Os recentes cortes nas
universidades federais estampam os noticiários e já mobilizaram centenas de
institutos e colégios federais no último dia seis, assim como acadêmicos de
mais de oitocentas universidades de todo mundo, entre elas, Harvard. Porém,
sabemos que desvalorização da educação brasileira não começou hoje. Também sabemos
que um corte na educação em qualquer circunstância fere o país. Depois de
analisar com o maior cuidado matérias de diversos veículos midiaticos e ouvir
pessoas da esquerda e da direita, principalmente, profissionais da educação,
resolvi escrever este texto.
O francês Le Monde e o britânico
The Guardian são alguns dos veículos externos que criticaram a ação de Bolsonaro,
destacando os ataques do Presidente às Ciências Humanas, principalmente
Filosofia e Sociologia. O doutorando Derick S. Baum, um dos autores da carta de
Harvard, assinada em tempo recorde por pelo menos oito mil sociólogos,
considerou as propostas de Bolsonaro como um ataque à democracia brasileira.
Certamente, as pessoas que defendem
os cortes carregam seus motivos para fazê-lo. Entende-se que entre esses
motivos estão as balburdias, enquanto compartilham imagens de pessoas nuas
dentro das universidades. Das imagens mais compartilhadas, uma, tirada na
Universidade de Brasília (UnB), trata-se de um protesto referente ao caso Geizy
Arruda, na época, expulsa da Universidade Bandeirante (UNIBAN), por usar um
vestido curto, em 2009. Neste caso, consta-se que os responsáveis foram
devidamente punidos pela reitoria. A
outra imagem, por sua vez, foi registro de um trabalho de Filosofia da
Universidade Estadual de Londrina, que justamente por ser estadual foge do
parâmetro federal.
O que precisa ser compreendido é
que esses acontecimentos se enquadram na exceção e não na regra. Uma
manifestação neste sentido é responsabilidade de um grupo isolado. Portanto, cabe
aos reitores das instituições tomarem suas providências punindo os
responsáveis. Não cabe ao governo atacar as instituições como um todo. Punir as
instituições é punir milhares de pessoas que querem de fato estudar.
Outros motivos que essas pessoas
citam são os erros dos governos anteriores, como se o erro de um governo
tornasse o erro do outro governo justificável, e por fim, a utilização de
verbas sem os devidos esclarecimentos. É claro que os gastos precisam ser
esclarecidos, que precisam nos prestar contas e que nós precisamos cobrar. Nenhum
cidadão de sã consciência é a favor que se empurre a verba educacional para de baixo
do tapete. Vale citar o rombo de 40 milhões da UFRJ.
Por outro lado, é notável que o
sufocamento das universidades federais é um projeto, afinal, quem está na vice-presidência
da Associação Nacional de Universidades Particulares é justamente Elizabeth
Guedes, irmã do ministro Paulo Guedes. Considerando as dimensões de uma universidade
pública, não é difícil constatar que as consequências dos cortes são nocivas
para a sociedade, já a curto prazo, em virtude, também do descaso perpetuado ao
longo dos anos.
Uma
universidade pública gasta com luz, água, limpeza, computadores, ar
condicionado, ventiladores, elevadores, lanchonetes, bibliotecas, cursos de
extensão, laboratórios, pesquisas variadas como as de célula-tronco, tratamentos
para Alzheimer e diabetes.
O
Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí foi a instituição mais
afetada pelo corte de verbas adotado pelo Ministério da Economia do governo
Bolsonaro, que cortou 100% dos R$ 7 milhões autorizados. O valor bloqueado seria
destinado à adequação de área para funcionamento da Unidade de Terapia
Intensiva Coronariana (UCO), o que permitiria a ampliação da capacidade de
realização de cirurgias cardíacas, vasculares, neurocirurgias e procedimentos
de hemodinâmica. Já a Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais, cortou
400 bolsas de auxílio moradia de alunos oriundos de outras cidades e fechou o
Restaurante Universitário.
A
UFRJ, considerada uma das melhores universidades não só do Brasil, mas também
da América Latina, estando na quarta colocação do ranking de produção
científica do Brasil, possui cento e trinta cursos, sessenta e sete mil alunos
de graduação, mil e duzentos laboratórios, quarenta e cinco bibliotecas, quinze
museus e um parque tecnológico. Ela vai sediar agora em maio o I Encontro
Latino-Americano de Pós-Graduação. Em contrapartida, vale destacar que a
universidade tem em seu histórico fortes denúncias de desvio de verba (50
milhões) pela reitoria.
O
colégio Pedro II, por sua vez, possui 14 campi no Estado do Rio de Janeiro. O
Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, é a maior unidade de Saúde da
Grande Niterói. Juntamente com a
FIOCRUZ, a UFF descobriu moléculas capazes de combater a leucemia. O programa
de pós-graduação desta universidade possui nota máxima na avaliação da CAPES. A
UFRRJ tem um projeto de extensão voltado para crianças autistas. Os alunos da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro ministram aulas para população de baixa
renda. A UNICAMP criou colírio que evita perda de visão dos diabéticos e um
remédio capaz de matar células do câncer de bexiga. Professores e alunos do curso de Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal do Ceará desenvolveram em 2018 um ketchup
feito a partir da acerola, ganhando prêmios no Salão Internacional da
Alimentação, na Feira de Negócios Inovadores, realizada em Paris. Parte dos
lucros obtidos com a venda do produto foi direcionada para instituições de
caridade.
Sendo
o governo do PSDB, do PT, do MDB, do PSL ou qualquer outro, um corte na
educação é sempre mais que um corte. Cortar verba de universidade federal é
cortar pesquisa, cortar saúde, cortar estrutura para que o professor possa
trabalhar, é cortar a inclusão, é cortar a esperança de uma nação.
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