma peça leve e divertida. As marcações são bem elaboradas.  O leitor acaba se identificando com um dos maridos ou com uma das Lauras, já que nos dias de hoje os relacionamentos terminam por qualquer coisa. 

O espetáculo escrito por Ecila Pedroso sob a direção de Márcio Trigo. Segue em cartaz no Teatro das Artes (Shopping da Gávea) sempre quartas e quintas às 21:00. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Apocalipse

Um homem te guia pelos cômodos de uma casa sombria onde as coisas mais inusitadas acontecem. Este homem é João Batista,  vivido brilhantemente pelo ator Charlles Lima. Eu bem que tentei, mas é impossível definir o itinerante espetáculo Apocalipse realizado pela Cia da Estrutura em poucas palavras. Para quem não sabe, a Cia da Estrutura também foi responsável pelas montagens "Mulheres de Nelson", "Vem!"  e "Hoje tem Espetáculo". Ousadia é um ponto marcante nos trabalhos deles. Não tem como sair do recém inaugurado Escombro Centro Cultural e permanecer indiferente. Ao ver o João ser constantemente humilhado questionamos porque assistimos muitas coisas de braços cruzados. Por que o Brasil ficou desse jeito? Por que o ser humano é desse jeito? Apocalipse é o tipo de peça que você ama ou odeia, não tem espaço para o mais ou menos. É chocante do início ao fim. Para os moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro até então carentes de um espaço cultural e que gostam de surpresas, a peça escrita por Izaac Erder e Márcio Zatta e dirigida por Márcio Zatta é um prato cheio por justamente sair do lugar comum; em vez de uma estória propriamente dita, eles se aproveitam das situações, sendo a reação do público,  uma peça fundamental neste jogo.  É muito bom ver artistas como Charlles Lima, Fellipe Gonçalves, Helen Maltasch, Otto Caetano, Carol Mattos, Henrique Ramalho e Stefanie Durval, no geral, com boas expressões faciais e também corporais se despindo de qualquer pudor, orgulho e vaidade em prol dessas riquíssimas  e exigentes personagens. Eu conferi e recomendo. Aproveitem que a temporada está acabando. 


domingo, 16 de fevereiro de 2014

Edypop

Mapa astral, alfabeto grego espalhados pelo chão, um globo ocular gigante e manifestantes mascarados marcam a mais nova produção da Aquela Cia de Teatro.
Edypop, que insere no drama grego críticas ao atual momento político brasileiro, não conta necessariamente a história de Édipo, mas a de seu pai Laio.
A peça possui excelentes interpretações de Remo Trajano (Laio), Letícia Spiller (Jocasta), João Velho (Édipo) e Jorge Caetani (Freud). O musical traz canções de John Lennon;
Laio representa o Estado fragilizado, enquanto a própria força se encontra na Jocasta.











sábado, 8 de fevereiro de 2014

A Primeira Dama da Costa Bela

No dia 02 de fevereiro assisti o espetáculo “A Primeira Dama de Costa Bela” do Davi Giordano. Primeiramente, muito me agrada ver no teatro uma peça que aborde a América Latina, e mais do que isso, consegue refletir suas peculiaridades e contradições, num momento em que as influências que sofremos são nitidamente norte-americanas.

Trata-se da história de uma primeira dama, impedida de pintar porque sua arte é uma ameaça política para o partido de seu marido. É bem interessante como a trama desdobra, a ponto dela, no final do espetáculo, tornar-se a presidente e ele ser o sensurado da vez, mostrando que tudo depende de quem está no poder.


Uma cadela que se chama Evita (alusão à EVITA, outro texto de Davi Giordano e também uma suposta influência que Costa Bela sofreria da Argentina, como se pode ver na versão de “Não chore por mim, Argentina”).


O texto e a direção possuem uma ousadia ímpar. Uma boa sacada de Davi Giordano foi colocar em duas obras que assisti (Evita e A Primeira Dama da Costa Bela), a mãe, personagem sempre marcante em qualquer narrativa, o ponto forte da mulher, sendo interpretada por um homem, e a trilha sonora, representando a teledramaturgia latina, o que veio a somar com o melodrama,implantado na medida certa. 

Seria interessante, que a exemplo dos nossos vizinhos do Cone Sul, outros dramaturgos focassem também na temática latino-americana devido aos últimos acontecimentos ocorridos como a morte de Hugo Chavez, a escolha do primeiro Papa latino americana e as revoluções que estão ocorrendo em solos brasileiros. Para que isso aconteça, a caminhada será longa. Mas, por hora fico muito satisfeito em ver que alguém está escrevendo sobre a América Latina, tão esquecida no teatro e que os trabalhos do Davi, seja Evita ou A Primeira Dama da Costa Bela, são de extrema qualidade. 




Dueto Para Um

Sem dúvidas, o SESC de Copacabana é um reduto dos bons espetáculos. No dia 24 de novembro ocorreu por lá o último dia de apresentação da peça “Dueto Para Um”, que agora em cartaz no Teatro do Jockey em curtíssima temporada. O texto é de Tom Kempinski  e está sob a  direção da atriz Mika Lins. É inspirado na história de Jacqueline Dupré, uma das maiores violinistas do século XIX, que na peça se chama Stephanie, sendo interpretada por Bel Howarick, que ganhou merecidamente o Prêmio APCA 2010 de melhor atriz. A personagem é extremamente apaixonada por seu ofício e no auge da carreira se viu limitada devido à esclerose múltipla e por insistência do marido procurou o psiquiatra Feldmann interpretado brilhantemente por Marcos Damigo.


Ela, esconde por trás do sarcasmos que carrega e do tom grave da voz uma mulher fragilizada e com medo de não conseguir acompanhar o marido. O psiquiatra a confronta o tempo todo, mostrando que outros caminhos existem e que ela pode se adaptar. O problema é esse, ela não quer se adaptar, não quer ser pela metade, quer ser uma mulher inteira para tocar o violino. Trata-se de uma batalha dura pela vida. Apenas quando ele explode e diz as verdades que ela precisava, mas não queria ouvir, é que a ficha começa a cair. 

Os figurinos de cores neutras conseguem igualar a paciente e o médico na condição de humanos, e mais ainda, o fato de estarem vestidos como concertistas nos leva a encarar os personagens como maestros. O texto é impactante e proporciona ao espectador uma reflexão sobre os limites do ser humano, que sem saída, cogita a hipótese do suicídio. No decorrer das sessões de terapia, o publico percebe o avanço da doença através dos olhos, das mãos e das posturas da atriz. Percebe em seus olhos que às vezes da vontade de resistir e às vezes da vontade de resistir. É aí que ele, sensibilizado com a dor da paciente, marca mais uma consulta. 



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