domingo, 30 de agosto de 2015

Entrevista com Juka Garibaldi sobre Trekos Psicodélicos

 O entrevistado de hoje é uma figura, aliás, uma figura repetida. Entrevistei Juka Garibaldi em 2013, em 2014 e agora em 2015. O que aconteceu em sua vida, em sua carreira de ator nesses três anos?

Nesses 3 anos,o que mais relevante aconteceu,que aliás foi algo bem bacana,foi um reencontro de um pessoal que formou na mesma instituição que eu em Artes Cênicas,uma vibe meu "Alice no Buraco" surgiu novamente.


   Um ator nunca é somente um ator. Ele é codiretor, coautor, empreendedor... E você está mais empreendedor do que nunca. Como surgiu a ideia da loja Trekos Psicodélicos?


Estava falando sobre isso, dias desses...Que ninguém é obrigado a nascer e morrer somente uma única coisa na vida. Eu sou um artista!Sou extremamente criativo e inquieto...A Trekos Psicodélicos surgiu da vontade de criar também na moda...Nada é por acaso! Sempre tive um estilo diferente,tatuagens,cabelo moderno,e sempre gostei de moda psicodélica,retrô,rock e então veio a ideia da loja,comecei fazendo um dos bazares mais alternativos do Rio e fui convidado ali mesmo para outros eventos...e hoje estou até dentro de uma loja colaborativa com a Trekos Psicodélicos - O Espaço Bel Maciel é uma loja que abriga vários criadores da moda que fazem a cena aqui no Rio....E breve vem mais novidades,estou desenvolvendo uma linha de vestidos Pin Up, anos 50...algo bem bacana mesmo! Este ano,eu e minha amiga design de moda Bel Maciel também montamos o Bazar Fusion,acontece no Multifoco na Lapa,e nele a gente reúne uma galera "punk de boa" que movimenta a cena da moda alternativa do Rio e no ano que vem estarei fazendo especialização em moda. 


 O que você vende por lá e como as pessoas podem te encontrar?

Na Trekos Psicodélicos,temos acessórios psicodélicos,rock,retrô,um dos maiores acervos de pulseiras Pin  Up,lacinhos para os cabelos, colares de bola retrô,anéis psicodélicos, acessórios de rock, lenços, almofadas, bottoons, voodoo Toys, tudo que é alternativo, colorido,divertido e com muito estilo tem lá!Sem contar que quem visita a loja nos eventos,ainda pode ver parte da minha coleção de brinquedos antigos, eles fazem parte da decoração...Mas não estão a venda.(Ressalta Juka)...A loja pode ser vista em feiras de moda alternativa e agora também no espaço fixo,na Loja Colaborativa-Espaço Bel Maciel.Aonde tem o meu boneco,aquele na nave(Logo da loja) tem psicodelia na certa!
 

  Você já escreveu ou pensou em escrever uma peça de teatro?

já escrevi,fiz muito projeto escola com as minhas peças...Mas hoje não é mais a minha prioridade.


  Tem algum projeto de teatro para este ano ou teremos que esperar mais um pouco? Se tiver, pode falar um pouco sobre ele?

Ano que vem 2016,vamos estrear um adulto,uma comédia diferente,com um elenco de amigos,o pessoal daquele reencontro que falei no início da entrevista.



  Você já trabalhou em muitas peças infantis. Com o Trekos Psicodélicos e com este novo projeto, os trabalhos infantis devem ficar um pouco de lado ou não?

Ontem um amigo meu o ator Luiz Felipe falou: Juka você está radiante!Então...estou muito feliz com o que Trekos Psicodélicos tem me dado...e pretendo muito mais!Vem mais por ai!estou me redescobrindo e isso não tem preço!


O que as pessoas mais procuram na loja Trekos Psicodélicos?

Todo mundo chega lá pelo colorido...E isso não tem idade,tenho clientes crianças,adolescentes,adultos,enfim mas todos além dos produtos viram amigos,chegam conversam,a gente tira foto,damos muito risada...é um lugar especial!Não saberia te falar o que mais faz sucesso...mas arrisco que são as pulseiras retrô!Como falei tenho muitas e são lindas!


  Ser ator é ser um formador de opinião. Quais  são as suas referências no teatro e na vida?

Eu gosto de teatro alternativo,coisas experimentais,desconexas...O diferente é minha alma!Na vida minha maior referência é a psicodelia o Wunderground...é isso!Quero deixar aqui meu convite para todos curtirem a página da Trekos Psicodélicos no facebook:https://www.facebook.com/pages/Trekos-Psicod%C3%A9licos/1472772912945105?fref=ts

Obrigado mais uma vez pela oportunidade de falar aqui no teu blog!!!E breve vamos agitar um sorteio da Trekos Psicodélicos aqui no blog!



quarta-feira, 1 de julho de 2015

Literatura: Um encontro com a poesia de Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant

"Em direções opostas, Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant, caminham na perseguição ao horizonte na forte luz do pensamento."

Por Jair Martins*

Já faz algum tempo que meu querido escritor Elenilson Nascimento, um filho pelo coração, embora até o presente momento nunca nos tenhamos vistos, mas, nutro por ele um sentimento materno virtual, me pediu para comentar sobre a poética de três grandes expoentes contemporâneos, por mim considerados e que são de uma geração que vislumbram com escritos manifestos de audácia. Ao receber o pedido me assustei por não achar que teria cacife para tanto, mas, terminei por considerar a oportunidade.

Como amante das letras e de suas revelações, tratado gráfico que expõe a alma, espelho que reflete o íntimo, ponderei e aceitei o desafio sem prazo para a entrega – O que faço agora. Apresento o meu singelo comentário, por ordem das gerações, os poetas: Sérgio Vaz – São Paulo; Elenilson Nascimento – Bahia e Ni Brisant – também da Bahia, mas que reside em São Paulo. E procurar entender as suas peculiaridades, seria invadir o oceano querendo agarra-se a sua água. Não há como segurá-la. Nos permitindo apenas sentir e refrigerarmo-nos em seus conceitos, muitas vezes indomáveis ao entendimento por estar focado na transformação.

O encontro poético destes três artistas das letras, tem tom grave entoado sob a  maestria de quem os lê. Ao derramar sua alma em versos, estes poetas incorporam o gênio da sensibilidade. A intimidade de cada um com suas poesias, comparo-os  ao colibri e as flores. Ele suga-lhe o néctar e ainda poliniza os campos. Esse comportamento só quem o tem é o poeta. Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant, são colibris sugadores da palavra.

       





Ainda tendo como exemplo o oceano, os três são águas de grande volume. Mergulhei nesses três ícones surgidos para nossa época em que a liberdade de expressão é um serviço prestado em alerta as mentes atrofiadas, considerando o fundamental, os títulos  bem diversificados de cada poema em expressar verdades antes mascaradas.

Eu os enquadro nas palavras do excepcional escritor Guimarães Rosa ao dizer: “Quando escrevo repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens”. É nesses passos do pensamento do autor que encontro nossos mencionados poetas, como águas agitadas na superfície e sabedoria em profundidade.

Conferindo alguns versos desses poetas, vejo o quanto da versatilidade no manejo da palavra com a mensagem poética de cada um. Sérgio Vaz – “Proibido – De andar sobre a água, agora ele nada na terra” (do livro "Colecionador de Pedras" – in "Poema Proibido" – página 105) - onde o poeta nesse seu verso consegue limitar a insatisfação. Elenilson Nascimento – “Folhas ao Vento como palavras também se não acham uma âncora como vidas se afundam, murcham e morrem” (do livro "Palavras Faladas Fadadas Palavras" – in “Folhas ao Vento – página 83) - em lirismo de profunda elegia, o poeta vulgariza o fim de tudo. Ni Brisant – “Falo – Da boca pra fora para-raios. Dentro arranha-céu” (do livro "Para Brisa" – in "Poema Falo" – página 17). O poeta antagonizou na forma debochada os absurdos de uma realidade.

Dentre os 124 poemas de Sérgio Vaz, 74 de Elenilson Nascimento e os 45 de Ni Brisant, dos seus respectivos livros acima mencionados, todos por mim lidos e sentidos, como já citei antes, há um confronto de gêneros, de convicção e de ótica, porém culminando em comunhão com o sentido maior. A palavra difundida na sua essência para a qual foi criada – A Revelação.

A diversidade poética funciona como um grande leque que se abre pela força da inteligência, representada pelas palhetas (seus versos), no amparo de belos padrões (o lirismo), numa só finalidade, o frescor da inspiração sobre a face do leitor.  Essa é a comparação que faço a vitrine das diferentes ofertas de leituras em que os poetas Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant se enquadram tão bem.

Ao despontar suas vidas, os poetas em questão encerraram o século  XX , adentraram ao século XXI com ousadia, intrepidez e perspicácia. Na visão da ciência mística, todas as pessoas na faixa etária de zero idade há 35 anos, entraram no ano 2000, trazendo do século vencido o desejo das mudanças, da renovação e da inovação. Predestinados, podemos assim dizer. Aos que optaram pela poesia têm em suas composições a força do ontem, do agora e do que há de vir, manifestando ao entendimento valores retidos antes ignorados. A sublimidade dessa arte esculpida nas letras é divina.  O Criador moldurou o grande cenário que é a vida com o versar dos poetas. Toda palavra tem o sentido “Faça-se”. Sabemos que há poder nas palavras.

Em direções opostas, Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant, caminham na perseguição ao horizonte na forte luz do pensamento. Em nosso celeiro de poetas, todos estão unificados no trabalho árduo e solitário da escrita, vemos que os subjetivos da construção humana, natureza, paixão e mistérios, os aproximam. É o caso da linguagem uníssona por eles usadas;  AMOR e SOFRIMENTO, nos seus mais extremos derivados.

A poética de Sérgio Vaz, atrai o seu olhar para as temáticas de discussões sentimentalistas. A poética de Elenilson Nascimento, aponta as infrações cometidas por excesso ou escassez de sentimentos e os deslizantes tombos da estupidez do cotidiano. E a poética de Ni Brisant, narra o comum tão importante dos temas atuais. Como poeta de postura marginal,  valoriza as  necessidades das inclusões sociais.

Em suma, formam um pacto de cumplicidade racional. Nas confissões de Sérgio Vaz, na irreverência de Elenilson Nascimento e nos queixumes de Ni Brisant, sentimos o hálito de uma digestão favorecida pela imaginação das suas particulares conjecturas. Eles são três grandes universos poéticos os quais reverencio. Ao  compartilhar com o leitor suas obras fazem transitar suas íntimas confissões  transformadas em arte. Grata pela vida deles.



Ni Brisant, Elenilson Nascimento e Sérgio Vaz.

* Jair Martins é poetisa e membro da União Brasileira de Escritores -UBE, da Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda- AALCO e da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro - ALANE 


terça-feira, 12 de maio de 2015

Favela - O Musical - um espetáculo que não vou esquecer


         Adeus é uma palavra que dói, mas precisa ser dita para que novas possibilidades venham a surgir. Assim, no seu auge, Favela – O Musical, espetáculo  que tive a oportunidade de assistir seis vezes, se despede em sua última temporada. Isso significa que Favela vai acabar? Claro que não! Afinal, ficará guardada em muitos corações, sobretudo no meu. 

O texto, a direção, o elenco, cenário, figurino... É tudo impecável, mas Favela é mais que isso. Um espetáculo de elenco numeroso que consegue manter um bom público dentro de seis temporadas sem ter um patrocínio, merece todos os aplausos possíveis. 

         Assim que comecei a lecionar, passei para uma determinada turma um trabalho de Sociologia: assistir Favela e fazer um debate em sala de aula sobre os contrastes sociais. Favela foi o primeiro espetáculo que alguns desses alunos puderam assistir e enriqueceu significativamente as minhas aulas.

         Favela foi, é e continuará sendo um sucesso porque representa não só a realidade das comunidades do Rio de Janeiro, mas representa o Brasil por inteiro, repleto de contrastes de cores e crenças, que se complementam. Favela é o lugar onde todo mundo cabe. Ficam nas lembranças, os momentos engraçados, os momentos tristes, verossímeis, e uma grande mensagem para os jovens. Fica a poesia, fica a música.  A vida é feita de escolhas. Eu escolhi ser Favela.  Como professor, espectador e artista, fica aqui o meu MUITO OBRIGADO!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Pela Pólis

         Peço licença poética porque hoje não quero falar de poesia, nem de cultura, mas de política. Ainda assim, estarei falando de cultura, porque sem cultura não tem política e sem política não tem cultura. A poetisa Wisława Szy já dizia que “somos filhos de uma época, e a época é política.” Tudo é política. Hoje, mais do que ontem,  nos bares e nas redes sociais, só se fala em política. Discursos de ódio fazem eco, tanto na direita quanto na esquerda, conceitos que se quebram gradualmente. Falar sobre política nunca é demais. Se falássemos mais, acredito que não precisaríamos de tantas greves e manifestações. Ainda assim, falar sobre política não é o suficiente para ser politizado. Não devemos reproduzir conteúdos, mas formular opiniões, considerando que não somos donos da verdade absoluta.

Falamos muito, mas o discurso é vazio. Ninguém pode discordar do PT? Ninguém pode discordar do PSDB? Ninguém pode defender alguma ação da Dilma que é chamado de “burro”? Bom enfatizar que não foi apenas o nordeste que votou em peso na atual presidente. O mesmo aconteceu com o Rio de Janeiro. Se o Nordeste fez esta escolha é porque ganhou alguma coisa durante os mandatos do PT. Bolsa Família? Pode ser!

 É fácil criticar a Bolsa Família quando se tem o carro do ano. Estranho é universitário que ganhou bolsa para estudar, criticar a Bolsa Família. Estranho é ver cantor que se beneficia da Lei Rouanet, do Banco do Brasil e da Petrobras, criticar a Bolsa Família. Também é fácil criticar o Mais Médicos quando se pode pagar um bom plano de saúde. Lembram quando apenas dois médicos se inscreveram pessoas se inscreveram para um concurso público do Macapá que contabilizava vinte vagas para o cargo?  Se os brasileiros não querem ir para o meio do mato, tem quem queira.

Por conta de algumas postagens minhas, já me chamaram de petista,  comunista e me acusaram de defender o terrorismo. Queridos, questionar um partido não significa estar a favor de outro. É uma pena que alguém pense assim. Sinto informar, mas a política não se resume a oito ou oitenta. Não sou petista. Não vou defender um partido que se corrompeu ao longo do tempo. Apontar as falhas do atual sistema capitalista não significa ser comunista, tampouco, socialista. Elogiar a medicina cubana é compactuar com alguma ditadura? Eu não sabia disso. Elogiar a educação cubana é defender terrorismo? Por que terrorista é sempre o outro? Por que terrorista é sempre o mais fraco? Dentro da História, quem jogou as bombas atômicas não foi Cuba.

         O meu partido é um coração partido. Não falo de PT, PSDB ou PMDB, falo do meu partido, partido ao meio, o meu Brasil dividido entre o capitalismo e o socialismo, como se ainda vivêssemos em uma Guerra Fria. Ressuscitaram o Plano Cohen e a fada Sininho. O mito de que o comunismo pode dominar o Brasil e os fantasmas do varguismo, sobretudo, do Estado Novo, continuam entre nós, sabe-se lá como. Os defensores do comunismo acreditam em uma utopia, um sistema que não se sustentaria; os do capitalismo, também, já que tem medo do sistema concorrente.

 A democracia brasileira engatinha e o povo tem memória curta, mas as ditaduras foram longas. Por muitos anos estivemos às marges do imperialismo norte – americano. Até o surgimento do Mercosul, não tínhamos uma brecha, uma válvula de escape. De três em três décadas, temos que tirar o presidente do poder. A independência do Brasil não foi fruto de luta popular, a inconfidência mineira, também não. O herói Tiradentes lutava pelos interesses da elite. Getúlio Vargas, ao mesmo tempo que foi pai dos pobres, foi mãe dos ricos. Para transformar o Brasil em cinco anos, Juscelino embarcou nas dívidas. Fernando Henrique Cardoso não foi o pai do Plano Real e  Fernando Collor continua atuando na política. No dia da consciência negra, a homenageada é princesa Isabel.

Pedem um impeachment, como se ele resolvesse todos os nossos problemas, como se o PT fosse o nosso maior problema. As consequências das políticas neoliberais caem de todas as formas nas costas de Dilma. Não se trata de defender o PT. Aliás, não defendo partidos políticos, defendo ideologias, no plural mesmo, a partir da bagagem que carrego de anos de graduação em História e pós – graduação em História e Cultura da América Latina. Esta bagagem me permite analisar diferentes pontos – de – vista e reconhecer o legado de cada governo.

É evidente que o PT cometeu e continua cometendo erros gravíssimos, mas como historiador, tenho que dar à César o que é de César, ou melhor, dar ao PSDB o que é do PSDB e dar ao PT o que é do PT. Sou a favor da reciclagem política. Mesmo assim, considero que o PT não é o nosso maior problema. O problema é acharmos que em caso de impeachment quem assume é Aécio Neves, quando na verdade, quem assume é Michel Temer do PMDB, partido que já tem a presidência da Câmara e do Senado, além de ser a maior máquina eleitoral do Brasil. A Dilma, ao menos, sofre com uma grande oposição dentro da Câmara. Com ela fora do jogo, e o Michel Temer assumindo, qual será a oposição do PMDB? Nenhuma. É um caso a se pensar.

         As manifestações são legítimas, asseguradas pela Constituição, mas dividem opiniões. Elas seriam frutos da insatisfação da população ou mera reprodução do discurso midiático? A mídia teria, hoje o poder de influenciar desta maneira parte da população, tal como ocorreu nos anos sessenta? E os partidos políticos? Eles também teriam esse poder? Por que um grupo pode se manifestar e o outro não pode? As mesmas pessoas que acreditam que as manifestações a favor dos professores em Curitiba podem ter sido articuladas pelo PT, garantem que a manifestação pró – impeachment foi idealizada pelo povo. Por que as nossas manifestações são mais importantes que as dos outros? Por que as nossas são do povo e as deles não? Pensem nisso...

         Vi gente batendo panelas. Não ouvia vozes, não ouvia gritos, apenas panelas. Gente que batia e se escondia atrás de cortinas. Vi gente nas ruas, com máscaras. Cada um se escondendo como pode... Está ou não está na hora do Brasil mostrar sua cara? Vi deputados questionando a Dilma. O mesmo deputado votou a favor da terceirização. Como é que pode? Vi em rede nacional pessoas desfilando com suásticas no dia 13 de março de 2015. Achei isso assustador. Mais assustador ainda foi a ausência de comentários.

         Professores foram massacrados pela política de Beto Richa em Curitiba. E não venham me dizer que caí no conto da opressão. Não precisa ir muito longe, não precisa sair do Rio de Janeiro para perceber que a opressão é um fato. Quem bateu panela a favor dos professores? Quem bateu panela a favor da educação brasileira que não anda muito bem das pernas? Ela não está bem, mas poderia estar pior. Já pensou se a educação no Brasil estivesse como está em Minas Gerais e Curitiba?  Independente do partido, os prefeitos e governadores deveriam aproveitar-se do lema “Pátria Educadora” e dar um amparo maior aos profissionais da educação. Aliás, não só os governadores e prefeitos, mas a própria Dilma, enfim, todos os políticos. Não se trata de um favor, se trata de obrigação, de respeito pelo cidadão brasileiro.
          

        

        




terça-feira, 21 de abril de 2015

Sobre Tiradentes...

Às portas do Teatro Real de São João, D. Pedro, na época, príncipe - regente, prestou fidelidade à Constituição portuguesa. Por conta disso, a praça ficou conhecida como Praça da Constituição. Em 1862, a mando de D. Pedro II, foi colocada na praça uma estátua de D. Pedro I. Em 1872, para afastar os fantasmas da monarquia, os militares colocaram o nome da praça de Tiradentes, o herói republicano, o herói da Inconfidência Mineira, que ao contrário da Conjuração Baiana, foi um movimento elitista. A figura do Tiradentes foi apropriada pelos militares, que precisavam de um herói republicano. Por que nas imagens em que é retratado, Tiradentes é parecido com Jesus Cristo? Como ele permaneceu com aquela cabeleira se todos os prisioneiros tinham a cabeça raspada por conta do piolho? Os heróis da República chegaram, mas os da Monarquia, continuam, juntamente com a estátua de D. Pedro I. 


quinta-feira, 12 de março de 2015

Relembrando a entrevista com Narjara Turetta em 2007.

1)    Narjara, um de seus primeiros e mais importantes trabalhos foi Malu Mulher, ao lado de Regina Duarte, que você reencontrou recentemente em Páginas da Vida. Como é a sua relação com a Regina hoje em dia?R: Foi muito bom reencontra-la. Ganhei dela um computador!! Nos falamos por e-mail, atualmente!


2)    Como você vê o atual momento da televisão brasileira, comparando com os anos 70, 80 e 90? A Record ou o SBT tem chances de conquistar a liderança?R: Acho que a programação das tvs anda muito pobre. Nesses anos aí mencionados  a programação era muito melhor.Acho que a Record vai continuar na vice-liderança, porque  a Globo sempre será a líder. Ela ainda é a melhor no que faz,é a mais competente,tem mais técnica  e qualidade, sem dúvida!!

3)    Você acha que as novelas estão se tornando repetitivas? O atual modelo de telenovela está saturando?R: Acho que as novelas estão sem assunto. Saturando não, porque novela sempre será um bom produto! O que falta são bons autores como Janete Clair,Dias Gomes, Ivani Ribeiro e Cassiano Gabus Mendes!!

4)    Em quem você se inspira? Com quem você gosta ou gostaria de trabalhar? Quais os seus ídolos?R: Não me inspiro em ninguém especial, mas gosto MUITO da Eva Wilma, quando pequena eu a admirava e queria ser como ela!Gostaria de trabalhar mais com ela, com a Laura Cardoso,com quem já trabalhei! Gosto muito da Cleyde Yáconis e da Nathália Thimberg! E também de Glória Pires. Admiro muito essas, além de Al Pacino, Dustin Hofman,Robert De Niro e Daniel Graig!Adoraria poder fazer um filme com eles!!

5)    Na sua opinião por que tantos bons atores e atrizes estão desempregados ou na geladeira? Seria por causa da chamada “panelinha”? O que deve ser feito para mudar isso?R: Falta aos autores e diretores ousadia e força de vontade para escalar atores na "geladeira". A panelinha sempre existiu e vai continuar!! É isso ,teria que ter mais ousadia para escalar atores que eles não "achariam" que seriam os "certos" para aquele papel! Falta "feeling"!!


6)    Depois de Páginas da Vida, surgiu algum convite? Tem projetos para o futuro?R: Depois de "Páginas" só fiz pequenas participações. Para o futuro tem  a estreia no cinema com um curta!!


7)    Mesmo quando não está contratada, você consegue meios de sobreviver, vendendo água de coco, e ultimamente, dando palestras sobre motivação.  Onde você encontra esta motivação? Qual o seu maior apoio? R:Está difícil sobreviver da venda de água de coco,viu? Meu maior apoio é DEUS  e minha mãe que me ajuda e me incentiva!! E daí vem minha motivação: fé e confiança em um futuro melhor, onde nós podemos mudar esse futuro!!É nisso que eu creio!
  
8)    Se não me engano, agora também você está produzindo teatro, estou certo? Como está sendo essa sua nova fase?R: Não estou produzindo teatro. Eu tenho uma peça pronta para apresentar em escolas "A Cigarra e a Formiga". É didática e fala sobre o aquecimento global e da importância da reciclagem. Já apresentei em algumas escolas.


9)    Quantos anos de carreira?R: 38 anos de carreira. Comecei em 1971 na TV record em SP,em um programa chamado "A Grande Ginkana" onde eu dizia monólogos e apresentava os palhaços Arrelia e Pimentinha. Eu tinha 4 anos e meio.


10)Depois desses anos todos, finalmente surgiu um convite para o cinema, e logo como protagonista. Como rolou esse convite? O que você pode falar sobre a sua nova personagem?R: Foi através do orkut que o Eduardo Nassife me achou, mas temos  a Gloria Pires como amiga em comum e ele comentou de mim para ela. Aí entrou em contato e me mandou o roteiro. Ele disse que escreveu pensando em mim, pois gosta de meu trabalho!! A personagem é uma megera e vai fazer as pessoas pensarem muito em suas atitudes para com o próximo!É  aessa  amensagem da estória!!


  Narjara, muito obrigado pela entrevista. Foi um prazer saber um pouco mais sobre sua carreira, de como batalhou para conseguir um espaço, e venho em nome de seus fãs e do blog desejar muito sucesso.R: Eu é que agradeço o carinho!! Deixo um beijo grande para todos que lerem essa entrevista!!


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Escrever livro no Brasil...

Escrever livro no Brasil é um trabalho árduo mesmo quando se tem o amparo de uma grande editora. Obter este amparo, que não garante o sucesso, é outra coisa difícil, principalmente para quem ainda está entrando no mercado. A concorrência com o best--seller internacional que estampa as portas das livrarias é quase desleal. O preço que se paga é caro, muito caro se tratando do Brasil, onde 40% da população ainda é analfabeta funcional.

Os concursos literários realizados pelas pequenas editoras funcionam como uma brecha para os novos  autores encontrarem um lugar ao sol, e conquistam assim cada vez mais adeptos.  O jeito é perder o medo, tirar os poemas, crônicas e contos da gaveta e arriscar. Assim vamos subindo de degrau em degrau. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Entrevista com Davi Giordano

   “A teatralidade é essencialmente humana. Todo mundo tem dentro de si o ator e o espectador Representar num espaço estético, seja na rua ou no palco, dá maior capacidade de auto-observação. Por isso é político e terapêutico.” Com as palavras de Augusto Boal começo a entrevista com o diretor e dramaturgo Davi Giordano, que é mestrando em artes cênicas pela UNIRIO, é ator formado pela CAL e se formou em artes cênicas com habilitação em direção teatral pela UFRJ. Seu trabalho foi reconhecido no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos.  Davi, conte-nos um pouco a sua trajetória e a experiência de apresentar um trabalho seu fora do Brasil.

Atualmente trabalho como diretor, professor e escritor de teatro. Também desenvolvo trabalhos no campo da performance. Meu trabalho está permeado pelas relações entre o teatro e a performance. Em geral, não gosto muito de me definir, porque acredito que o artista contemporâneo é múltiplo em seus fazeres e qualquer possibilidade de definição acaba mais restringindo do que alargando a compreensão de um trabalho. Eu gosto de trafegar por zonas de criação que alimentam as minhas experimentações. Como diretor, estou no lugar da experimentação cênica. Na sala de aula, gosto de trazer curiosidades, interesses e provocações para compartilhar e aprender junto com meus alunos. Já como escritor, desenvolvo as reflexões de tudo aquilo que venho pensando. Por isso, meus textos transitam entre ensaios, artigos, dramaturgias, poemas, críticas etc. Além disso, sempre gosto de alimentar o meu campo de pesquisa ao estudar o trabalho de outros artistas. Em relação ao contato com outros países, acho que sempre é uma forma maravilhosa de estar em contato com debates e práticas sobre o que vem se desenvolvendo em âmbito de arte contemporânea ao redor do mundo. Acredito que estar junto com outros artistas, críticos e profissionais é sempre uma forma de estimular a formação continuada, sendo consequentemente uma possibilidade de estimular novas inspirações para o meu trabalho artístico e também para os meus escritos. Além disso, acho importante sempre estabelecer parcerias com artistas estrangeiros e pensar em possíveis plataformas de intercâmbio.  

Foi mais difícil montar uma peça sobre Eva Perón, que já existiu ou a fictícia “A Primeira Dama da Costa Bela”?

São peças muito diferentes em termos de processos de criação. Por isso, não sei se seria apropriado dizer “mais fácil” ou “mais difícil”, pois foram caminhos de linguagem, estéticas e poéticas muito distintos. No caso de “Eva Perón”, eu estava trabalhando a partir da dramaturgia de Raúl Copi que descobri enquanto estive morando em Buenos Aires. Tive o contato com o universo do autor através de meu amigo Helder Thiago Maia, que trabalha com estudos literários e que na época também morava na Argentina. Quando Helder me contou sobre o universo queer, irreverente e ousado de Copi, fiquei fascinado e pedi para ler a tradução que ele recentemente havia terminado. Na primeira leitura, fiquei completamente apaixonado, porque o texto do Copi me parecia uma mistura de Almodovar, América Latina, política, comédia e provocação. Além disso, sempre fui tocado pela história de Eva Perón. Por todos esses motivos, resolvi montar este texto. Por se tratar de um texto de outro autor e também de um universo polêmico e pouco conhecido no Brasil, o processo artístico necessitou de muita pesquisa histórica. Por isso, antes de voltar ao Brasil, eu coletei bastante material de pesquisa direto de Buenos Aires. Este material foi fundamental para trabalhar a criação junto com os atores e trazer para o público uma melhor compreensão sobre o universo copiano. Já na montagem de “A Primeira Dama da Costa Bela”, tudo foi muito diferente. Para começar, eu estava dirigindo um texto de minha própria autoria. Isso já modifica todo o processo de criação, pois como diretor eu tinha uma apropriação completa sobre o que faria dentro da sala de ensaio com meus atores. No caso de “A Primeira Dama da Costa Bela”, a narrativa conta a história de uma primeira dama que vive num país ficcional da América Central chamado Costa Bela. Fizemos uma pesquisa sobre o universo das telenovelas mexicanas e sobre a cultura da América Latina, principalmente em relação à América Central. Contudo, por se tratar de um país ficcional, tínhamos plena liberdade de inventar o nosso próprio universo cênico. Isso foi muito gostoso para todos os membros artísticos do processo de criação. Nesse sentido, acredito que a diferença principal entre ambas as peças se deu nas metodologias diferencias da pesquisa em relação ao processo de criação. Como última observação, acho interessante destacar que ambas as peças possuem muitos pontos de encontro: falam sobre o universo feminino, fazem um retrato da América Latina, trabalham sobre níveis de comédia política, a atmosfera da família, os segredos e as hipocrisias das relações humanas. É interessante notar que o texto de “A Primeira Dama” foi escrito em 2009, um ano antes de ter morado na Argentina e conhecer o texto de “Eva Perón”. Sendo que na “Primeira Dama”, a protagonista Verônica Stiller possui uma cadelinha chamada Evita, que naquele momento foi um nome escolhido sem nenhum propósito político. Posteriormente, a atriz Débora Amorim que fazia a protagonista me chamou atenção para o fato e nisso resolvemos inserir uma fala numa das últimas cenas em que Verônica revela que o nome de sua cachorra é uma homenagem para Eva Perón. Acho interessante porque esses jogos de intertextualidades foram surgindo de forma natural sem que houvesse uma intenção intelectual diretiva e impositiva. Sempre gosto quando o processo de criação nos revela esses agenciamentos.

Suas peças são todas melodramáticas? O que te levou a seguir pelo caminho do melodrama? Quais suas principais influências nessa área?

Acho interessante que você não é o primeiro a dizer isso. Muitos reconhecem a linguagem do melodrama presente em minhas encenações. Contudo, não é algo que planejei. Na verdade, para cada peça busco a investigação de gêneros próprios que misturam diferentes linguagens. Nunca consegui compreender minhas peças dentro de gêneros rígidos e específicos. Por isso, para cada peça, busquei brincar com a criação de gêneros. Para Adormecida, disse que era uma “comédia carioca de humor negro trash”; para Eva Perón, considerei uma “encenação queer minimalista”; e para A Primeira Dama da Costa Bela, em consenso com o elenco denominamos como uma “comédia surrealista melodramática latino-americana”. De qualquer forma, as obras sempre se completam com o olhar do público. Se você me diz que observa o melodrama em todas as encenações, fico interessado nessas impressões.

Recentemente você publicou o livro “Teatro Documentário Brasileiro e Argentino” pela editora Arm@zém Digital. De onde surgiu a ideia para escrever esse livro? O que é e como surgiu o Teatro Documentário?

A ideia do livro surgiu a partir da minha vivência e contato com a cultura argentina. Em 2010, fui aceito para participar de dois semestres acadêmicos na Argentina por conta de um intercâmbio de convênio bilateral entre a UFRJ e a Universidad de Buenos Aires. Inicialmente, eu fui para cursar disciplinas de Cinema e Crítica de Arte. No meio do processo, entrei em contato com o Biodrama por conta de uma oficina de seis meses lecionada pela própria Vivi Tellas, criadora do gênero. Além disso, dentro da universidade, eu tive contato com Pamela Brownell que trabalha diretamente com Vivi Tellas. Assim, o meu contato com o Biodrama se deu dentro e fora da universidade, permitindo uma vivência com o universo biodramático de forma teórico-prática. Quando voltei para o Brasil, em 2011, iniciei um projeto orientado pelo professor Denilson Lopes e financiado pela bolsa de iniciação científica PIBIC/UFRJ. O projeto inicialmente tinha como foco geral a investigação de encenações contemporâneas cinematográficas que buscassem problematizar o sujeito cotidiano a partir da estética do Comum. Ao escolher o tema específico da minha pesquisa, eu trouxe a linha do Biodrama como uma forma de problematizar a inserção e representação do homem comum no teatro. Foram doze meses escrevendo. Depois foram mais dois anos para movimentar a produção dos custos para bancar a publicação do livro. Ao todo, considerando desde o meu primeiro contato com o tema, o processo completo tomou quatro anos até o nascimento do livro que aconteceu em novembro do ano passado (2014) com lançamento performático realizado dentro da bela Ocupação Glauce Com Vida no Teatro Glauce Rocha (RJ).   

5) Qual a diferença entre o Teatro Documentário argentino e o brasileiro?

Na Argentina, o Teatro Documentário tem um campo de produção artística e pesquisa maior do que no Brasil, visto que, desde 2002, o Biodrama se fortaleceu enquanto Ciclo e estimulou um movimento teatral muito forte no país, incluindo a sua influência em outros lugares do mundo. Por isso, é possível dizer que, na argentina, os espectadores já possuem um contato maior com linhas de teatro que trabalham com biografias cênicas, histórias reais, experimentação do real em cena, encenação de documentos não fictícios etc. No Brasil, o Teatro Documentário e o Biodrama começaram a se tornar mais conhecidos alguns anos depois, principalmente por conta de trabalhos de grupos e artistas que pesquisam algumas dessas abordagens na cena, como a Cia.Teatro Documetário (de Marcelo Soler), Nelson Baskerville, Janaína Leite, Cia. Hiato, Carolina Virguez, Marcelo Braga, Celina Sodré, Grupo Garimpo, Zula Cia. de Teatro, Grupo Teatro Carmin etc.

Augusto Boal teria sido um dos pioneiros no Teatro Documentário no Brasil, através de espetáculos como Arena Conta Zumbi e Arena Conta Bolívar. Pode falar um pouco sobre isso?

Em meu livro, identifico que uma importante encenação documentária que tivemos no Brasil foi o espetáculo “Marias do Brasil”, dirigido por Augusto Boal. O espetáculo foi criado em 1998 e era composto por empregadas domésticas que nunca haviam tido nenhum contato prévio com a experiência teatral. A proposta do projeto original de Boal era trazer para o teatro a realidade das empregadas domésticas a partir do ponto de vista dessas próprias mulheres.  Elas vieram de diferentes estados do Brasil, tendo como semelhança o fato de que todas tinham o mesmo nome: Maria.  Ao longo de 14 anos, essas mulheres criaram quatro peças de Teatro-Fórum, conceito criado pelo próprio diretor Augusto Boal. Em relação às outras encenações que você menciona, certamente podemos identificar linhas do documentário que estão presentes nas peças. Todas as produções de Augusto Boal estão compreendidas numa linha de teatro político que se aproxima do Teatro Documentário. É importante mencionar que Augusto Boal não denominava as suas peças como Teatro Documentário. Esta é uma leitura que nós estamos fazendo hoje sobre as suas produções. Outro dado importante de mencionar é que pesquisas recentes identificaram a presença de associações filantrópicas italianas e movimentos teatrais operários em alguns bairros de São Paulo nos anos setenta que já revelavam características do Teatro Documentário. Acredito que precisamos de mais tempo de pesquisa para aprofundar as origens do Teatro Documentário no Brasil. Este seria o tema para um novo livro.

Qual a diferença entre o Teatro Documentário e o Drama histórico?

No livro Documentary Theatre in the United States, o autor Gary Fisher Dawson esclarece bem essa distinção. Ele diz que o Drama Histórico seria uma encenação cuja dramaturgia busca fazer uma representação da história a partir de fontes históricas secundárias para recriar a realidade de acordo com a visão criativa do dramaturgo.  Há uma camada de metalinguagem e ironia dramatúrgica, na medida em que os fatos históricos são vistos pela ótica do dramaturgo, quem tem o direito de interpretar a história pela sua ótica subjetiva e criativa.  Enquanto isso, o Teatro Documentário se caracteriza por uma operação de distanciamento de teatro épico que toma a história a partir de uma micro-perspectiva (tendo como base a atualidade e contemporaneidade). Outra diferença é que o Teatro Documentário tem como base fontes primárias que buscam sustentar a evidência dos fatos históricos e persuadir o espectador para uma linguagem da sua época.  A realidade é documentada para o público a partir de uma perspectiva privada. A discussão é bastante complexa. Por isso que, no meu livro, eu explico que uma divisão acadêmica sobre o que seja ou não o teatro documentário pode servir de forma positiva para analisar as primeiras produções sobre tal gênero.  Porém, fazer uso de tais divisões didáticas para compreender as produções contemporâneas seria um falso problema, tendo em vista a diversidade de especificações que a prática documentária no teatro foi ganhando ao longo dos anos.  Temos a impressão que as nomenclaturas clássicas, principalmente o uso de termos como épico, naturalismo, drama, ficção etc podem acabar muito mais restringindo as possibilidades formais do teatro documentário.  Já o meu trabalho caminha no sentido de entender a complexidade de elaborações sobre o tema.   

O teatro documentário primordial contesta o sistema de atuação emocional que diz respeito à primeira fase do trabalho de Stanislavski?

O Teatro Documentário não pressupõe um modelo específico de atuação. Há diversas linhas de experimentação e pesquisas-cenas, o que nos permite pensar que não devemos pressupor uma estética nem uma poética específica para esse tipo de trabalho, mas sim pensar como há inúmeros caminhos de criação. Isso nos faz pensar que o teatro documentário deve ser visto em sua multiplicidade ao invés de um discurso unívoco. Dessa forma, há vários Teatro(s) Documentário(s). Esta perspectiva de visão amplia e aprofunda o debate que ainda é pouco recente no Brasil. No caso da atuação, há peças documentárias que trabalham com atores que não são profissionais. As formas de atuação dependem sempre do conceito de encenação do diretor. Isso varia de espetáculo para espetáculo.

A atriz Eva Todor disse em uma entrevista que o ator tem que ser intuitivo e buscar na própria história uma “bagagem” para a construção da personagem, o que não minimiza a importância do laboratório. O que você acha disso?

Concordo plenamente. Isso me lembra também de uma fala da diretora Celina Sodré no evento Diálogos sobre Teatro Documentário. Ela disse que o processo de criação na arte sempre é autobiográfico. O que ela sinaliza em sua fala é que em alguns trabalhos, como no caso das encenações documentárias, vemos uma hipótese de ser determinadamente e deliberadamente autobiográfico no espaço da criação. Contudo, em outros trabalhos, mesmo que esta dimensão autobiográfica não esteja explícita, é impossível dizer que ela não esteja presente, no caso dela estar subjacente. As circunstâncias de vida do artista sempre conduzem o seu processo de criação, visto que a questão autobiográfica é inerente à circunstância de criação.

A História oral contribuiu com a propagação do Biodrama e do Teatro Documentário?

Totalmente. A História Oral consiste em contribuir para a História Oficial a partir de outras fontes de saberes que não só os documentos textuais.  Dessa maneira, surgem outros tipos de fontes documentais com tons próximos à intimidade e à subjetividade.  O biodrama partilha vínculos ideológicos com a História Oral na medida em que engloba pessoas comuns que não tiveram oportunidade de expressar sua voz como contribuição de saberes e conhecimentos para a História Oficial.  O teatro documentário permite que a história não seja apreendida somente pela forma clássica da leitura de livros, mas também sim apreendida em outras possibilidades de experiências, e aqui incluímos a cena teatral na qual o espectador está em contato direto com a presença física do que está sendo performado. O teatro documentário permite que o registro documental seja presentificado em cena pela memória viva e ativa, em estado de experiência, de dança, de movimento.  Acredito que o biodrama é uma conexão do teatro com os outros saberes, campos de conhecimento e aportes culturais.  Por isso, acredito que o meu livro seja interessante não somente para criadores, estudantes e críticos de teatro, mas também para todos aqueles cujas pesquisas e interesses esbarrem nos temas das novas subjetividades contemporâneas.      

A atriz Sylvia Bandeira protagonizou um espetáculo de Aimir Labak chamado Marlene Dietrich – As Pernas do Século, que ficou em cartaz no Teatro Maison de France. Ele conta a trajetória de uma cantora alemã que cantou para os soldados americanos durante a II Guerra Mundial. O espetáculo pode ser considerado um biodrama ou para isso a personalidade precisa estar viva?

Para ser considerado um Biodrama, é necessário que o sujeito que está sendo biografado pelo espetáculo esteja vivo. Isso se dá por dois motivos. Primeiro porque este sujeito pode ser levado diretamente para a cena. Mas caso ele não esteja presente em cena, a condição que esteja vivo permite que os artistas e o diretor possam estar em contato e trabalhar diretamente com ele durante o processo de criação. Daí o viés político do Biodrama que valoriza o contato direto e a experiência como “motores” do processo criativo. No caso da peça que você citou, vemos um claro exemplo de “drama histórico”, mas não é possível identificar linhas de Biodrama. 

Como o biodrama se distingue do teatro de ficção?

Hoje, há toda uma corrente dos estudos literários que questiona o campo da autobiografia e traz uma nova abordagem teórica que seria a autoficção. Este conceito defende que em todos os tipos e níveis de relato, nunca há uma autobiografia que corresponda fielmente aos fatos verídicos, pois a memória está sempre misturada com camadas de criação. É interessante porque nos faz pensar que a memória sempre é recriação. Daí o surgimento da noção de autoficção, porque essa ideia está atrelada à noção de que a construção do sujeito sempre é uma performance de si. Logo, o biodrama, visto como uma produção de subjetividade, também seria uma forma de autoficção. Além disso, é importante lembrar que toda subjetivação do discurso também sempre é a construção que se estabelece em relação ao olhar do outro. Em algum de seus livros, Barthes dizia que todo sujeito é um efeito de linguagem. Da mesma maneira é o biodrama que funciona como a criação de subjetividade e, consequentemente, de linguagem. O conceito de autoficção permite pensar que as instâncias de autor e de narrador se constroem mutuamente.  Por isso a autoficção seria uma forma de performance. Nessa medida, o biodrama é relacional como um processo comunicativo.  O olhar que o espectador faz sobre este outro que está em cena também é uma construção do seu próprio eu.  Cria-se uma experiencial de nível etnográfico na qual o performer biodramático é confrontado com o olhar do espectador, e vice-versa.       

O fato do biodrama ter adquirido diferentes ressonâncias estéticas e poéticas desde a criação original em 2002 dificultou enquadrá-lo numa definição específica?

No teatro contemporâneo, identificamos diferentes práticas cênicas relacionadas ao teatro do real. É importante observar que as definições acadêmicas sobre estas linhas de experimentação no teatro possuem questões que devem ser problematizadas. No entanto, apesar das problemáticas, elas também nos ajudam a criar um campo de referências para compreender pesquisas que sinalizam pontos comuns. Há uma diversidade de experiências e seria muito difícil especificar as fronteiras entre uma e outra. No caso do Biodrama, posso dizer que ele se expressou como uma experiência significativa no contexto teatral da Argentina de 2002 até hoje. Inicialmente, o projeto se oficializou como um Ciclo de peças apresentadas no Teatro Sarmiento, durante o momento em que Vivi Tellas foi curadora do espaço. Posteriormente, ela desenvolveu o projeto Arquivos Tellas que foram as peças de biodrama que ela dirigiu. O movimento ganhou forte ressonância dentro e fora da Argentina. Há muitas peças que foram criadas e estimuladas por este movimento inicial. Atualmente, Vivi Tellas continua desenvolvendo oficinas, espetáculos e curadorias a partir do seu projeto estético de Biodrama. O último espetáculo criado foi “Personas”. Para comemorar o aniversário de setenta anos do Teatro Sarmiento em Buenos Aires, Vivi Tellas criou um espetáculo que foi protagonizado pelos próprios trabalhadores do teatro. Em cena, eles trouxeram para o público a história dos bastidores, do local e de todos os espetáculos que por ali passaram.

Um caso que achei interessante no livro foi o de Vanina Falco, uma atriz que descobriu que foi adotada, e em pleno regime militar, conseguiu, por conta do teatro, processar o próprio pai, coisa que a justiça argentina da época não permitia. Pode falar um pouco deste caso?


Na minha opinião, o caso de Vanina Falco é um dos acontecimentos mais interessantes de discussão sobre o Teatro Documentário. Em cena, a atriz revela que há pouco tempo descobriu que seu irmão foi ilegalmente apropriado e que seus verdadeiros pais foram desaparecidos quando tinham dezessete e dezoito anos.  Vanina conta que antes ela e seu irmão pensavam que seu pai era vendedor de remédios para depois sim descobrir que foi um policial que trabalhava no Serviço da Inteligência.  Inclusive para pensar esta radical experiência de teatro que entrelaça herança política com documento cênico, vale comentar que Mi vida después se transformou numa prova jurídica a partir do relato de Vanina Falco ao falar contra o seu pai.  O depoimento da performer se transformou num elemento de prova criminal para a instituição da Justiça na Argentina. É interessante notar como um espetáculo teatral surgido a partir do mote do biodrama se transformou num instrumento jurídico.  Após este acontecimento divulgado em instâncias públicas, como foi o caso do meio jornalístico La Nación, houve uma significativa mudança do espetáculo no momento em que Vanina Falco fazia a cena que relatava o fato.  No caso, a performer explica em cena como ocorria a cena desde as primeiras apresentações e incorpora no seu relato como o espetáculo serviu de prova jurídica para colocar o seu pai na cadeia.  Isso revela o caráter de atualidade pertinente ao biodrama como uma variante contemporânea do teatro documentário. Aqui encontramos um exemplo de como o teatro conseguiu burlar os códigos institucionais para falar de uma questão que antes não estava permitida por meio de instâncias jurídicas.  A atriz conseguiu transformar a sua experiência artística numa provocação para a instituição penal de seu país.  As camadas afetivas foram transpostas artisticamente para o teatro, tornando-o fonte de testemunha e instrumento de penalização contra o pai da atriz.  Este exemplo mostra como o teatro foi usado como uma nova implicação de moral, já que não se trata somente de encenar formas de vida, mas também de avaliar, julgar e punir.  A atriz não se contentou com os limites impostos pela justiça e fez uso de seu próprio ofício artístico como um instrumento jurídico.  Ela questionou a condição jurídica de seu país e provocou uma mudança penal.  Em Mi vida después, percebemos o político se superpondo a uma questão pessoal.