quarta-feira, 4 de maio de 2016

Partículas de Um Qorpo Santo

É comum nos editais das escolas de artes cênicas constarem nomes como Ionesco e Beckett, alguns dos principais nomes do Teatro do Absurdo no mundo. Todavia, pouco se fala dos autores brasileiros que seguem esta linha. O primeiro do Teatro do Absurdo no Brasil foi Qorpo Santo, pseudônimo de José Joaquim de Campos Leão (1829 – 1883).  Apesar de tanto tempo, este é um dramaturgo que ainda está sendo descoberto. Os números de montagens de espetáculos de sua autoria foram aquém do esperado, se considerarmos que Qorpo Santo era um dramaturgo à frente de seu tempo.

O diretor Márcio Zatta, conhecedor do Teatro do Absurdo não poupou tempo e nem os atores (Roberto Meniguelo, Dayane Céa, Matheus Pinho, Felipe Gonçalves e Ítalo Leal) para trazer à cena no CATP (Taquara - Rio de Janeiro) um espetáculo inspirado na polêmica, insana e incompreendida obra de Qorpo Santo. O próprio nome da peça (Partículas de um Qorpo Santo) reforça a complexidade do dramaturgo e as mais variadas visões que se pode ter a respeito dele, afinal “Partículas de um Qorpo Santo” não é “Partículas do Qorpo Santo”. Da mesma forma, escancara que se trata de um fragmento com devidas intervenções, lembrando que Qorpo Santo era a favor de intervenções em sua dramaturgia.

Como era de se esperar a peça é repleta de movimentos. O ritmo é frenético, intenso. Apesar disso, nenhum dos atores demonstra cansaço em cena. Foge da linearidade e do maniqueísmo e adota um tom farsesco. Os cuidados com as marcações e com as ações / reações dos atores foram notáveis. Prevalece, com certo louvor, a ausência de comunicabilidade. Os egos e interesses humanos  são apresentados  nas figuras de Matheus e Matheusa que aos cinquenta anos de casamento trocam acusações, e também nas figuras das filhas Silvestra, Pedra e Catarina, interpretadas por homens.


Ao meu ver o absurdo não isenta o realismo, soma-se a ele. É a pincelada deste realismo tão absurdo que faz o público se identificar, vez ou outra, com a rotina das personagens, proporcionando uma crítica atemporal aos casais que se aturam.