terça-feira, 12 de maio de 2015

Favela - O Musical - um espetáculo que não vou esquecer


         Adeus é uma palavra que dói, mas precisa ser dita para que novas possibilidades venham a surgir. Assim, no seu auge, Favela – O Musical, espetáculo  que tive a oportunidade de assistir seis vezes, se despede em sua última temporada. Isso significa que Favela vai acabar? Claro que não! Afinal, ficará guardada em muitos corações, sobretudo no meu. 

O texto, a direção, o elenco, cenário, figurino... É tudo impecável, mas Favela é mais que isso. Um espetáculo de elenco numeroso que consegue manter um bom público dentro de seis temporadas sem ter um patrocínio, merece todos os aplausos possíveis. 

         Assim que comecei a lecionar, passei para uma determinada turma um trabalho de Sociologia: assistir Favela e fazer um debate em sala de aula sobre os contrastes sociais. Favela foi o primeiro espetáculo que alguns desses alunos puderam assistir e enriqueceu significativamente as minhas aulas.

         Favela foi, é e continuará sendo um sucesso porque representa não só a realidade das comunidades do Rio de Janeiro, mas representa o Brasil por inteiro, repleto de contrastes de cores e crenças, que se complementam. Favela é o lugar onde todo mundo cabe. Ficam nas lembranças, os momentos engraçados, os momentos tristes, verossímeis, e uma grande mensagem para os jovens. Fica a poesia, fica a música.  A vida é feita de escolhas. Eu escolhi ser Favela.  Como professor, espectador e artista, fica aqui o meu MUITO OBRIGADO!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Pela Pólis

         Peço licença poética porque hoje não quero falar de poesia, nem de cultura, mas de política. Ainda assim, estarei falando de cultura, porque sem cultura não tem política e sem política não tem cultura. A poetisa Wisława Szy já dizia que “somos filhos de uma época, e a época é política.” Tudo é política. Hoje, mais do que ontem,  nos bares e nas redes sociais, só se fala em política. Discursos de ódio fazem eco, tanto na direita quanto na esquerda, conceitos que se quebram gradualmente. Falar sobre política nunca é demais. Se falássemos mais, acredito que não precisaríamos de tantas greves e manifestações. Ainda assim, falar sobre política não é o suficiente para ser politizado. Não devemos reproduzir conteúdos, mas formular opiniões, considerando que não somos donos da verdade absoluta.

Falamos muito, mas o discurso é vazio. Ninguém pode discordar do PT? Ninguém pode discordar do PSDB? Ninguém pode defender alguma ação da Dilma que é chamado de “burro”? Bom enfatizar que não foi apenas o nordeste que votou em peso na atual presidente. O mesmo aconteceu com o Rio de Janeiro. Se o Nordeste fez esta escolha é porque ganhou alguma coisa durante os mandatos do PT. Bolsa Família? Pode ser!

 É fácil criticar a Bolsa Família quando se tem o carro do ano. Estranho é universitário que ganhou bolsa para estudar, criticar a Bolsa Família. Estranho é ver cantor que se beneficia da Lei Rouanet, do Banco do Brasil e da Petrobras, criticar a Bolsa Família. Também é fácil criticar o Mais Médicos quando se pode pagar um bom plano de saúde. Lembram quando apenas dois médicos se inscreveram pessoas se inscreveram para um concurso público do Macapá que contabilizava vinte vagas para o cargo?  Se os brasileiros não querem ir para o meio do mato, tem quem queira.

Por conta de algumas postagens minhas, já me chamaram de petista,  comunista e me acusaram de defender o terrorismo. Queridos, questionar um partido não significa estar a favor de outro. É uma pena que alguém pense assim. Sinto informar, mas a política não se resume a oito ou oitenta. Não sou petista. Não vou defender um partido que se corrompeu ao longo do tempo. Apontar as falhas do atual sistema capitalista não significa ser comunista, tampouco, socialista. Elogiar a medicina cubana é compactuar com alguma ditadura? Eu não sabia disso. Elogiar a educação cubana é defender terrorismo? Por que terrorista é sempre o outro? Por que terrorista é sempre o mais fraco? Dentro da História, quem jogou as bombas atômicas não foi Cuba.

         O meu partido é um coração partido. Não falo de PT, PSDB ou PMDB, falo do meu partido, partido ao meio, o meu Brasil dividido entre o capitalismo e o socialismo, como se ainda vivêssemos em uma Guerra Fria. Ressuscitaram o Plano Cohen e a fada Sininho. O mito de que o comunismo pode dominar o Brasil e os fantasmas do varguismo, sobretudo, do Estado Novo, continuam entre nós, sabe-se lá como. Os defensores do comunismo acreditam em uma utopia, um sistema que não se sustentaria; os do capitalismo, também, já que tem medo do sistema concorrente.

 A democracia brasileira engatinha e o povo tem memória curta, mas as ditaduras foram longas. Por muitos anos estivemos às marges do imperialismo norte – americano. Até o surgimento do Mercosul, não tínhamos uma brecha, uma válvula de escape. De três em três décadas, temos que tirar o presidente do poder. A independência do Brasil não foi fruto de luta popular, a inconfidência mineira, também não. O herói Tiradentes lutava pelos interesses da elite. Getúlio Vargas, ao mesmo tempo que foi pai dos pobres, foi mãe dos ricos. Para transformar o Brasil em cinco anos, Juscelino embarcou nas dívidas. Fernando Henrique Cardoso não foi o pai do Plano Real e  Fernando Collor continua atuando na política. No dia da consciência negra, a homenageada é princesa Isabel.

Pedem um impeachment, como se ele resolvesse todos os nossos problemas, como se o PT fosse o nosso maior problema. As consequências das políticas neoliberais caem de todas as formas nas costas de Dilma. Não se trata de defender o PT. Aliás, não defendo partidos políticos, defendo ideologias, no plural mesmo, a partir da bagagem que carrego de anos de graduação em História e pós – graduação em História e Cultura da América Latina. Esta bagagem me permite analisar diferentes pontos – de – vista e reconhecer o legado de cada governo.

É evidente que o PT cometeu e continua cometendo erros gravíssimos, mas como historiador, tenho que dar à César o que é de César, ou melhor, dar ao PSDB o que é do PSDB e dar ao PT o que é do PT. Sou a favor da reciclagem política. Mesmo assim, considero que o PT não é o nosso maior problema. O problema é acharmos que em caso de impeachment quem assume é Aécio Neves, quando na verdade, quem assume é Michel Temer do PMDB, partido que já tem a presidência da Câmara e do Senado, além de ser a maior máquina eleitoral do Brasil. A Dilma, ao menos, sofre com uma grande oposição dentro da Câmara. Com ela fora do jogo, e o Michel Temer assumindo, qual será a oposição do PMDB? Nenhuma. É um caso a se pensar.

         As manifestações são legítimas, asseguradas pela Constituição, mas dividem opiniões. Elas seriam frutos da insatisfação da população ou mera reprodução do discurso midiático? A mídia teria, hoje o poder de influenciar desta maneira parte da população, tal como ocorreu nos anos sessenta? E os partidos políticos? Eles também teriam esse poder? Por que um grupo pode se manifestar e o outro não pode? As mesmas pessoas que acreditam que as manifestações a favor dos professores em Curitiba podem ter sido articuladas pelo PT, garantem que a manifestação pró – impeachment foi idealizada pelo povo. Por que as nossas manifestações são mais importantes que as dos outros? Por que as nossas são do povo e as deles não? Pensem nisso...

         Vi gente batendo panelas. Não ouvia vozes, não ouvia gritos, apenas panelas. Gente que batia e se escondia atrás de cortinas. Vi gente nas ruas, com máscaras. Cada um se escondendo como pode... Está ou não está na hora do Brasil mostrar sua cara? Vi deputados questionando a Dilma. O mesmo deputado votou a favor da terceirização. Como é que pode? Vi em rede nacional pessoas desfilando com suásticas no dia 13 de março de 2015. Achei isso assustador. Mais assustador ainda foi a ausência de comentários.

         Professores foram massacrados pela política de Beto Richa em Curitiba. E não venham me dizer que caí no conto da opressão. Não precisa ir muito longe, não precisa sair do Rio de Janeiro para perceber que a opressão é um fato. Quem bateu panela a favor dos professores? Quem bateu panela a favor da educação brasileira que não anda muito bem das pernas? Ela não está bem, mas poderia estar pior. Já pensou se a educação no Brasil estivesse como está em Minas Gerais e Curitiba?  Independente do partido, os prefeitos e governadores deveriam aproveitar-se do lema “Pátria Educadora” e dar um amparo maior aos profissionais da educação. Aliás, não só os governadores e prefeitos, mas a própria Dilma, enfim, todos os políticos. Não se trata de um favor, se trata de obrigação, de respeito pelo cidadão brasileiro.