segunda-feira, 4 de junho de 2018

Artistas da Zona Norte

Zona Norte Presente! 



    Cresce o número de eventos literários no Rio de Janeiro, mas o espaço preenchido por autores da Zona Norte ainda é aquém do esperado. Os motivos para esta lacuna são discutidos por escritores como Adriano Soares, Brunno Vianna, Karla Antunes, Mc Martina, Pedro Marinho, Rodolpho Gabry, que consideram a existência de um isolamento regional. Os artistas da Penha frequentam somente os eventos da Penha e os da Tijuca permanecem na Tijuca. É visto, porém, que timidamente novos ares começam a aparecer. Neste sentido, o Sarau do Bar além de chamar a atenção dos artistas da Ilha do Governador, onde ocorre bimestralmente, já atrai olhares de artistas de outras regiões, visto que a última edição do sarau contou com o lançamento do livro Perdas e Ganhos do popular Bruno Black. 

      A ausência de espaços promovidos pelo poder público para que a literatura alcance outro patamar é a principal queixa da escritora. Os escritores Adriano Soares, Brunno Vianna e Rodolpho Gabry fazem coro. É um equívoco pensar que a Zona Norte produz pouco. O que existe é uma descentralização da cultura local e pouco incentivo da leitura e da escrita. O escritor Pedro Marinho, que trabalhou em duas unidades de uma grande rede de livrarias, sendo uma na Zona Norte e outra na Zona Sul, ressaltou que não só o número de compradores  desta é maior, mas o número de frequentadores também. A falta de leitores ou de uma política que forme novos leitores está ligada diretamente ao fato de possuirmos na Zona Norte do Rio de Janeiro poucas livrarias e espaços culturais. 

    Os lançamentos de livros, o microfone aberto, as apresentações de Teatro e Dança, o CoNcUrSo De PoEsIa InStÂnTâNeA e as demais apresentações  reafirmam a capacidade de reinvenção de Karla Antunes, a organizadora do Sarau do Bar, que agora é realizado no Condomínio Santos Dumont. Em tempos em que é comum constatar a desvalorização da cultura, o Sarau do Bar mantém o crescimento e agrega todos os tipos de artistas. Para atrair novos olhares ao seu projeto, Karla não abre mão das redes sociais, acreditando que elas podem ampliar as vendas de livros. 


   Brunno Vianna, vencedor de uma das edições do CoNcUrSo de PoEsIa InStAnTâneA do Sarau do Bar e do Concurso Literário Machado de Assis enfatiza a importância desses concursos na descoberta de novos nomes da literatura. O poeta organizou recentemente em parceria com Dilson Lopes o I Concurso Literário promovido pela Biblioteca Comunitária Conceição Maria Lopes. Karla Antunes conquistou a terceira colocação. O vencedor, Edson Gama, também é morador da Zona Norte do Rio de Janeiro, que contou com outros classificados como Danilo Maia, Deborah Rocha e José Pontes. 

     O reduzido número de livrarias, editoras e plataformas encarecem o acesso aos livros. Carecemos sim de políticas públicas, mas não é por isso que os escritores podem jogar suas frustrações nas costas do governo. Se a quantidade de escritores nacionais publicados ainda não é satisfatória, a poesia falada encontra cada vez mais adeptos através do slam (batalha de poesias), que revelou nomes como Mc Martina. Hoje, em parceria com o irmão ela organiza o Slam Lage, que completou um ano recentemente. No pouco tempo de existência mostrou o quanto o Morro do Alemão estava sedento por arte. 

      O Slam Lage é uma forma eficaz da favela dialogar com a própria favela, mas não é apenas isso que Mc Martina almeja dentro desses eventos. A ideia é levar o Slam Lage também para as ruas para que o estado inteiro conheça e reconheça a voz da favela. O empenho da artista já é valorizado, inclusive, pela mídia televisiva. Ela chegou a participar do programa Criança Esperança e Conversa com Bial, ambos da TV Globo.



      Pode-se dizer que o espaço ainda é muito fechado para os escritores da Zona Norte, mas encontrar uma brecha é possível. Se os entraves são grandes, por outro lado, artistas como os citados nesta matéria fazem a diferença, sobretudo, na vida dos demais artistas que os rodeiam. A literatura brasileira para muitos padece, mas cada escritor tem diante de si um papel, uma caneta, as tecnologias, a sua voz e o mundo inteiro, basta ter a coragem de ocupar o que for possível, basta entender que a cultura da Zona Norte do Rio de Janeiro não é linear e buscar novos caminhos para fazê-la acontecer.