Peço licença poética porque hoje não quero falar de poesia, nem de cultura, mas de política. Ainda assim, estarei falando de cultura, porque sem cultura não tem política e sem política não tem cultura. A
poetisa Wisława Szy já dizia que
“somos filhos de uma época, e a época é política.” Tudo é política. Hoje, mais
do que ontem, nos bares e nas redes
sociais, só se fala em política. Discursos de ódio fazem eco, tanto na direita
quanto na esquerda, conceitos que se quebram gradualmente. Falar sobre política
nunca é demais. Se falássemos mais, acredito que não precisaríamos de tantas
greves e manifestações. Ainda assim, falar sobre política não é o suficiente
para ser politizado. Não devemos reproduzir conteúdos, mas formular opiniões,
considerando que não somos donos da verdade absoluta.
Falamos muito, mas o discurso é vazio. Ninguém
pode discordar do PT? Ninguém pode discordar do PSDB? Ninguém pode defender
alguma ação da Dilma que é chamado de “burro”? Bom enfatizar que não foi apenas
o nordeste que votou em peso na atual presidente. O mesmo aconteceu com o Rio
de Janeiro. Se o Nordeste fez esta escolha é porque ganhou alguma coisa durante
os mandatos do PT. Bolsa Família? Pode ser!
É fácil
criticar a Bolsa Família quando se tem o carro do ano. Estranho é universitário
que ganhou bolsa para estudar, criticar a Bolsa Família. Estranho é ver cantor
que se beneficia da Lei Rouanet, do Banco do Brasil e da Petrobras, criticar a
Bolsa Família. Também é fácil criticar o Mais Médicos quando se pode pagar um
bom plano de saúde. Lembram quando apenas dois médicos se inscreveram pessoas
se inscreveram para um concurso público do Macapá que contabilizava vinte vagas
para o cargo? Se os brasileiros não
querem ir para o meio do mato, tem quem queira.
Por conta de algumas postagens minhas, já me
chamaram de petista, comunista e me
acusaram de defender o terrorismo. Queridos, questionar um partido não
significa estar a favor de outro. É uma pena que alguém pense assim. Sinto
informar, mas a política não se resume a oito ou oitenta. Não sou petista. Não
vou defender um partido que se corrompeu ao longo do tempo. Apontar as falhas
do atual sistema capitalista não significa ser comunista, tampouco, socialista.
Elogiar a medicina cubana é compactuar com alguma ditadura? Eu não sabia disso.
Elogiar a educação cubana é defender terrorismo? Por que terrorista é sempre o
outro? Por que terrorista é sempre o mais fraco? Dentro da História, quem jogou
as bombas atômicas não foi Cuba.
O meu partido é um coração
partido. Não falo de PT, PSDB ou PMDB, falo do meu partido, partido ao meio, o
meu Brasil dividido entre o capitalismo e o socialismo, como se ainda
vivêssemos em uma Guerra Fria. Ressuscitaram o Plano Cohen e a fada Sininho. O
mito de que o comunismo pode dominar o Brasil e os fantasmas do varguismo,
sobretudo, do Estado Novo, continuam entre nós, sabe-se lá como. Os defensores
do comunismo acreditam em uma utopia, um sistema que não se sustentaria; os do
capitalismo, também, já que tem medo do sistema concorrente.
A
democracia brasileira engatinha e o povo tem memória curta, mas as ditaduras
foram longas. Por muitos anos estivemos às marges do imperialismo norte –
americano. Até o surgimento do Mercosul, não tínhamos uma brecha, uma válvula
de escape. De três em três décadas, temos que tirar o presidente do poder. A
independência do Brasil não foi fruto de luta popular, a inconfidência mineira,
também não. O herói Tiradentes lutava pelos interesses da elite. Getúlio
Vargas, ao mesmo tempo que foi pai dos pobres, foi mãe dos ricos. Para
transformar o Brasil em cinco anos, Juscelino embarcou nas dívidas. Fernando
Henrique Cardoso não foi o pai do Plano Real e
Fernando Collor continua atuando na política. No dia da consciência
negra, a homenageada é princesa Isabel.
Pedem um impeachment,
como se ele resolvesse todos os nossos problemas, como se o PT fosse o nosso
maior problema. As consequências das políticas neoliberais caem de todas as
formas nas costas de Dilma. Não se trata de defender o PT. Aliás, não defendo partidos
políticos, defendo ideologias, no plural mesmo, a partir da bagagem que carrego
de anos de graduação em História e pós – graduação em História e Cultura da
América Latina. Esta bagagem me permite analisar diferentes pontos – de – vista
e reconhecer o legado de cada governo.
É evidente que o PT cometeu e continua cometendo erros
gravíssimos, mas como historiador, tenho que dar à César o que é de César, ou
melhor, dar ao PSDB o que é do PSDB e dar ao PT o que é do PT. Sou a favor da reciclagem política. Mesmo assim, considero que o
PT não é o nosso maior problema. O problema é acharmos que em caso de
impeachment quem assume é Aécio Neves, quando na verdade, quem assume é Michel
Temer do PMDB, partido que já tem a presidência da Câmara e do Senado, além de
ser a maior máquina eleitoral do Brasil. A Dilma, ao menos, sofre com uma
grande oposição dentro da Câmara. Com ela fora do jogo, e o Michel Temer
assumindo, qual será a oposição do PMDB? Nenhuma. É um caso a se pensar.
As manifestações são legítimas,
asseguradas pela Constituição, mas dividem opiniões. Elas seriam frutos da
insatisfação da população ou mera reprodução do discurso midiático? A mídia
teria, hoje o poder de influenciar desta maneira parte da população, tal como
ocorreu nos anos sessenta? E os partidos políticos? Eles também teriam esse
poder? Por que um grupo pode se manifestar e o outro não pode? As mesmas
pessoas que acreditam que as manifestações a favor dos professores em Curitiba
podem ter sido articuladas pelo PT, garantem que a manifestação pró – impeachment
foi idealizada pelo povo. Por que as nossas manifestações são mais importantes
que as dos outros? Por que as nossas são do povo e as deles não? Pensem
nisso...
Vi gente batendo panelas. Não ouvia
vozes, não ouvia gritos, apenas panelas. Gente que batia e se escondia atrás de
cortinas. Vi gente nas ruas, com máscaras. Cada um se escondendo como pode... Está
ou não está na hora do Brasil mostrar sua cara? Vi deputados questionando a Dilma. O mesmo deputado votou a favor da terceirização. Como é que pode? Vi em rede nacional pessoas
desfilando com suásticas no dia 13 de março de 2015. Achei isso assustador.
Mais assustador ainda foi a ausência de comentários.
Professores foram
massacrados pela política de Beto Richa em Curitiba. E não venham me dizer que
caí no conto da opressão. Não precisa ir muito longe, não precisa sair do Rio
de Janeiro para perceber que a opressão é um fato. Quem bateu panela a favor
dos professores? Quem bateu panela a favor da educação brasileira que não anda muito bem das pernas? Ela não está bem, mas poderia estar pior. Já pensou se a educação no Brasil estivesse como está em Minas Gerais e Curitiba? Independente do partido, os prefeitos e governadores deveriam aproveitar-se do
lema “Pátria Educadora” e dar um amparo maior aos profissionais da educação. Aliás, não só os governadores e prefeitos, mas a própria Dilma, enfim, todos os
políticos. Não se trata de um favor, se trata de obrigação, de respeito pelo
cidadão brasileiro.