É
comum nos editais das escolas de artes cênicas constarem nomes como Ionesco e
Beckett, alguns dos principais nomes do Teatro do Absurdo no mundo. Todavia,
pouco se fala dos autores brasileiros que seguem esta linha. O primeiro do
Teatro do Absurdo no Brasil foi Qorpo Santo, pseudônimo de José Joaquim de
Campos Leão (1829 – 1883). Apesar de
tanto tempo, este é um dramaturgo que ainda está sendo descoberto. Os números
de montagens de espetáculos de sua autoria foram aquém do esperado, se
considerarmos que Qorpo Santo era um dramaturgo à frente de seu tempo.
O
diretor Márcio Zatta, conhecedor do Teatro do Absurdo não poupou tempo e nem os
atores (Roberto Meniguelo, Dayane Céa, Matheus Pinho, Felipe Gonçalves e Ítalo
Leal) para trazer à cena no CATP (Taquara - Rio de Janeiro) um espetáculo inspirado na polêmica, insana e
incompreendida obra de Qorpo Santo. O próprio nome da peça (Partículas de um
Qorpo Santo) reforça a complexidade do dramaturgo e as mais variadas visões que
se pode ter a respeito dele, afinal “Partículas de um Qorpo Santo” não é “Partículas
do Qorpo Santo”. Da mesma forma, escancara que se trata de um fragmento com
devidas intervenções, lembrando que Qorpo Santo era a favor de intervenções em
sua dramaturgia.
Como
era de se esperar a peça é repleta de movimentos. O ritmo é frenético, intenso.
Apesar disso, nenhum dos atores demonstra cansaço em cena. Foge da linearidade
e do maniqueísmo e adota um tom farsesco. Os cuidados com as marcações e com as
ações / reações dos atores foram notáveis. Prevalece, com certo louvor, a
ausência de comunicabilidade. Os egos e interesses humanos são apresentados nas figuras de Matheus e Matheusa que aos
cinquenta anos de casamento trocam acusações, e também nas figuras das filhas
Silvestra, Pedra e Catarina, interpretadas por homens.
Ao
meu ver o absurdo não isenta o realismo, soma-se a ele. É a pincelada deste
realismo tão absurdo que faz o público se identificar, vez ou outra, com a
rotina das personagens, proporcionando uma crítica atemporal aos casais que se
aturam.