Leitura, de Brunno Vianna
Leio pela janela do
ônibus os letreiros da cidade, leio o sinal fechado, leio a pressa das pessoas,
leio o medo, leio a saudade. Leio os contrastes sociais, um romance chaaaato,
leio o sono da moça de vestido verde, leio a senhora que entra agora com várias
bolsas nas mãos. A senhora também me lê. A imagem que ela carrega de mim neste
segundo secular talvez seja o tédio. Ela me lê e sorri. Ajudo com as bolsas,
leio cada uma delas. São bolsas recicláveis de mercado. Não estão muito pesadas.
Ela se senta ao meu lado. Leio o seu sentar. O sentar de quem caminhou ao meio
dia e encontra no transporte público o alívio... Aaaaahhhhhh... Ela boceja!
Leio o seu bocejo e bocejo. O bocejo é uma maravilha contagiosa. Ela lê o livro
estático em minha mão. Já não folheio. Ela pergunta o nome do livro. Leio sua
voz sussurrada em forma de espanto. Respondo bem baixinho. Ela reage como quem
diz: Livro chaaaato. Leio a Igreja, leio a história dela, que havia lido alguns
anos atrás em algum lugar. Foi construída de frente para o mar. Leio o mar, que
não mais existe ali. Leio a cidade!
F(ratura Exposta, de Wilson Guanais
a água
a luz
o gás
telefone
jornal
tv e...
tudo
“sujeito
a corte”
na
própria
carne
Recriação, de Clodoaldo Lima
Marcas sepultadas, foram tempos de terror.
O amor renasce, através das janelas.
Abraços armazenados esperando a hora de serem entregues.
Beijos ansiosos para serem distribuídos.
A boca molhada espera...
A mãe “verde” castigou o filho!
Que vermelho de vergonha, pede perdão.
As abas das janelas recebem!
Os pássaros que ensaiam o primeiro voo.
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