sexta-feira, 29 de maio de 2020

Três textos Sobre Viver


Condição, de Wilson Guanais

escrever
poemas
a gente
escreve

mas Poesia
mesmo
é mais
em Cima

deve ser
por isso que
(no avesso
de tudo)

a alma
Decanta
e o Poeta
Voa



Um Novo Tempo, de Clodoaldo Lima

Houve um tempo de terror onde os primatas ficaram confinados dentro das suas cavernas. Os guinchos de insatisfação eram frequentes, por não poder sair para selva.
A raiva tomava conta das famílias, os machos por não poder tomar o néctar das frutas com seus amigos, as fêmeas, por não ter as amigas para conversar; a “peste” não deixava.
Uma história sobre lobo mau e chapeuzinho vermelho? Não. Na sociedade dos macacos, onde os líderes de outros bandos lutavam pelo domínio de território, vários mordiam-se e agrediam-se pelo poder. Primatas rivais iam para o confronto a todo momento, ameaças e ataques de “fezes” ao rei. Por quê? Ele tratava a peste com desdém, diferente de outras florestas bem longe dali.
A macacada não podia andar em bando pela floresta, andavam sós. Havia caçadores cruéis à espreita que prendiam macacos em jaulas e os deixavam ainda mais enclausurados. Macacas “feiticeiras” cuidavam dos doentes, mas mesmo assim, macacos morriam aos milhares, anciãos iam primeiro e com eles, a sabedoria dos clãs.                                                    53
Símios sentiam-se cada vez mais perdidos com a grande batalha que enfrentavam, a “peste”, não perdoava, jovens começavam a partir. O rei dos macacos... pouco fazia. O curandeiro da grande floresta teve o cargo usurpado por fazer seu trabalho. Ele não gostou e colocou outro em seu lugar.
A “peste” não perdoava. A comida já beirava a escassez e os negociantes aumentavam os preços deixando os macacos tristes e nervosos. O tempo demorava a passar, e trancado em suas cavernas, os dias eram “incertos”. Os macacos “Merlins” estavam longe de descobrir a poção. A “peste” só aumentava.




Poema de ontem, de Brunno Vianna

As pessoas estão nas janelas
As cidades estão nas gavetas
As cores, na panela
As luzes, todas acesas
Abro as portas
Históricas-histéricas
Para sentir ainda
Sem as métricas
O poema de ontem.


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