sexta-feira, 24 de maio de 2019

Pequenos Burgueses


Eu estava fazendo uma pesquisa sobre os artistas russos, quando encontrei “Pequenos Burgueses”, peça de Máximo Górki em um sebo. Justamente pelo fato de ter pouco material de dramaturgia russa, comprei. Não foram as poucas vezes que comparei as conjunturas do tempo/espaço vinculados à obra, no caso, o período pré-revolucionário, com a realidade do Brasil contemporâneo. Sim, a obra, escrita em 1901 se mostra bem atual. Talvez as sociedades é que não tenham mudado tanto assim. 

O texto permite uma reflexão sobre a importância da Filosofia, sobre o armamento e o desarmamento de uma sociedade e sobre o assédio, temas recorrentes em nossos dias. Há um duelo de convicções e ideologias, estampado nas falas e nas das personagens, ainda que integrem o mesmo ambiente familiar.  As mulheres se mostram oprimidas pelas tradições burguesas. As não-casadas eram rejeitadas. Percebe-se, inclusive, o embrião da revolução na figura do proletário Nil.

“Pequenos Burgueses” foi uma das primeiras peças escritas por Gorki. Sofreu muito com a censura, que não conseguiu impedir o seu significativo sucesso no solo russo.  No Brasil, este foi o segundo espetáculo dirigido por Zé Celso do Teatro Oficina, em 1963.





terça-feira, 7 de maio de 2019

Sobre os cortes nas Universidades Federais


Os recentes cortes nas universidades federais estampam os noticiários e já mobilizaram centenas de institutos e colégios federais no último dia seis, assim como acadêmicos de mais de oitocentas universidades de todo mundo, entre elas, Harvard. Porém, sabemos que desvalorização da educação brasileira não começou hoje. Também sabemos que um corte na educação em qualquer circunstância fere o país. Depois de analisar com o maior cuidado matérias de diversos veículos midiaticos e ouvir pessoas da esquerda e da direita, principalmente, profissionais da educação, resolvi escrever este texto.
 O francês Le Monde e o britânico The Guardian são alguns dos veículos externos que criticaram a ação de Bolsonaro, destacando os ataques do Presidente às Ciências Humanas, principalmente Filosofia e Sociologia. O doutorando Derick S. Baum, um dos autores da carta de Harvard, assinada em tempo recorde por pelo menos oito mil sociólogos, considerou as propostas de Bolsonaro como um ataque à democracia brasileira.
  Certamente, as pessoas que defendem os cortes carregam seus motivos para fazê-lo. Entende-se que entre esses motivos estão as balburdias, enquanto compartilham imagens de pessoas nuas dentro das universidades. Das imagens mais compartilhadas, uma, tirada na Universidade de Brasília (UnB), trata-se de um protesto referente ao caso Geizy Arruda, na época, expulsa da Universidade Bandeirante (UNIBAN), por usar um vestido curto, em 2009. Neste caso, consta-se que os responsáveis foram devidamente punidos pela reitoria.  A outra imagem, por sua vez, foi  registro de um trabalho de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina, que justamente por ser estadual foge do parâmetro federal.
 O que precisa ser compreendido é que esses acontecimentos se enquadram na exceção e não na regra. Uma manifestação neste sentido é responsabilidade de um grupo isolado. Portanto, cabe aos reitores das instituições tomarem suas providências punindo os responsáveis. Não cabe ao governo atacar as instituições como um todo. Punir as instituições é punir milhares de pessoas que querem de fato estudar.
Outros motivos que essas pessoas citam são os erros dos governos anteriores, como se o erro de um governo tornasse o erro do outro governo justificável, e por fim, a utilização de verbas sem os devidos esclarecimentos. É claro que os gastos precisam ser esclarecidos, que precisam nos prestar contas e que nós precisamos cobrar. Nenhum cidadão de sã consciência é a favor que se empurre a verba educacional para de baixo do tapete. Vale citar o rombo de 40 milhões da UFRJ. 
          Por outro lado, é notável que o sufocamento das universidades federais é um projeto, afinal, quem está na vice-presidência da Associação Nacional de Universidades Particulares é justamente Elizabeth Guedes, irmã do ministro Paulo Guedes. Considerando as dimensões de uma universidade pública, não é difícil constatar que as consequências dos cortes são nocivas para a sociedade, já a curto prazo, em virtude, também do descaso perpetuado ao longo dos anos.

Uma universidade pública gasta com luz, água, limpeza, computadores, ar condicionado, ventiladores, elevadores, lanchonetes, bibliotecas, cursos de extensão, laboratórios, pesquisas variadas como as de célula-tronco, tratamentos para Alzheimer e diabetes.

O Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí foi a instituição mais afetada pelo corte de verbas adotado pelo Ministério da Economia do governo Bolsonaro, que cortou 100% dos R$ 7 milhões autorizados. O valor bloqueado seria destinado à adequação de área para funcionamento da Unidade de Terapia Intensiva Coronariana (UCO), o que permitiria a ampliação da capacidade de realização de cirurgias cardíacas, vasculares, neurocirurgias e procedimentos de hemodinâmica. Já a Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais, cortou 400 bolsas de auxílio moradia de alunos oriundos de outras cidades e fechou o Restaurante Universitário.
A UFRJ, considerada uma das melhores universidades não só do Brasil, mas também da América Latina, estando na quarta colocação do ranking de produção científica do Brasil, possui cento e trinta cursos, sessenta e sete mil alunos de graduação, mil e duzentos laboratórios, quarenta e cinco bibliotecas, quinze museus e um parque tecnológico. Ela vai sediar agora em maio o I Encontro Latino-Americano de Pós-Graduação. Em contrapartida, vale destacar que a universidade tem em seu histórico fortes denúncias de desvio de verba (50 milhões) pela reitoria.   
O colégio Pedro II, por sua vez, possui 14 campi no Estado do Rio de Janeiro. O Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, é a maior unidade de Saúde da Grande Niterói.  Juntamente com a FIOCRUZ, a UFF descobriu moléculas capazes de combater a leucemia. O programa de pós-graduação desta universidade possui nota máxima na avaliação da CAPES. A UFRRJ tem um projeto de extensão voltado para crianças autistas. Os alunos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro ministram aulas para população de baixa renda. A UNICAMP criou colírio que evita perda de visão dos diabéticos e um remédio capaz de matar células do câncer de bexiga.  Professores e alunos do curso de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará desenvolveram em 2018 um ketchup feito a partir da acerola, ganhando prêmios no Salão Internacional da Alimentação, na Feira de Negócios Inovadores, realizada em Paris. Parte dos lucros obtidos com a venda do produto foi direcionada para instituições de caridade.
Sendo o governo do PSDB, do PT, do MDB, do PSL ou qualquer outro, um corte na educação é sempre mais que um corte. Cortar verba de universidade federal é cortar pesquisa, cortar saúde, cortar estrutura para que o professor possa trabalhar, é cortar a inclusão, é cortar a esperança de uma nação.


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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Sobre azul e rosa desde preto e branco

Damares, a ministra da goiabeira, acrescentou em seu histórico mais um episódio inusitado. Teve destaque nas redes sociais um vídeo em que a ministra diz que "menino veste azul e menina veste rosa. Diante de tantos problemas que assolam o Brasil perante ausência de políticas públicas é de se estranhar que a ministra justamente dos Direitos Humanos queira impor qualquer coisa à sociedade. 

Até que ponto a cor de uma roupa pode representar a identidade de uma pessoa ou medir caráter?  Até quando o tamanho de uma roupa vai servir de justificativa para culpabilizar as mulheres que são violentadas física e moralmente todos os dias? Vestir roupa azul ou rosa não diz quem você é, mas o fato de querer que as outras pessoas vistam uma cor ou outra, diz muito sobre você.  

Permito-me nesta postagem, abrir um leque de dúvidas, considerando, num mar de hipóteses,  que a mesma teria usado uma metáfora, figura de linguagem, onde uma palavra é usada em um sentido que não é tão comum.  O fato de ser uma metáfora reduziria  a gravidade do discurso na conjuntura atual? De qualquer forma, sendo metáfora ou não, seria uma tentativa de enquadrar pessoas em esteriótipos.

Vejam abaixo a imagem de uma criança com um vestido branco. A criança em questão é Franklin Delano Roosevelt. Na época, os vestidos eram comuns em meninas, mas também em meninos, pelo menos até os sete anos de idade, assim como a cor rosa era mais usada por meninos e a cor azul era mais usada por meninas. Os cabelos dos meninos também eram cortados pela primeira vez nessa faixa etária. 


Casal de irmãos nos EUA em 1905 

Não faço esta postagem para polemizar ou incentivar nada, apenas aproveitei o ganho das últimas notícias para mostrar o quanto os costumes mudam com o tempo.