domingo, 6 de agosto de 2017

A Fábrica dos Cem Mil

Prestigiar o trabalho dos alunos da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna é fundamental para a contuinuidade das ações realizadas por esta entidade, principalmente quando a cultura do Rio de Janeiro e do Brasil como um todo passa por momentos delicados com vários teatros e espaços culturais fechando as portas.

Os alunos da Martins Penna fizeram da resistência um gatilho para um bom espetáculo. A Fábrica dos Cem Mil carrega um elenco que mantém do começo ao fim uma cumplicidade ímpar com o espaço, a iluminação e a música.

Originalmente escrita em 1920, o  texto de Karen Tchápek continua atual. Discute o papel da mulher na sociedade contemporânea e as hierarquias, além de tecer breve crítica ao sensacionalismo presente nas mídias. Um texto que aborda as subordinações do dia-a-dia é complementado com os papéis espalhados pelo palco,  valiosa representação da inevitável burocracia.

Na prática são usadas as técnicas de Luigi Pirandello. As relações entre as personagens são quebradas e cada uma delas passa a contemplar a própria imagem e os próprios medos. O metateatro, que poderia ser mais explorado é uma boa ferramenta.

Percebe-se a consciência corporal coletiva quando uma caneta cai acidentalmente e o elenco compactua com uma riquíssima pausa e movimento de corpo até que a caneta fosse pega. Chegou a ser poético.

A montagem me proporcionou viagens lúdicas para universos e referências dramatúrgicas, literárias e até mesmo históricas, já que é possível trabalhar a partir do texto a Revolução Russa, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.

Uma coisa que destaco é a imagem do anjo devidamente identificada e eventualmente trocada de posição. Imediatamente lembrei de uma frase de Shakespeare: “Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume.”  A maior surpresa é que depois de pensar nesta citação deparei com uma rosa usada em cena.



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