Quarentena, de Wilson Guanais
Escrever
Pintar
Esculpir
Tudo
Isso
Fortalece
Meu
Sistema
Humano
Lógico
Wilson Guanais
Coitado
disso que é semente ainda
Eu
não alimento
medo
algum
Prefiro
deixar
o
bichinho ali
sempre
ao
alcance
dos pés
sou
dois tantos
distraído
e de
vez
em quando
tropeço
nele.
Clima de Tensão, de Brunno Vianna
Tira um sapato e o outro.
Abre a porta. Fecha a porta. Passa álcool em gel na maçaneta. Passa álcool em
gel nas mãos. Espirra. Clima de tensão! Corre para o banheiro, lava a mão, lava
a torneira, lava o mundo inteiro e aguarda, mas outro espirro não vem. Sente um
alívio. Senta no sofá, pega o controle remoto e liga a televisão. O telejornal
fala sobre a pandemia. Muda de canal. O outro telejornal fala sobre a pandemia.
Clima de tensão! Liga para os amigos. Uns dão boas notícias, outros dão más
notícias. Desliga a televisão. Precisa ir à farmácia. Abre a porta. Fecha a
porta. Passa álcool em gel na maçaneta. Coloca um sapato e o outro. Olha para o
sol. Espirra. Clima de tensão! Pensa em ir ao médico mais tarde. Pensa em não
ir. Precisa ir à farmácia. Sai. Em menos de quinze minutos já está em casa
novamente. Tira um sapato e o outro. Abre a porta.
Politicamente correto, de Wilson Guanais
Ou seja “uma
mão lava
a outra”
- esqueça
a direita
e a esquerda
:estão
contaminadas
se possível
tome 1 banho.
Pedaços, de Brunno Vianna
Os livros estão
aglomerados nessas caixas pálidas. Desde dezembro não os vejo. Repito essa
frase com veemência. Já não sei se falo mesmo desses livros, dos familiares
isolados ou desses meus pedaços. Um espelho acabou quebrando em uma tarde
dessas. Olhei-me fragmentado. Joguei fora esses pedaços. Talvez eu sinta uma
falta misteriosa de alguma capacidade possível de se multiplicar.
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