terça-feira, 22 de agosto de 2017

Entrevista com Gilberto Santos

Como eu gostaria que você tivesse me conhecido é o novo livro de Gilberto Santos e antes mesmo de ser lançado já está dando o que falar, tendo com um dos temas centrais o suicídio. Gilberto, o que te motivou a escrever sobre este assunto?

Não costumo escolher o tema para os meus livros, geralmente são eles que me escolhem. Um belo dia estava em casa, e essa ideia de que quando partimos desta vida e tudo aquilo que tentamos representar ficará eterna ou cairá no esquecimento? Foi dai que a ideia original do romance surgiu, se seria possível se apaixonar por alguém que já se foi….O suicídio então foi inserido na história a partir da ideia original sobre alguém que desesperadamente não consegue esperar o tempo natural dos acontecimentos. O tempo para encontrar o seu grande amor.

Não é só a literatura do Gilberto que carrega uma função social, mas o prórpio processe de divulgação e publicação seguem por este caminho, já que partir desta temática delicada você está contribuindo diretamente com a ONG CVV (Centro de Valorização à vida) Como a campanha funciona?

Resolvi que o melhor a ser feito na vida é sempre poder ajudar, e todos nós temos o dever cívico de contribuir através do engajamento seja ele qual for. Descobri a ONG depois de perceber que outras vozes merecem ser ouvidas, e como o tema do livro é crucial para alguém que sofre de depressão ou até mesmo aqueles que sucumbem a morte. A campanha funciona através da doação no site kickante, onde todos podem doar o quanto desejar.

Como tomou conhecimento da ONG?

Através da internet, e depois conversando com pessoas que já haviam dependido da sua ajuda.

Para escrever “Como eu gostaria que você tivesse me conhecido” você fez algum tipo de pesquisa com pessoas que tentaram suicídio ou que possuem, pelo menos, algum tipo de depressão?

Não, eu realmente mantive alguns aspectos da trama na ficção, tendo é claro contribuído através de histórias ou pessoas que tive o contato no passado que sofreram ou sofrem deste mal.

O escritor Ivan Alixandria que escreveu o prefácio do livro foi uma das pessoas que mais se empolgaram com o projeto. Pode explicar de que forma o livro mexeu com o Ivan e como você o convidou para escrever o prefácio?

Realmente ele foi uma das pessoas que conheci através do projeto do livro; fiquei lisonjado como ele abraçou a causa e a história, e essa foi também a razão que me fez convidá-lo para assinar o prefácio do livro que teria mudado todos nós envolvidos no projeto.

Como está sendo a repercussão do livro?

A repercussão do livro ainda estar por vir, mas a campanha é o foco do momento, este livro virou uma causa social.

Como é o seu processo de escrita?

Intuitivo 100%, não faço nada que não seja movido pela minha inspiração ou até mesmo intuição. Mas desde o momento que essa história surgiu sabia que tinha um grande sucesso nas mãos.

Antes de escrever “Como eu gostaria que você tivesse me conhecido”, você publicou outros livros de forma independente. No caso, foram livros de poesia.  Como foi essa transição de estilos e o que você mais gosta de escrever?

Sim é verdade Brunno, antes quando eu comecei a minha inspiração era somente para textos curtos, poesias no geral. Esse romance foi uma surpresa, me deixou muito feliz essa transição de estilos. Gosto de escrever, textos dos mais variados. Nesse momento estou ainda colhendo o que esse Romance/Paranormal poderá vir à trazer a minha curta carreira de escritor. Mas consigo prever uma grande mudança dentro de mim.

Você acha que a poesia no Brasil é desvalorizada? Por quê?

Infelizmente existe uma dificuldade para compreender esse gênero de escrita que acho belíssimo e dificílimo, e de pouca compreensão na grande maioria. O poeta é um ser que destoa das grandes massas, por isso elegi para o meu livro um personagem/ poeta e mártir no romance. Uma homenagem para todos que se sentem incompreendidos.

Como é ser escritor independente no Brasil?

Muito difícil, mas a grande maioria de artistas no Brasil passam por grandes provações até conseguir fazer a sua voz ser ouvida na multidão. Resta saber o quanto você ama escrever, isso irá ser determinante no quão longe você chegará.

Algum recado ou dica para os escritores independentes?

Persistir é a palavra do escritor independente. Se você ama o que faz, o prazer é somente uma questão de tempo para unir reconhecimento e talento.

Gilberto, muito obrigado pela entrevista e por tocar nesses em assuntos que permeiam a sociedade contemporânea.


domingo, 6 de agosto de 2017

A Fábrica dos Cem Mil

Prestigiar o trabalho dos alunos da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna é fundamental para a contuinuidade das ações realizadas por esta entidade, principalmente quando a cultura do Rio de Janeiro e do Brasil como um todo passa por momentos delicados com vários teatros e espaços culturais fechando as portas.

Os alunos da Martins Penna fizeram da resistência um gatilho para um bom espetáculo. A Fábrica dos Cem Mil carrega um elenco que mantém do começo ao fim uma cumplicidade ímpar com o espaço, a iluminação e a música.

Originalmente escrita em 1920, o  texto de Karen Tchápek continua atual. Discute o papel da mulher na sociedade contemporânea e as hierarquias, além de tecer breve crítica ao sensacionalismo presente nas mídias. Um texto que aborda as subordinações do dia-a-dia é complementado com os papéis espalhados pelo palco,  valiosa representação da inevitável burocracia.

Na prática são usadas as técnicas de Luigi Pirandello. As relações entre as personagens são quebradas e cada uma delas passa a contemplar a própria imagem e os próprios medos. O metateatro, que poderia ser mais explorado é uma boa ferramenta.

Percebe-se a consciência corporal coletiva quando uma caneta cai acidentalmente e o elenco compactua com uma riquíssima pausa e movimento de corpo até que a caneta fosse pega. Chegou a ser poético.

A montagem me proporcionou viagens lúdicas para universos e referências dramatúrgicas, literárias e até mesmo históricas, já que é possível trabalhar a partir do texto a Revolução Russa, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.

Uma coisa que destaco é a imagem do anjo devidamente identificada e eventualmente trocada de posição. Imediatamente lembrei de uma frase de Shakespeare: “Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume.”  A maior surpresa é que depois de pensar nesta citação deparei com uma rosa usada em cena.