quinta-feira, 28 de maio de 2020

Três textos Sobre Viver


Leitura, de Brunno Vianna

Leio pela janela do ônibus os letreiros da cidade, leio o sinal fechado, leio a pressa das pessoas, leio o medo, leio a saudade. Leio os contrastes sociais, um romance chaaaato, leio o sono da moça de vestido verde, leio a senhora que entra agora com várias bolsas nas mãos. A senhora também me lê. A imagem que ela carrega de mim neste segundo secular talvez seja o tédio. Ela me lê e sorri. Ajudo com as bolsas, leio cada uma delas. São bolsas recicláveis de mercado. Não estão muito pesadas. Ela se senta ao meu lado. Leio o seu sentar. O sentar de quem caminhou ao meio dia e encontra no transporte público o alívio... Aaaaahhhhhh... Ela boceja! Leio o seu bocejo e bocejo. O bocejo é uma maravilha contagiosa. Ela lê o livro estático em minha mão. Já não folheio. Ela pergunta o nome do livro. Leio sua voz sussurrada em forma de espanto. Respondo bem baixinho. Ela reage como quem diz: Livro chaaaato. Leio a Igreja, leio a história dela, que havia lido alguns anos atrás em algum lugar. Foi construída de frente para o mar. Leio o mar, que não mais existe ali. Leio a cidade!


                                                                                           
F(ratura Exposta, de Wilson Guanais


a água
a luz
o gás

telefone
jornal
tv e...

tudo
“sujeito
a corte”

na
própria
carne



Recriação, de Clodoaldo Lima


Marcas sepultadas, foram tempos de terror.
O amor renasce, através das janelas.

Abraços armazenados esperando a hora de serem entregues.

Beijos ansiosos para serem distribuídos.
A boca molhada espera...

A mãe “verde” castigou o filho!
Que vermelho de vergonha, pede perdão.

As abas das janelas recebem!
Os pássaros que ensaiam o primeiro voo.

                                                                                            

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