segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Francisco - do tempo em que se nascia bufão

FRANCISCO – DO TEMPO EM QUE SE FAZIA BUFÃO encerrou recentemente uma belíssima temporada no Teatro Ipanema. A peça contou com elenco formado por O elenco é formado por Poliane Phifer, Cleyton Diir, Jefferson dos Santos, Lucas Botelho, Marcele Nogueira, Rafael Ribeiro, Tamara Innocente, Thales Sauvo e Vinícius Domingues. A dramaturgia e a direção ficam a cargo de Ângelo Faria Turci. A roupagem medieval, os trejeitos peculiares das personagens e a suave musicalidade levaram ao espetáculo do Theatrum Mundi, muita poesia e um caráter intimista. O espectador se diverte e se emociona do princípo ao fim com a tragetória da trupe faminta que deseja montar a história de São Francisco de Assis. Durante o processo, os atores, enfrentam, além da fome, a solidão, o frio e o medo que o tempo passe e perdas de bons amigos. A grande mensagem, é que aconteça o que acontecer, o teatro tem que continuar... E que venham os aplausos! 


Entrevista com a escritora Débora Zambi

Desde que resolvi retomar meu blog, pensei em entrevistar artistas completos. Este é o caso de Débora Zambi, que lançou o livro “Aos Olhos do Poeta” na Bienal do Livro (RJ) e agora começa a descobrir o mundo do teatro. Como estão sendo essas descobertas? Como era a Débora antes do teatro e como é a Débora depois do teatro?
Fascinante, antes eu era um ser a procura de algo, hoje encontrei meu ser em algo que é o teatro! Ele me trouxe vida e abriu meus horizontes, posso ser tantas em uma só, posso manifestar minhas insatisfação ou satisfação através da arte!

Poeta ou poetisa?
sou poetisa, é assim que gosto de me titular , sei que tem colegas que gostam de serem chamadas de poetas, mas eu confesso sou feminista, acho que cada um gênero e eu uso o meu!

Além de escrever, produzir, ministrar palestras, e agora atuar, você é mãe. Como consegue conciliar? Como o seu filho lida com tudo isso?
Quando você ama o que faz e realmente quer se dedicar a isso, arruma um jeito.  O segredo é se programar, minha vida é toda programada. Nas horas vagas eu estudo e posso contar com meu esposo excelente que divide as tarefas do filho comigo! Enquanto meu filhote , ele me surpreendeu a primeira vez super adora me acompanha nas agendas culturais , algumas que dar pra levar eu o levo, ele é apaixonado por teatro , já assistiu todas as minhas apresentação do infantil com meu palhaço , ele vibra em todas elas como se fosse a primeira vez, participa, opina , descobri que ele é um ator nato , já fizemos uma série de web juntos ele como personagem principal , deve estrear esse ano pelo cine oportunidade e no teatro participa comigo em alguns ensaios! Ele adora a arte! isso facilita, já que não tenho empregada nem babá.

Vejo que andas mergulhada no universo infantil. Pode falar alguma coisa sobre o livro que está escrevendo para crianças? De alguma maneira, o seu filho influencia nesta empreitada?
Meu filho é claro que me influenciou, a maternidade tem isso, queremos fazer algo para melhorar a sociedade que deixaremos para os nossos. Me tornei mais sensível às coisas ao meu redor, o mundo ganhou um colorido. O universo infantil é mágico. Quando fui convidada para fazer teatro pela minha querida amiga e diretora Sany Baroni, ganhei dela de presente o palhaço Carambola; fui percebendo que esse dom de lidar com as crianças vem de tempos em mim , já trabalhei em diversas áreas com crianças e o Carambola me fez achar esse equilíbrio , a troca com elas é fascinante, a recompensa, a sinceridade me fizeram querer muito escrever para elas; pensei em algo como poesias, Uma história divertida com o Palhaço Carambola, mas acredito e afirmo por experiência própria, que o escritor não escreve o que ele quer mas sim algo que a sociedade precisa , não que poesia para crianças esteja descartada mas no momento veio uma linda história infantil que acabei de publicar e será adaptada para o teatro.

É sobre o que?
É sobre o povo indígena , um amigo que morou em minha casa em Araruama na região dos lagos era um indígena da tribo ticuna em Manaus ele me influenciou com suas histórias sobre seu povo e muito queria falar de nossas raízes, nosso povo, uma princesa sem ser da Disney, de fora, mas Brasileira com que as nossas crianças se vejam, se identificam e não com esse estereótipos que a sociedade nos impõe, minha diretora também tem a mesma visão de teatro, então nós unimos com propósito de levar a nossa Brasilidade na arte!

De onde surgiu a ideia de interpretar o palhaço Carambola?
A idéia surgiu da minha diretora de teatro, Sany Baroni que interpretava e dirigia a peça, um belo dia ela decidiu só dirigir e me fez o convite que aceitei imediatamente!
Como disse meu pai que nunca imaginou na família ter um palhaço , na verdade nem eu, ele ganhou vida própria e foi pra rua !

O que te levou a escrever?
Os amigos. Me lembro o dia do primeiro aniversário do meu filho que fiz uma homenagem a ele lendo o poema que escrevi assim que ele nasceu, todos aplaudiram e disseram que eu tinha que publicar um livro pois eu tinha o dom da poesia , das palavras, família e amigos sempre pediam que eu fizesse um poema para homenagear alguém ou alguma coisa, até minhas sobrinhas tem poema, cada um da minha família me inspira de alguma forma, escrevo desde que me entendo como gente , desde muito pequena eu lia muito e escrevia histórias , poemas, sou de uma época da caneta e papel, envelopes de cartas, coleção de papel de carta, cartões, enfim de pessoas que escreviam e liam o tempo todo, hoje com o teclado e computador, facilitou para um lado e impossibilitou para outro, sou da época das pesquisas em bibliotecas físicas e livro emprestados , acho que isso criou um hábito e contribuiu para quem sou.

Quanto tempo você demora para escrever um livro?
Depende muito, levei seis meses para escrever um romance , o de poesias levei um ano, mas um poema escrevo e um ou dois dias dependendo se ele vem pronto como na maioria das vezes, se não vou escrevendo ao longo do que é me passado fielmente pela inspiração.

Lançar um livro na Bienal certamente faz a diferença na carreira de um escritor. Como foi a repercussão do livro por lá? Também lançou em outros lugares? Quais?
Sim, A bienal para a maioria dos escritores é um marco na carreira, é a consagração , vi alguns amigos escritores dizendo ao contrário, que era só um tipo de comércio, eu discordo , lá é que estão reunido todos os leitores compulsivos , de todas as idades e gostos. Lancei no Espírito Santo, fui para uma rádio de lá falar sobre meu trabalho , fui recebida pela prefeita e secretárias de educação e cultura, deixei dos livros , uma para biblioteca municipal da cidade e outra para a escola de ensino fundamental da mesma que me acolheu e abriu as portas para o evento , já que o teatro municipal estava em obras, lancei o livro na Arena da pavuna e recebi vários convites para noite de autógrafos, como o do Cedine , centro estadual dos direitos dos negros, minha agenda ficou tão lotada que o ano foi pouco para a divulgação do meu livro e graças a minha participação na bienal , fiquei conhecida e irei este ano para São Paulo receber uma comenda por ter se destacado minha área como a melhor do Brasil, representando o Rio de Janeiro, tudo isso graças à bienal!

Em Brasília, apoiou a marcha das Mulheres Negras com poesias que trabalham a inclusão. Vejo que a poesia é usada cada vez mais como uma arma contra as injustiças. Através da poesia, podemos fazer críticas aos nossos governantes e chamar a atenção da população. Você acha que o povo gosta de poesia? O que podemos fazer para chamar mais atenção, para que ouçam a nossa voz?
Sim, acredito fielmente que a poesia , num todo a arte tem que ser um instrumento nas mãos do artista para a mudança de um povo, tenho uma convicção de que a arte seja ela na música, na poesia, no teatro, no cinema, tem por sua existência a transformação do mundo, nela podemos gritar, falar, discordar, fazer valer nossos direitos perante a sociedade, que pena que não vejo isso em emissoras de televisão que ao invés de abrir a mente de um povo os aprisionam ainda mais, faz tempo ou anos que não assisto canal aberto, vejo que é manipulação para a elite. Com minhas poesias fui as ruas de Brasília , lutar pelos direitos das mulheres negras, que são as maiores vítimas de uma sociedade machista e preconceituosa, acredito que é nas ruas que devemos gritar pelos nossos direitos é nela que devemos nos fazer ser ouvidos. O poeta é um desbravador de mares e continentes, o que realmente me incomoda é ver nas redes sociais alguns amigos elogiando um outro país sobre cultura, uma pessoa que recebeu um dom , estudou e pagou os estudos com a ajuda do governo no mínimo teria que retribuir o que lhe foi dado de bom grado , o problema não é o lugar e sim as pessoas que não se esforçam pra fazer dele o melhor, digo isso de pessoas que se quer colocaram a cara a tapa nas ruas, defenderam uma causa ou se quer se expõe ao sair de sua zona de conforto, como disse uma vez a minha diretora, Sany Baroni em uma conversa sobre o assunto o que falta é jovens como antigamente, que ao invés de falar mal iam as ruas lutar , mas tenho bastante amigos que seguram a causa e lutam por ela , como um amigo Pedro Gerolismich , que leva cultura as praças do Rio e agora tem o sarau da Utopia em Marica, estou muito feliz em ver a poesia nas ruas com saraus e poetas como nós, amigo Brunno, não deixamos a poesia morrer e vejo que tem crescido os grandes poetas que surgem a cada dia, isso sim vai difundir ainda mais a poesia, sei que muito temos por fazer para sermos ouvidos é um processo longo mas que está progredindo a cada dia e Viva a Poesia!

Você é frequentadora de saraus que acontecem pelo Rio de Janeiro. Quais costuma frequentar? O que há em um sarau, além de poesia?
Sim, sou frequentadora assídua. Frequento Arena Jovelina Pérola Negra na Pavuna, cinevuna da Pavuna, Biblioteca Paulo Freire Anchieta, Marica , sarau da Flizo e tantos outros que tem pela cidade e que recebo convite, além da poesia falada declamada tem a cantada, musicalizada e encenada resumindo teatro, dança, música, artistas plásticos e etc pessoas artistas de todas as áreas e principalmente chamados de artistas de rua

Você ganhou um troféu pelo poema “Sonhos e Fantasias. Pode falar um pouco sobre isso?
Ganhei em 2007 , um concurso de poesias pela editora moderna e junto com outros escritores meu poema fez parte de um livro de antologia! Isso bem antes dele fazer parte do meu primeiro livro Aos Olhos do Poeta.

É verdade quem em 2016 será condecorada com o título de Comendadora?
Sim, recebi no começo do ano a notícia de tal comenda, fruto da Bienal , é um evento da Brasilider que homenageia os melhores do ano do Brasil pessoas que contribuem para uma sociedade melhor engrandece a pátria, então em julho deste vou para São Paulo receber o título e troféu, me sinto honrada e feliz por essa comenda tão nobre , agradeço a Deus , quem me indicou ( não foi informado ) mas sei que quando é indicado corre um levantamento de dados antes de comunicar a pessoa indicada, aceitaram minha indicação me sinto feliz de estar sendo reconhecida em meu país pela Brasilider e o estado de São Paulo, é muito bom ser reconhecida em sua terra, na sua casa, antes de ir para exterior, muita gente foi premiada como a talentosa atriz Cláudia Rodrigues da globo , irei representar o Rio de Janeiro , com outros melhores do Brasil, Obrigada Brasil, obrigada família , obrigada minha editora perse, obrigada amigos , Obrigada São Paulo e Brasilider!

Geralmente você escreve poemas, mas publicou o romance João de Monte Belo. Do que se trata? Já tem data de lançamento?
Nunca ousei pensar escrever um romance, antes de ser escritora sou poetisa, ele veio como um conto e se desenvolveu como romance, foi uma experiência fantástica e única , enquanto escrevia eu era leitora ansiosa e compulsiva para esperar o próximo capítulo, a história é baseada em João brasileiro, trabalhador, lutador , mas com uma pitada surpreendente do destino que muda tudo, o romance tem um pouco do João da música do Legião Urbana, sempre me intrigou esse João, tive até um sapo com esse nome na parte do João e Viviam seu grande amor tem uma música que fecha sempre a cena Thousan, fui fiel ao que me foi passado a história , o lugar que se passa em Araruama região dos lagos, é uma história surpreendente que vai pegar o leitor até o final, meu primeiro leitor é uma das pessoas mais críticas que conheço e quando ele terminou de ler desceu em aplausos, como todo machado tem sua Carolina, meu esposo também é o crítico, leitor que me deu o ok que precisava para publicar, João de Monte Belo ainda não tem data marcada para o lançamento, acredito que depois de março terei acertado lugar , data e hora me acompanhe nas redes assim e ficará por dentro de tudo:, @deborazambioficial, blogue Poetisa Débora Zambi, fanpage Débora Zambi e Twitter @deborazambi email ar-gentina@ig.com.br

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Entrevista com Márcio Zatta

1)   Acredito que o teatro precisa provocar. O público pode gostar ou odiar, mas não pode sair indiferente. Das peças que assisti, a mais provocante, em todos os sentidos, foi Apocalipse. Então, venho aproveitar este espaço para entrevistar o diretor deste polêmico espetáculo. Márcio Zatta, em primeiro lugar, qual é a sensação de apresentar uma peça em uma casa, fazendo o espectador percorrer os diversos cômodos?

MZ: A sensação é de prazer pleno ao perceber que o objetivo foi e só seria atingido se o trabalho fosse realizado desta forma.  O espaço escolhido agrega questões fundamentais. O suspense causado por trafegar por entre locais desconhecidos, espaços distintos com formas geométricas também distintas, proporcionando a plateia uma observação prismática diferente, possibilidade de temperaturas e cheiros diversos em cada cena, maior proximidade entre o elenco e publico e em determinados momentos a inserção deste público nas cenas, entre outras.


2)   De onde saiu a ideia de montar Apocalipse? Como foi a preparação do elenco e a repercussão da peça?

MZ: A ideia surgiu em 2002. Eu recebi um convite para implantar um curso de teatro profissionalizante no interior de Minas Gerais, na cidade de Divinópolis. Quando estava por lá, conheci o autor e dramaturgo Izaac Erder e falei pra ele que estava afim de escrever uma peça de teatro que se passasse dentro de uma casa. Ele me perguntou se eu já tinha o argumento  e respondi que seria algo que mostrasse a realidade atual. Fui para o hotel onde estava hospedado e comecei a pensar. Foi aí que me veio a ideia de aproximar o apocalipse bíblico dos dias atuais e escrevemos a peça em parceria.

Cena de Apocalipse


Ensaiamos durante sete meses, cinco dias por semana. Mergulhamos no processo Artaudiano, pois eu queria pontuar o espetáculo em cima do Teatro da Crueldade e principalmente do Corpo sem Órgãos. Ensaiamos exaustivamente e fomos muito mais fundo nas cenas do que realmente levamos para a encenação, para que se tornasse uma coisa simples e cotidiana tudo o que acontecia na encenação para os atores, como se recebessem por osmose. E conseguimos atingir esse objetivo.
A repercussão do espetáculo foi a melhor possível, desde a primeira montagem em Vitória-ES, onde sites especializados do teatro local, costumam pontuar que “Apocalipse” marcou época no teatro capixaba e até hoje sou procurado por estudantes capixabas de teatro para falar sobre o processo de montagem da peça. Aqui no Rio, da mesma forma. Sempre pedem para a peça voltar. No final do ano passado o processo de montagem da peça serviu para a tese de uma estudante de Técnicas de Prevenção contra Acidente no Trabalho. Ou seja a repercussão foi ótima.

3)   No que diz respeito às reações dos espectadores, o que foi mais inusitado em Apocalipse?

MZ: Como disse, as cenas geram uma proximidade intensa e muitas vezes interativa com o espectador. O espetáculo é constituído essencialmente de cenas muito fortes e realistas. O que causa emoções e sensações diversas na plateia. Já aconteceram situações fantásticas entre elenco e plateia e entre os próprios espectadores com eles mesmos. Exemplos: Términos de relacionamentos de casais, por motivo de ciúmes, dentro da cena do Inferno, ao mesmo tempo que várias pessoas interagiam com o elenco desta cena, vômito de um espectador na cena dos Fanáticos Religiosos, uma pessoa pedindo para sair por não suportar ver as humilhações que acontecem na cena da Prostituta Maria Madalena, choro compulsivo de espectadores na cena da Criança, entre outros acontecimentos. Em resumo, a cada apresentação, surpresas e situações inusitadas podiam acontecer e geralmente aconteciam.



4)   Você também montou As Mulheres de Nelson que ficou em cartaz na Sala Atores de Laura. Pretende voltar com Apocalipse e/ou Mulheres de Nelson? Pode falar um pouco sobre os seus projetos atuais?

MZ: Sim, estivemos com “Mulheres de Nelson” na Sala Atores de Laura e também no Rampa Lugar de Criação, em Copacabana. Além de percorrermos alguns Festivais, onde a receptividade da crítica especializada, a classe artística e público em geral foi muito boa. Pretendemos voltar sim tanto com Mulheres de Nelson e também Apocalipse.

Cena de Mulheres de Nelson
Cena de Mulheres de Nelson


Em 2015, a Cia. Teatro da Estrutura, esteve parada, pois decidimos fazer uns trabalhos particulares que estávamos afim de realizar. Então desde junho do ano passado venho realizando dois projetos com a CATP – Cia de Arte e Teatro Popular, que tem sede em Jacarepaguá. O Projeto Práticas de Montagens, que leva a cada dois meses quatro cenas curtas à sede da CATP. Estas cenas na maioria das vezes são realizadas com alunos das oficinas da CATP, mas isso não é uma regra. A [única regra que existe é que as cenas primem pela qualidade e que os alunos possam executar na prática o que aprendem na teoria. Metodologia teatral, encenação de grandes autores e cenas autorais também. Já encenamos Pirandello, Suassuna, Nelson, Marquês de Sade, Strindberg, entre outros. O outro projeto chama-se Teatro na CATP, onde também a cada dois meses encenamos espetáculos de até 40 minutos de duração. No momento estamos com um espetáculo na linha do Teatro do Abusrdo, chamado “Partícula de um Qorpo-Santo”, onde peguei o texto “Matheus e Matheusa” e fiz uma adaptação, interferência e direção desta peça, que é do gaúcho Qorpo-Santo, considerado o primeiro ensaísta do Teatro do Absurdo.  

Cena de Partícula de um Qorpo-Santo




5)   Vejo nas peças que você dirige um pouco de Brecht, do próprio Teatro do Absurdo... Também vejo um pouco de Nelson Rodrigues. Quais são as suas referências?

MZ: Procuro desenvolver um teatro autoral, mas lógico que tem referências fundamentais para este desenvolvimento. Artaud, Brecht e Grotowski. Aqui no Brasil o Antunes Filho e na questão do Teatro Ritualístico o Zé Celso.

Cena de Mulheres de Nelson


6)   Na sua opinião, o brasileiro gosta de teatro? O que ele procura no teatro?

MZ: O brasileiro gosta de teatro. Mas com a massificação (super clichê isso, mas fazer o quê?) imposta pelos meios de comunicação, em especial a TV Aberta (Plim Plim), o brasileiro acaba buscando no teatro uma extensão do que vê na televisão. Ou seja ele não vai ao teatro pra ver uma grande encenação, um bom texto. Ele vai pra ver o ator X, a atriz Y, que são carinhas que entram em suas casas sem pedir licença, todos os dias pela TV.

Cena de O Grande Circo Imaginário


7)   O que você não colocaria em uma peça de teatro?

MZ: Um texto ruim. Acho fundamental a escolha de um bom texto, para que se conduza uma encenação relevante.

8)   O que é o Teatro da Estrutura?

MZ: O Teatro da Estrutura é um método teatral que criei e venho desenvolvendo desde 2007, quando morei em Curitiba com uma Cia. que levei de Vitória-ES pra lá. O nome do método acabou se transformando no nome da Cia. que criei em 2008 aqui no Rio.
O método “O Teatro da Estrutura”, falando de modo superficial e rápido, procura unir a verdade do ator, da personagem do texto e de uma terceira pessoa que tenha relação direta com o que é dito no texto. A junção destas três verdades, formam a “verdade absoluta” da personagem que vai pra cena. Aí pra chegar nisso existe uma infinidade de exercícios que venho desenvolvendo a nove anos.

Cena de Hierarquia, Nem Anjo Escapa

Cena de Senhorita Júlia

Cena de Pirandelo Reduzido e Ampliado




9)   Comecei a entrevista falando sobre a sua peça que mais me marcou, Apocalipse. Agora quero falar da primeira do primeiro trabalho seu que assisti. VEM! Por que esse nome? Você tem essa necessidade de escancarar as feridas do ser humano? O seu ego, as incertezas... As certezas, sempre tão frágeis... o estresse do dia-a-dia? Por quê? Quem é Márcio Zatta e o que ele quer mostrar ao público?

MZ: Então, Brunno. Coloquei esse nome VEM!, porque a cena fala de um chamamento que o ser humano precisa fazer pra si mesmo, pra que ele pare e veja o quanto ele tá envolvido e se preocupando demasiadamente com coisas que na maioria das vezes são completamente fúteis e desnecessárias à sua felicidade. A maioria destes seres humanos só percebem isso quando sofrem um derrame, um infarto, que os deixam com sequelas para o resto da vida.

Cena de VEM!


Sou um diretor de teatro que procura fazer o que acredita dentro do teatro. Costumo sempre dizer esta frase em relação ao teatro que desenvolvo: Pra mim o Teatro tem que tocar nas feridas e despertar questionamentos. Tem que colocar o público pra pensar. Transformar de alguma forma a sociedade em que vivemos. Acredita em um teatro cênico e principalmente pós cênico, onde o público saia do espaço de encenação pensando e refletindo sobre o que assistiu.

Cena de Decifrando Sade