quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Lançamentos de livros
O blog Encontro de Cultura volta das férias falando da nova safra de poetas. Faz muito tempo que não vejo um mês tão movimentado quanto novembro. Isso só mostra que apesar da crise, a cultura resiste. A FLUPP da Cidade de Deus mostrou a cara desta resistência, autores que nascem na margem e que muitas vezes só encontra caminho na literatura independente, poetas e poetisas que buscam um lugar ao sol. Para quem quer conhecer alguns dos novos autores, no dia 18 / 11, Débora Zambi estará lançando o seu livro "João de Monte Belo"no IV Festival Literário Internacional de Diáspora Africana de São João de Meriti às 18:00 na Tenda Carolina de Jesus. É bom chegar antes das 18:00 para prestigiar os demais eventos do Festival. Enquanto isso, hoje vai rolar o lançamento do livro "O Mistério das Quatro Estações" de João Pedro Roriz, que comemora dez ano de carreira no Centro de Artes Calouste Gulbenkian. É arte que não acaba mais!
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
Ser ou não ser?
Não
sei se Hamlet é o primeiro homem moderno. Não digo que não o é, apenas constato
a minha dúvida, sabendo desde já que a negatividade da resposta não desmerece a
obra shakespereana, que inspirou sem sombra de dúvida, nomes como Fiódor
Dostoiévski, Johann Wolfgang, Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche e Lacan. Afirmar ou negar qualquer coisa a respeito
desta obra de Shakespeare é quase o mesmo que caminhar na corda bamba com perna
de pau.
Em síntese, Hamlet é um dos personagens mais complexos, admirados e apaixonantes
da literatura mundial, suscitando distintas interpretações que permeiam,
inclusive, o Tempo Presente.
Shakespeare
esboçou em linhas dramatúrgicas o que acontecia em seu tempo. Retratou a época,
mas com suma perfeição. Independente de qualquer coisa, inaugurou a capacidade
de autoreflexão ao colocar o homem diante da
morte e diante de si mesmo. Portanto, Hamlet é um homem livre, mas ainda refém
de uma força superior, no caso, o espectro do pai que pede a vingança. Na
quinta cena, Hamlet chega a apelar ao céu e ao inferno, o que demonstra que
apesar do autor ser renascentista, a obra se passa em plena Era Medieval.
A origem inglesa do autor certamente pesa na obra. Ao
contrário de outros países da Europa, o protestantismo adentrou a Inglaterra de forma gradual, o que
justifica a catolicidade dos personagens shakespereanos. E o protestantismo é
justamente uma das vias do Renascimento.
Os
soldados avistam o epectro do rei falecido, logo, avisam ao príncipe Hamlet. O
espectro diz que foi assassinado e que está a condenado a vagar pela noite e
jejuar nas chamas durante o dia até pagar os seus pecados, mais uma representação
do dogma católico – o purgatório. O espírito ainda lamenta que morreu sem a
extrema-unção e sem a confissão.
Nesta
conjuntura, Shakespeare levanta questões comuns ao ser humano, questões que
permeiam a vida e a morte, reflete uma nova maneira de pensar em Deus, uma
maneira que gradualmente se concretiza no ideário moderno.
É bem
provável que Shakespeare tenha se inspirado na hoje esquecida Tragédia Espanhola
de Thomas Kid e na história do príncipe dinamarquês Amlet, contada por Saxo Grammaticus no livro Historiae Danicae, e que
deve ter chegado ao conhecimento do nosso autor por meio da versão de François
de Beelforest, em Histories tragiques (1570).
Agora,
com minhas breves observações introduzidas, posso garantir que o meu
questionamento é puramente de cunho filosófico. Ele surge diante da subjetividade
do próprio personagem, que não tem a consciência de assumir os atos por si
mesmo e vive na eterna dúvida de ser ou não ser, abrindo margem para ser uma
intercessão entre o pensamento medievo e o pensamento moderno, amparado, ainda
assim, pelos caracteres da tragédia grega, sobretudo, em uma linguagem edpiana.
Em
nome do pai, Hamlet, o príncipe da Dinamarca resolve se vingar do tio, agora,
seu padrasto, e portanto, ocupante do trono da Dinamarca. Orestes, personagem
da tragédia grega Electra, escrita por Eurípedes passou por um dilema
semelhante. Precisava, a mando do deus Apolo, vingar o assassinato do pai,
matando a assassina, que no caso, era sua mãe. Visto que já não cabia inserir o
panteão grego na Era Medieval, tampouco, na Moderna, fora utilizado o espectro
do próprio rei, que em vez de ordenar, pede a vingança. Percebe-se aí o livre
arbítrio.
Há
muita coisa em comum entre as duas obra clássicas. Hamlet conta com a amizade
de Horácio, enquanto, Orestes conta com a amizade de Pílades. Tanto Shakespeare quanto Eurípedes bebem da
fonte de Aristóteles. Além disso, ambos os heróis estão de regresso do
estrangeiro. Essas coincidências não são em vão, visto, que os autores
renascentistas buscam resgatar os valores da antiguidade clássica. Há quem diga
que o helênico não carrega a agonia de Hamlet, mas pode-se dizer que Electra
carrega.
Bibliografia
ARISTÓTELES. Arte Poética. São
Paulo: Martin Claret, 2007.
______. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin
Claret, 2007.
BRANDÃO, Juanito de Souza.
Teatro grego: tragédia e comédia. 10. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
ÉSQUILO. Trilogia de Orestes.
Rio de Janeiro: Ediouro, 1988.
LORANT,
André. Hamlet. In: GRIMAL, Pierre. Dicionário de mitologia grega
e romana. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 436-439.
SHAKESPEARE,
Willian. Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2008
domingo, 17 de julho de 2016
O Doente Imaginário
Assisti mais uma vez o espetáculo "O Doente Imaginário" da Cia Depois do Ensaio. Livremente inspirado na obra original de Moliére, sob direção de Thales Sauvo, que ganhou o prêmio de melhor direção no Festival do Teatro Henriqueta Brieba, se destaca por inserir elementos da contemporaneidade, mantendo toques da chamada Commedia Dell'Art. Neste festival, O Doente Imaginário também levou a melhor nos quesitos atriz coadjuvante, cenário e figurino. Aliás, o cenário, o figurino e a musicalidade dão um tom poético ao espetáculo, realizado constantemente em lonas culturais, arenas e praças.
Recentemente, o Grupo Depois do Ensaio competiu no 3o FESTTAQ em Taquaritinga (SP) na categoria rua / alternativo, conquistando seis prêmios: Melhor Maquiagem, Melhor Figurino, Melhor ator (Zé Lu Gonçalves), Melhor atriz (Patrícia Furtado), Melhor direção (Thales Sauvo) e Melhor espetáculo.
Ficam aqui meus incansáveis aplausos a todos envolvidos, não somente pelo bom espetáculo que proporcionam ao público e pelos merecidos prêmios, mas, pela garra, pela vontade de levar a arte adiante, pelo trabalho de equipe tão visível aos olhos que acompanham esta trajetória brilhante.
Ficha Técnica
Recentemente, o Grupo Depois do Ensaio competiu no 3o FESTTAQ em Taquaritinga (SP) na categoria rua / alternativo, conquistando seis prêmios: Melhor Maquiagem, Melhor Figurino, Melhor ator (Zé Lu Gonçalves), Melhor atriz (Patrícia Furtado), Melhor direção (Thales Sauvo) e Melhor espetáculo.
Ficam aqui meus incansáveis aplausos a todos envolvidos, não somente pelo bom espetáculo que proporcionam ao público e pelos merecidos prêmios, mas, pela garra, pela vontade de levar a arte adiante, pelo trabalho de equipe tão visível aos olhos que acompanham esta trajetória brilhante.
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Elenco reunido após apresentação no SESC Ramos |
Ficha Técnica
Texto Original: Molière
Concepção e Direção: Thales Sauvo
Preparação Corporal: Caio Passos
Concepção Musical: Fabricio Neri
Figurino: Patricia Furtado e Ateliê Maria Fran
Cenário: Thales Sauvo
Iluminação: Ronaldo Damazio
Preparação Vocal: Tamara Innocente
Visagismo: Apoliane Phifer
Intérpretes: Darci Tomelin, Fabrício Neri, Fernando Leão, Izabe Camargo, Patrícia Furtado e Zé Lu Gonçalves
Intérpretes: Darci Tomelin, Fabrício Neri, Fernando Leão, Izabe Camargo, Patrícia Furtado e Zé Lu Gonçalves
Fotografia: Pablo Rocha Gonçalves e Mônica Parreira
Realização: Grupo Depois do Ensaio
História e Literatura: uma união possível
É possível ensinar História através da Literatura? Respondo que sim. Em 2012, durante as pesquisas para o Trabalho de Conclusão de Curso da pós graduação em História e Cultura da América Latina, deparei com um poema de Machado de Assis sobre a Guerra do Paraguai. Quando comecei a lecionar (2013), resolvi apostar em aulas de História, Filosofia e Sociologia que mesclassem poesia e música, respeitando o conteúdo programático. Não foi fácil. Nunca é fácil romper com qualquer padrão, mas os alunos, no geral, se interessaram mais pelas disciplinas, as notas aumentaram.
A poesia foi um incentivo a mais para eles e para mim. Hoje tenho alunos que escrevem poemas e músicas, alunos que fazem teatro,que desenham, alunos que querem ser professores de História, Matemática, Educação Física... Por conta das aulas diferenciadas fui citado em uma edição da revista argentina Alas de Papel, tenho sido convidado para mesas redondas, palestras e eventos culturais, tenho participado de antologias literárias que abordem temas históricos / historiográficos. A minha maior realização é o reconhecimento dos meus alunos, é ouvir um deles falar: Professor, resolvi voltar a estudar, é ouvir um deles falar: Professor, obrigado! Em síntese, a união da História com a Literatura não só é possível, como é fundamental.
sábado, 9 de julho de 2016
Vivendo a poesia de Jean Carlo Barusso
Confesso que sou refém do chamado empreendedorismo literário. Como poeta, a internet amplia o meu ofício. Como leitor, a internet amplia o meu vício. A minha mais nova aquisição foi o livro Viva a / à Poesia de Jean Carlo Barusso que muito me chamou em duas coisas: a forma como vende os seus livros, cativando o leitor e a simplicidade estampada nos versos, geralmente breves e objetivos. Jean fala de gente, aliás, fala da gente e dos sentimentos que nos rodeiam. Fala principalmente sobre a imperfeição humana. Por isso não é difícil se apegar ao livro. Me (a)pego lendo várias vezes os mesmos versos na tentativa de saber mais de mim através da obra do outro. Sim, Viva a / à Poesia é um espelho, é onde acabo me (re)vendo. Sim, eu vivo a poesia e vivo para a poesia. Obrigado, Jean.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
Encontro de Cultura com BRUNNO VIANNA
Quando foi a sua primeira inserção no Teatro
(Como ator ou diretor)? (por Márcio Zatta, diretor de teatro)
Sempre gostei de assistir teatro, mas a minha
inserção nele foi por acaso. Queria fazer um curso de informática na Estácio de
Sá, mas o único curso de férias que tinha vaga era o de teatro, então, resolvi
fazer e gostei. Lá me recomendaram o curso livre de Interpretação no Teatro
Falabella. Inicialmente fiz para ter acesso aos grandes dramaturgo, mas acabei
ficando... Isso foi em 2008.
Você sempre escreveu? Desde que idade? (por Adriano Errer,
ator)
Não. Sempre gostei de ler, mas os clássicos
nacionais de Machado de Assis e José de Alencar. Não tinha tanto interesse por
poesia. Quando comecei a escrever tinha uns 20 anos. Peguei gosto mesmo na
faculdade, por conta de alguns trabalhos realizados na disciplina Práticas
Pedagógicas. Lá eu tive que escrever poesias, acabei gostando. Consequentemente
passei a gostar de ler poesia também.
Entre tantas realizações e prêmios, qual teve maior
relevância, um significado especial, e por quê? (Por Victor Fontoura, ator)
São tantos... Primeiramente, o Prêmio Machado de
Assis por ter sido o primeiro. Me abre portas até hoje. Tem o Concurso Crônicas
Cariocas, onde tive a melhor classificação com alguma crônica. As antologias “O
Negro em Prosa e Verso” e “Rio de Palavras – 450 anos de História” da Litteris
Editora, “Memórias e Fragmentos da II Guerra Mundial” da Editora Illuminare e “Professores
não só ensinam, eles também escrevem” da Big Time Editora, por terem um cunho
histórico e pedagógico; as antologia “Confluência de Palavras”, meu primeiro
prêmio internacional e “Palavras en El Agua”, por ser um concurso promovido
pela UNESCO. Tem também “Poesia Todo Dia”,
um projeto bem bacana que me permitiu ajudar a APAE.
Como você se vê, ator e poeta? (por Débora Zambi, escritora
e atriz)
Pergunta difícil, rs... Já me vi de tanta
forma... Mudo sempre de opinião. Faço
teatro para tentar entender o mundo. Escrevo para tentar explicar o meu mundo.
Estudou História para ser aprofundar mais no teatro ou para
ser professor? (por Gustavo Douglas, ator)
Para ser professor, mas o teatro é um bom
complemento.
Brunno, sou sua amiga de Colégio (Ensino Médio). Gostaria
de saber quando e qual motivo fez você escrever poesias tão lindas? (por Larisa
Torres)
Hoje em dia escrevo mais para questionar o que
acho errado. Mas a natureza também me inspira muito. Tenho alguns autores como
referências: Clarice Lispector, Cecília Meireles, Mário Quintana...
O que eu quero saber é de onde vem sua inspiração e porque
de você, sendo escritor, também não atua? (por Sandra Oliveira, empresária e
atriz)
Tem tanta coisa, tanta gente que me inspira que é
difícil resumir isso. Gosto de escrever sobre o que não vi, os fatos
históricos... Gostaria de me dedicar mais ao teatro. Por outro lado, os livros
estão repercutindo bem, dando bom retorno, então, isso acaba ficando em
primeiro plano. Tento na medida do possível fazer alguma oficina livre para me
atualizar e em breve estarei participando de um espetáculo.
Escrever porque tenho mais facilidade pra isso. A
escrita me dá mais liberdade, mas gosto muito dos desafios que o teatro e uma
sala de aula proporcionam e sinto falta disso. As declamações são muito
recentes pra mim, ainda estou me adaptando, rs.
O que é a vida? (por Rafael José Nogueira, historiador e poeta)
Ainda estou descobrindo. Arriscaria dizer que é um plural de coisas que não precisa fazer sentido, mas precisa ser sentida.
O que é a vida? (por Rafael José Nogueira, historiador e poeta)
Ainda estou descobrindo. Arriscaria dizer que é um plural de coisas que não precisa fazer sentido, mas precisa ser sentida.
terça-feira, 14 de junho de 2016
O Grande Momento de Letícia Spiller
Letícia Spiller não cansa de se reinventar. A atriz, em cartaz ao lado de Rosamaria Murtinho no espetáculo "Doroteia" de Nelson Rodrigues se prepara para "Sol Nascente", novela que substituirá "Êta Mundo Bom" às 18:00. Na trama de Walther Negrão, Júlio Fischer e Suzana Pires, a bela interpretará a cantora Helena. Além disso, Jorge Farjalla, diretor da Cia Guerreiro, responsável pela montagem de "Dorotéia" tem um novo projeto para a atriz, desta vez, inspirado no universo de Shakespeare. Enquanto Hamlet não vem, recomendo que assistam "Dorotéia" no Teatro Municipal de Uberlândia entre os dias 24 e 26 de junho.
quarta-feira, 4 de maio de 2016
Partículas de Um Qorpo Santo
É
comum nos editais das escolas de artes cênicas constarem nomes como Ionesco e
Beckett, alguns dos principais nomes do Teatro do Absurdo no mundo. Todavia,
pouco se fala dos autores brasileiros que seguem esta linha. O primeiro do
Teatro do Absurdo no Brasil foi Qorpo Santo, pseudônimo de José Joaquim de
Campos Leão (1829 – 1883). Apesar de
tanto tempo, este é um dramaturgo que ainda está sendo descoberto. Os números
de montagens de espetáculos de sua autoria foram aquém do esperado, se
considerarmos que Qorpo Santo era um dramaturgo à frente de seu tempo.
O
diretor Márcio Zatta, conhecedor do Teatro do Absurdo não poupou tempo e nem os
atores (Roberto Meniguelo, Dayane Céa, Matheus Pinho, Felipe Gonçalves e Ítalo
Leal) para trazer à cena no CATP (Taquara - Rio de Janeiro) um espetáculo inspirado na polêmica, insana e
incompreendida obra de Qorpo Santo. O próprio nome da peça (Partículas de um
Qorpo Santo) reforça a complexidade do dramaturgo e as mais variadas visões que
se pode ter a respeito dele, afinal “Partículas de um Qorpo Santo” não é “Partículas
do Qorpo Santo”. Da mesma forma, escancara que se trata de um fragmento com
devidas intervenções, lembrando que Qorpo Santo era a favor de intervenções em
sua dramaturgia.
Como
era de se esperar a peça é repleta de movimentos. O ritmo é frenético, intenso.
Apesar disso, nenhum dos atores demonstra cansaço em cena. Foge da linearidade
e do maniqueísmo e adota um tom farsesco. Os cuidados com as marcações e com as
ações / reações dos atores foram notáveis. Prevalece, com certo louvor, a
ausência de comunicabilidade. Os egos e interesses humanos são apresentados nas figuras de Matheus e Matheusa que aos
cinquenta anos de casamento trocam acusações, e também nas figuras das filhas
Silvestra, Pedra e Catarina, interpretadas por homens.
Ao
meu ver o absurdo não isenta o realismo, soma-se a ele. É a pincelada deste
realismo tão absurdo que faz o público se identificar, vez ou outra, com a
rotina das personagens, proporcionando uma crítica atemporal aos casais que se
aturam.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Sobre Baal
Sabe quando uma peça de teatro te rasga densa e intensamente, te perturba, tira do ninho e coloca para pensar? BAAL,
a primeira peça escrita por Bertholt Bretch tem o ingrediente básico que um bom
espetáculo precisa: ousadia. Foi escrita em 1918 e trata-se, de certa
forma, de uma resposta a “O Solitário”, escrita
em 1917 por Hanns Johst. Brecht entrou em desacordo com a história de Johst sobre
o poeta alemão Grabbe repleta de idealismos. Portanto, Baal é mais realista e
menos romântico. Também é notável que Brecht se inspirou em obras do dramaturgo
Büchner, do poeta Rimbaud e na vida de Josef K. A multifaceta da obra permite um expressionismo
isento de idealismo e ao mesmo tempo, repleto de críticas à burguesia europeia.
Em
hebraico, Baal significa senhor, patrão, marido ou divindade. Miticamente, era
um deus semita, adorado por cananeus e fenícios, tendo o controle do sol, da
chuva, dos trovões, da agricultura e da fertilidade. O Baal de
Bretch é poeta, cantor, sedutor nato e um bêbado errante. Engravida Sophie e
seduz a amante do melhor amigo Ekart, a quem assassina. O personagem contrapõe
a coragem ao medo. É capaz de amar e odiar com a mesma intensidade.
Ao
primeiro olhar, a peça parece desmerecer as mulheres, mas na verdade,
representa um tempo histórico, o pós Primeira Guerra Mundial. O certo é que as impressões a respeito
desta peça são muitas e o diretor Thierry
Tremouroux, responsável pela montagem apresentada no estacionamento do
Freeway Center (Barra da Tijuca –
RJ) soube aproveitar muito bem isso. Logo no começo, parte do elenco, que conta
com Aline Marques, Beatrice Sayd, Bianca Sacks, Brigida Menegatti, Bruna
Macaciel, Carolina Alfradique, Dhan Marcell, Diana Werneck, Dom Maia, Duda
Paiva, Éllen Rambo, Fabiana Gois, Felipe Fagundes, Gerson Ferreira, Lívia
Frazão, Luisa Bruno, Marco Lourenço, Marilha Galla, Rafa Baronesi, Rodrigo
Turazzi, Tadeu Tannouri, Táyra Sodi, Victor Fontoura, Wagner Herrero e Yris
Sampaio esclarecem suas opiniões sobre o espetáculo que surpreende com um carro
que invade o palco, fogos de artifícios, pessoas e poesias nuas e cruas...E O que é mais provocativo que isso? Baal é sem dúvida uma válvula de
escape para o atual mundo polarizado em que vivemos e isso basta!
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Teatro em Taquara
Quer um final de semana diferente? O teatro pode proporcionar isso. A dica da vez é o Laboratório de Teatro da CATP, que reúne esquetes de diferentes autores com um objetivo em comum: provocar o público, através do palco nu, aquele sem cenário e poucos objetos cênicos em um ambiente intimista. Toda aposta está no talento do elenco, guiado por diretores seguros. É impossível não sair de lá provocado e emocionado. É impossível sair de lá com as mesmas ideias.
"Decifrando Sade" de Márcio Zatta, mergulha na vida do inusitado Marquês de Sade, uma das personalidades mais intrigantes da literatura mundial.

"Pirandello Reduzido" do mesmo diretor é calcada no extremo ciúme do marido por sua esposa, sendo livremente inspirada na obra do dramaturgo italiano Luigi Pirandello.

Flávio Alves, também marca presença na direção com "Inquisidor", baseada no poema contado por Ivan Karamazov ao seu irmão Alieksei, dentro do livro Os Irmãos Karamazov.

Além disso, assina o texto "Anos de Chumbo", dirigida por Roberto Meniguelo. Nada mais propício, não é verdade?

Já a cena Filho Meu, inevitavelmente nos remete ao espetáculo Filho Eterno, justamente por ser um monólogo e pela temática da síndrome de down. É bom considerar que ser comparado com os Atores de Laura não é pouca coisa. Aliás, a cena escrita por Rodrigo Santos, que também interpreta, e dirigida por Marquinhos Sylvestre tem seus méritos, que não são poucos.

Quer tiras suas próprias conclusões? Apareça no Teatro da CATP (Estrada do Tindiba, 2495, Taquara - Jacarepaguá). O espaço fica bem perto do BRT de Taquara.
"Decifrando Sade" de Márcio Zatta, mergulha na vida do inusitado Marquês de Sade, uma das personalidades mais intrigantes da literatura mundial.

"Pirandello Reduzido" do mesmo diretor é calcada no extremo ciúme do marido por sua esposa, sendo livremente inspirada na obra do dramaturgo italiano Luigi Pirandello.

Flávio Alves, também marca presença na direção com "Inquisidor", baseada no poema contado por Ivan Karamazov ao seu irmão Alieksei, dentro do livro Os Irmãos Karamazov.

Além disso, assina o texto "Anos de Chumbo", dirigida por Roberto Meniguelo. Nada mais propício, não é verdade?

Já a cena Filho Meu, inevitavelmente nos remete ao espetáculo Filho Eterno, justamente por ser um monólogo e pela temática da síndrome de down. É bom considerar que ser comparado com os Atores de Laura não é pouca coisa. Aliás, a cena escrita por Rodrigo Santos, que também interpreta, e dirigida por Marquinhos Sylvestre tem seus méritos, que não são poucos.

Quer tiras suas próprias conclusões? Apareça no Teatro da CATP (Estrada do Tindiba, 2495, Taquara - Jacarepaguá). O espaço fica bem perto do BRT de Taquara.
quarta-feira, 6 de abril de 2016
História em Versos
Não posso dizer que não
gostava de poesia, até porque eu não lia poesia. Comecei a escrever poesia na
faculdade de História, em especial nas aulas de Práticas
Pedagógicas, onde cada aluno precisava, através das artes, falar de inclusão
social. Assim nasceu o poema Identidade.
Depois de começar a escrever é que comecei a ler poesia com certa frequência.
Em 2012, em parceria com o
historiador Charles Lucas Caetano, iniciei as pesquisas para o trabalho de conclusão
de curso da pós – graduação em História e Cultura da América Latina. O tema
escolhido foi: “Guerra do Paraguai: Visões Históricas, Artísticas e Literárias”.
A minha grande surpresa foi encontrar um poema de Machado de Assis narrando
partes da guerra.
A poesia estava mais ligada
à História do que eu poderia supor. Resolvi usar a poesia para ensinar os meus
alunos e deu muito certo. Muitos deles pegaram gosto pelos livros, pelas
poesias, aliás, muito deles passaram e escrever poesias. Alguns já escreviam,
só precisavam de uma empurrãozinho.
Cada conquista de algum
aluno meu é uma conquista minha. Cada livro que publico, dedico a eles. Hoje,
tendo participado de livros como “Professores não só ensinam, eles também
escrevem” da Big Time Editora, “A Matriz da Palavra – O Negro em Prosa e Verso”
e “Rio de Palavras – 450 anos de História” da Litteris Editora, posso afirmar
que a História não se limita, nós é que a limitamos.
quinta-feira, 31 de março de 2016
Crítica Teatral: "Dorotéia - Uma Farsa Irresponsável"
Não sou crítico de teatro. Sou apenas um espectador que se encanta com qualquer tipo de arte. Desta vez venho falar sobre "Dorotéia - Uma Farsa Irresponsável", peça escrita por Nelson Rodrigues. Trata-se da história de uma prostituta que cansada da beleza decide se refugiar na casa das parentes feias. O diretor Jorge Farjalla consegue com segurança desnudar a dramaturgia rodriguiana. É o típico de peça que causa náuseas. Graças! Não me permito sair do teatro em estado de incolumidade. O público se choca porque se vê.
O cenário nebuloso, os figurinos épicos e a musicalidade deram um tom poético a uma peça mítica (e de certa forma psicanalítica), que poucas pessoas tiveram a ousadia de montar, talvez, em virtude de sua complexidade. As contradições começam com o título: Dorotéia não é uma farsa, muito menos, irresponsável. A própria protagonista não sabe se quer ser linda ou feia e acaba querendo as duas coisas. Como prostituta, ela fala de amores, ao mesmo tempo em que fala da falta de amor. Soma-se a isso mais um contraste: a ideia de colocar os homens-jarros, personagens que estão no palco e ao mesmo tempo não estão; assumem a função de personagens e a de espectadores. É tudo muito louco, mas uma loucura que deu certo.
A temporada no Jardim Botânico nasceu em um momento propício: a comemoração dos sessenta anos de carreira da magnífica Rosamaria Murtinho, que estrela o espetáculo ao lado de Letícia Spiller, impecável como a personagem título. Todavia, a personagem que mais chamou minha atenção foi a menina morta, interpretada por Anna Machado, com desenvoltura impar. Às vezes ela parece mulher, às vezes parece menina. Dida Camero, Jacqueline Farias e Alexia Deschamps também defendem bem suas personagens. Todo o elenco tem uma presença muito forte em cena.
Em um momento tão conturbado para o nosso país, onde ultrapassam o limite do bom senso com tantos discursos de ódio, a dramaturgia de Nelson, sempre atual, questiona o radicalismo ao proporcionar o embate entre as feias e a bela Dorotéia. O mito da beleza desmorona. Todo mundo envelhece. É preciso saber envelhecer. Algumas falas remetiam ecos, representando as ideias pré-concebidas que se espalham entre as pessoas.


sábado, 26 de março de 2016
O Grande Circo Imaginário - crítica
Apresentar um espetáculo infantil é uma grande e difícil missão para qualquer ator, pois este é um público sincero. Os atores ROBERTO MENIGUELO e FELIPE GONÇALVES conseguiram manter durante o espetáculo O GRANDE CIRCO IMAGINÁRIO um bom dinamismo, chamando atenção das crianças e dos adultos. É mais um mérito para o diretor MÁRCIO ZATTA, que dirige peças infantis e adultas (como Apocalipse) com o mesmo pulso e segurança. Os palhaços interpretados pelos atores formam um interessante contraponto. Enquanto um carrega a ingenuidade, o outro é o típico malandro. Apesar das diferenças, possuem uma coisa em comum: os sonhos, ou melhor, a eterna busca pelo circo imaginário. Trata-se de uma bela homenagem não só aos palhaços, mas aos artistas em geral, que sempre procuram se reinventar dentro de sua arte. Os atores, que encerraram recentemente uma temporada no Teatro Armando Gonzaga (Marechal Hermes - RJ) se preparam vai percorrer escolas de todo o Brasil a partir de maio.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Francisco - do tempo em que se nascia bufão
FRANCISCO – DO TEMPO EM QUE
SE FAZIA BUFÃO encerrou recentemente uma belíssima temporada no Teatro Ipanema.
A peça contou com elenco formado por O elenco é formado por Poliane Phifer, Cleyton Diir, Jefferson dos Santos, Lucas Botelho, Marcele Nogueira, Rafael Ribeiro, Tamara Innocente, Thales Sauvo e Vinícius Domingues. A dramaturgia e a direção ficam a cargo de Ângelo Faria Turci. A
roupagem medieval, os trejeitos peculiares das personagens e a suave
musicalidade levaram ao espetáculo do Theatrum Mundi, muita poesia e um caráter
intimista. O espectador se diverte e se emociona do princípo ao fim com a
tragetória da trupe faminta que deseja montar a história de São Francisco de
Assis. Durante o processo, os atores, enfrentam, além da fome, a solidão, o frio
e o medo que o tempo passe e perdas de bons amigos. A grande mensagem, é que
aconteça o que acontecer, o teatro tem que continuar... E que venham os
aplausos!
Entrevista com a escritora Débora Zambi
Desde
que resolvi retomar meu blog, pensei em entrevistar artistas completos. Este é
o caso de Débora Zambi, que lançou o livro “Aos Olhos do Poeta” na Bienal do
Livro (RJ) e agora começa a descobrir o mundo do teatro. Como estão sendo essas
descobertas? Como era a Débora antes do teatro e como é a Débora depois do
teatro?
Fascinante, antes eu era um ser a procura de algo, hoje encontrei meu
ser em algo que é o teatro! Ele me trouxe vida e abriu meus horizontes, posso
ser tantas em uma só, posso manifestar minhas insatisfação ou satisfação
através da arte!
Poeta
ou poetisa?
sou poetisa, é
assim que gosto de me titular , sei que tem colegas que gostam de serem
chamadas de poetas, mas eu confesso sou feminista, acho que cada um gênero e eu
uso o meu!
Além
de escrever, produzir, ministrar palestras, e agora atuar, você é mãe. Como
consegue conciliar? Como o seu filho lida com tudo isso?
Quando você ama o que faz e realmente quer se dedicar a isso, arruma um
jeito. O segredo é se programar, minha
vida é toda programada. Nas horas vagas eu estudo e posso contar com meu esposo
excelente que divide as tarefas do filho comigo! Enquanto meu filhote , ele me
surpreendeu a primeira vez super adora me acompanha nas agendas culturais ,
algumas que dar pra levar eu o levo, ele é apaixonado por teatro , já assistiu
todas as minhas apresentação do infantil com meu palhaço , ele vibra em todas
elas como se fosse a primeira vez, participa, opina , descobri que ele é um
ator nato , já fizemos uma série de web juntos ele como personagem principal ,
deve estrear esse ano pelo cine oportunidade e no teatro participa comigo em
alguns ensaios! Ele adora a arte! isso facilita, já que não tenho empregada nem
babá.
Vejo
que andas mergulhada no universo infantil. Pode falar alguma coisa sobre o
livro que está escrevendo para crianças? De alguma maneira, o seu filho
influencia nesta empreitada?
Meu filho é claro que me influenciou, a maternidade tem isso, queremos
fazer algo para melhorar a sociedade que deixaremos para os nossos. Me tornei
mais sensível às coisas ao meu redor, o mundo ganhou um colorido. O universo infantil é mágico. Quando fui convidada para
fazer teatro pela minha querida amiga e diretora Sany Baroni, ganhei dela de
presente o palhaço Carambola; fui percebendo que esse dom de lidar com as
crianças vem de tempos em mim , já trabalhei em diversas áreas com crianças e o
Carambola me fez achar esse equilíbrio , a troca com elas é fascinante, a
recompensa, a sinceridade me fizeram querer muito escrever para elas; pensei em
algo como poesias, Uma história divertida com o Palhaço Carambola, mas acredito
e afirmo por experiência própria, que o escritor não escreve o que ele quer mas
sim algo que a sociedade precisa , não que poesia para crianças esteja
descartada mas no momento veio uma linda história infantil que acabei de
publicar e será adaptada para o teatro.
É sobre o que?
É sobre o povo indígena , um amigo que morou em minha casa em Araruama
na região dos lagos era um indígena da tribo ticuna em Manaus ele me
influenciou com suas histórias sobre seu povo e muito queria falar de nossas
raízes, nosso povo, uma princesa sem ser da Disney, de fora, mas Brasileira com
que as nossas crianças se vejam, se identificam e não com esse estereótipos que
a sociedade nos impõe, minha diretora também tem a mesma visão de teatro, então
nós unimos com propósito de levar a nossa Brasilidade na arte!
De
onde surgiu a ideia de interpretar o palhaço Carambola?
A idéia surgiu da minha diretora de teatro, Sany Baroni que interpretava
e dirigia a peça, um belo dia ela decidiu só dirigir e me fez o convite que
aceitei imediatamente!
Como disse meu pai que nunca imaginou na família ter um palhaço , na
verdade nem eu, ele ganhou vida própria e foi pra rua !
O que
te levou a escrever?
Os amigos. Me lembro o dia do primeiro aniversário do meu filho que
fiz uma homenagem a ele lendo o poema que escrevi assim que ele nasceu, todos
aplaudiram e disseram que eu tinha que publicar um livro pois eu tinha o dom da
poesia , das palavras, família e amigos sempre pediam que eu fizesse um poema
para homenagear alguém ou alguma coisa, até minhas sobrinhas tem poema, cada um
da minha família me inspira de alguma forma, escrevo desde que me entendo como
gente , desde muito pequena eu lia muito e escrevia histórias , poemas, sou de
uma época da caneta e papel, envelopes de cartas, coleção de papel de carta,
cartões, enfim de pessoas que escreviam e liam o tempo todo, hoje com o teclado
e computador, facilitou para um lado e impossibilitou para outro, sou da época
das pesquisas em bibliotecas físicas e livro emprestados , acho que isso criou
um hábito e contribuiu para quem sou.
Quanto
tempo você demora para escrever um livro?
Depende muito, levei seis meses para escrever um romance , o de
poesias levei um ano, mas um poema escrevo e um ou dois dias dependendo se ele
vem pronto como na maioria das vezes, se não vou escrevendo ao longo do que é
me passado fielmente pela inspiração.
Lançar
um livro na Bienal certamente faz a diferença na carreira de um escritor. Como
foi a repercussão do livro por lá? Também lançou em outros lugares? Quais?
Sim, A bienal para a maioria dos escritores é um marco na carreira, é
a consagração , vi alguns amigos escritores dizendo ao contrário, que era só um
tipo de comércio, eu discordo , lá é que estão reunido todos os leitores
compulsivos , de todas as idades e gostos. Lancei no Espírito Santo, fui
para uma rádio de lá falar sobre meu trabalho , fui recebida pela prefeita e
secretárias de educação e cultura, deixei dos livros , uma para biblioteca
municipal da cidade e outra para a escola de ensino fundamental da mesma que me
acolheu e abriu as portas para o evento , já que o teatro municipal estava em
obras, lancei o livro na Arena da pavuna e recebi vários convites para noite de
autógrafos, como o do Cedine , centro estadual dos direitos dos negros, minha
agenda ficou tão lotada que o ano foi pouco para a divulgação do meu livro e
graças a minha participação na bienal , fiquei conhecida e irei este ano para
São Paulo receber uma comenda por ter se destacado minha área como a melhor do
Brasil, representando o Rio de Janeiro, tudo isso graças à bienal!
Em
Brasília, apoiou a marcha das Mulheres Negras com poesias que trabalham a
inclusão. Vejo que a poesia é usada cada vez mais como uma arma contra as
injustiças. Através da poesia, podemos fazer críticas aos nossos governantes e
chamar a atenção da população. Você acha que o povo gosta de poesia? O que
podemos fazer para chamar mais atenção, para que ouçam a nossa voz?
Sim, acredito fielmente que a poesia , num todo a arte tem que ser um
instrumento nas mãos do artista para a mudança de um povo, tenho uma convicção
de que a arte seja ela na música, na poesia, no teatro, no cinema, tem por sua
existência a transformação do mundo, nela podemos gritar, falar, discordar,
fazer valer nossos direitos perante a sociedade, que pena que não vejo isso em
emissoras de televisão que ao invés de abrir a mente de um povo os aprisionam
ainda mais, faz tempo ou anos que não assisto canal aberto, vejo que é
manipulação para a elite. Com minhas poesias fui as ruas de Brasília , lutar
pelos direitos das mulheres negras, que são as maiores vítimas de uma sociedade
machista e preconceituosa, acredito que é nas ruas que devemos gritar pelos
nossos direitos é nela que devemos nos fazer ser ouvidos. O poeta é um
desbravador de mares e continentes, o que realmente me incomoda é ver nas redes
sociais alguns amigos elogiando um outro país sobre cultura, uma pessoa que
recebeu um dom , estudou e pagou os estudos com a ajuda do governo no mínimo
teria que retribuir o que lhe foi dado de bom grado , o problema não é o lugar
e sim as pessoas que não se esforçam pra fazer dele o melhor, digo isso de pessoas
que se quer colocaram a cara a tapa nas ruas, defenderam uma causa ou se quer
se expõe ao sair de sua zona de conforto, como disse uma vez a minha diretora,
Sany Baroni em uma conversa sobre o assunto o que falta é jovens como
antigamente, que ao invés de falar mal iam as ruas lutar , mas tenho bastante
amigos que seguram a causa e lutam por ela , como um amigo Pedro Gerolismich ,
que leva cultura as praças do Rio e agora tem o sarau da Utopia em Marica,
estou muito feliz em ver a poesia nas ruas com saraus e poetas como nós, amigo
Brunno, não deixamos a poesia morrer e vejo que tem crescido os grandes poetas
que surgem a cada dia, isso sim vai difundir ainda mais a poesia, sei que muito
temos por fazer para sermos ouvidos é um processo longo mas que está
progredindo a cada dia e Viva a Poesia!
Você
é frequentadora de saraus que acontecem pelo Rio de Janeiro. Quais costuma
frequentar? O que há em um sarau, além de poesia?
Sim, sou frequentadora assídua. Frequento Arena Jovelina Pérola Negra
na Pavuna, cinevuna da Pavuna, Biblioteca Paulo Freire Anchieta, Marica , sarau
da Flizo e tantos outros que tem pela cidade e que recebo convite, além da
poesia falada declamada tem a cantada, musicalizada e encenada resumindo
teatro, dança, música, artistas plásticos e etc pessoas artistas de todas as
áreas e principalmente chamados de artistas de rua
Você
ganhou um troféu pelo poema “Sonhos e Fantasias. Pode falar um pouco sobre
isso?
Ganhei em 2007 , um concurso de poesias pela editora moderna e junto
com outros escritores meu poema fez parte de um livro de antologia! Isso bem
antes dele fazer parte do meu primeiro livro Aos Olhos do Poeta.
É
verdade quem em 2016 será condecorada com o título de Comendadora?
Sim, recebi no começo do ano a notícia de tal comenda, fruto da Bienal
, é um evento da Brasilider que homenageia os melhores do ano do Brasil pessoas
que contribuem para uma sociedade melhor engrandece a pátria, então em julho
deste vou para São Paulo receber o título e troféu, me sinto honrada e feliz
por essa comenda tão nobre , agradeço a Deus , quem me indicou ( não foi
informado ) mas sei que quando é indicado corre um levantamento de dados antes
de comunicar a pessoa indicada, aceitaram minha indicação me sinto feliz de
estar sendo reconhecida em meu país pela Brasilider e o estado de São Paulo, é
muito bom ser reconhecida em sua terra, na sua casa, antes de ir para exterior,
muita gente foi premiada como a talentosa atriz Cláudia Rodrigues da globo ,
irei representar o Rio de Janeiro , com outros melhores do Brasil, Obrigada
Brasil, obrigada família , obrigada minha editora perse, obrigada amigos ,
Obrigada São Paulo e Brasilider!
Geralmente
você escreve poemas, mas publicou o romance João de Monte Belo. Do que se
trata? Já tem data de lançamento?
Nunca ousei pensar escrever um romance, antes de ser escritora sou poetisa,
ele veio como um conto e se desenvolveu como romance, foi uma experiência
fantástica e única , enquanto escrevia eu era leitora ansiosa e compulsiva para
esperar o próximo capítulo, a história é baseada em João brasileiro,
trabalhador, lutador , mas com uma pitada surpreendente do destino que muda
tudo, o romance tem um pouco do João da música do Legião Urbana, sempre me
intrigou esse João, tive até um sapo com esse nome na parte do João e Viviam
seu grande amor tem uma música que fecha sempre a cena Thousan, fui fiel ao que
me foi passado a história , o lugar que se passa em Araruama região dos lagos,
é uma história surpreendente que vai pegar o leitor até o final, meu primeiro
leitor é uma das pessoas mais críticas que conheço e quando ele terminou de ler
desceu em aplausos, como todo machado tem sua Carolina, meu esposo também é o
crítico, leitor que me deu o ok que precisava para publicar, João de Monte Belo
ainda não tem data marcada para o lançamento, acredito que depois de março
terei acertado lugar , data e hora me acompanhe nas redes assim e ficará por
dentro de tudo:, @deborazambioficial, blogue Poetisa Débora Zambi, fanpage
Débora Zambi e Twitter @deborazambi email ar-gentina@ig.com.br
sábado, 6 de fevereiro de 2016
Entrevista com Márcio Zatta
1) Acredito
que o teatro precisa provocar. O público pode gostar ou odiar, mas não pode
sair indiferente. Das peças que assisti, a mais provocante, em todos os
sentidos, foi Apocalipse. Então, venho aproveitar este espaço para entrevistar
o diretor deste polêmico espetáculo. Márcio Zatta, em primeiro lugar, qual é a
sensação de apresentar uma peça em uma casa, fazendo o espectador percorrer os
diversos cômodos?
MZ: A sensação é de
prazer pleno ao perceber que o objetivo foi e só seria atingido se o trabalho
fosse realizado desta forma. O espaço
escolhido agrega questões fundamentais. O suspense causado por trafegar por entre
locais desconhecidos, espaços distintos com formas geométricas também
distintas, proporcionando a plateia uma observação prismática diferente,
possibilidade de temperaturas e cheiros diversos em cada cena, maior
proximidade entre o elenco e publico e em determinados momentos a inserção
deste público nas cenas, entre outras.
2) De
onde saiu a ideia de montar Apocalipse? Como foi a preparação do elenco e a
repercussão da peça?
MZ: A ideia surgiu em 2002. Eu recebi
um convite para implantar um curso de teatro profissionalizante no interior de
Minas Gerais, na cidade de Divinópolis. Quando estava por lá, conheci o autor e
dramaturgo Izaac Erder e falei pra ele que estava afim de escrever uma peça de
teatro que se passasse dentro de uma casa. Ele me perguntou se eu já tinha o
argumento e respondi que seria algo que
mostrasse a realidade atual. Fui para o hotel onde estava hospedado e comecei a
pensar. Foi aí que me veio a ideia de aproximar o apocalipse bíblico dos dias
atuais e escrevemos a peça em parceria.
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Cena de Apocalipse |
Ensaiamos durante sete meses, cinco
dias por semana. Mergulhamos no processo Artaudiano, pois eu queria pontuar o
espetáculo em cima do Teatro da Crueldade e principalmente do Corpo sem Órgãos.
Ensaiamos exaustivamente e fomos muito mais fundo nas cenas do que realmente
levamos para a encenação, para que se tornasse uma coisa simples e cotidiana
tudo o que acontecia na encenação para os atores, como se recebessem por
osmose. E conseguimos atingir esse objetivo.
A repercussão do espetáculo foi a
melhor possível, desde a primeira montagem em Vitória-ES, onde sites
especializados do teatro local, costumam pontuar que “Apocalipse” marcou época
no teatro capixaba e até hoje sou procurado por estudantes capixabas de teatro
para falar sobre o processo de montagem da peça. Aqui no Rio, da mesma forma.
Sempre pedem para a peça voltar. No final do ano passado o processo de montagem
da peça serviu para a tese de uma estudante de Técnicas de Prevenção contra
Acidente no Trabalho. Ou seja a repercussão foi ótima.
3) No
que diz respeito às reações dos espectadores, o que foi mais inusitado em
Apocalipse?
MZ: Como
disse, as cenas geram uma proximidade intensa e muitas vezes interativa com o
espectador. O espetáculo é constituído essencialmente de cenas muito fortes e
realistas. O que causa emoções e sensações diversas na plateia. Já aconteceram
situações fantásticas entre elenco e plateia e entre os próprios espectadores
com eles mesmos. Exemplos: Términos de relacionamentos de casais, por motivo de
ciúmes, dentro da cena do Inferno, ao mesmo tempo que várias pessoas interagiam
com o elenco desta cena, vômito de um espectador na cena dos Fanáticos Religiosos,
uma pessoa pedindo para sair por não suportar ver as humilhações que acontecem
na cena da Prostituta Maria Madalena, choro compulsivo de espectadores na cena
da Criança, entre outros acontecimentos. Em resumo, a cada apresentação,
surpresas e situações inusitadas podiam acontecer e geralmente aconteciam.
4) Você
também montou As Mulheres de Nelson que ficou em cartaz na Sala Atores de
Laura. Pretende voltar com Apocalipse e/ou Mulheres de Nelson? Pode falar um
pouco sobre os seus projetos atuais?
MZ: Sim, estivemos com “Mulheres de
Nelson” na Sala Atores de Laura e também no Rampa Lugar de Criação, em
Copacabana. Além de percorrermos alguns Festivais, onde a receptividade da
crítica especializada, a classe artística e público em geral foi muito boa. Pretendemos
voltar sim tanto com Mulheres de Nelson e também Apocalipse.
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Cena de Mulheres de Nelson |
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Cena de Mulheres de Nelson |
Em 2015, a Cia. Teatro da Estrutura,
esteve parada, pois decidimos fazer uns trabalhos particulares que estávamos
afim de realizar. Então desde junho do ano passado venho realizando dois
projetos com a CATP – Cia de Arte e Teatro Popular, que tem sede em
Jacarepaguá. O Projeto Práticas de Montagens, que leva a cada dois meses quatro
cenas curtas à sede da CATP. Estas cenas na maioria das vezes são realizadas
com alunos das oficinas da CATP, mas isso não é uma regra. A [única regra que
existe é que as cenas primem pela qualidade e que os alunos possam executar na
prática o que aprendem na teoria. Metodologia teatral, encenação de grandes
autores e cenas autorais também. Já encenamos Pirandello, Suassuna, Nelson,
Marquês de Sade, Strindberg, entre outros. O outro projeto chama-se Teatro na
CATP, onde também a cada dois meses encenamos espetáculos de até 40 minutos de
duração. No momento estamos com um espetáculo na linha do Teatro do Abusrdo,
chamado “Partícula de um Qorpo-Santo”, onde peguei o texto “Matheus e Matheusa”
e fiz uma adaptação, interferência e direção desta peça, que é do gaúcho
Qorpo-Santo, considerado o primeiro ensaísta do Teatro do Absurdo.
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Cena de Partícula de um Qorpo-Santo |
5) Vejo
nas peças que você dirige um pouco de Brecht, do
próprio Teatro do Absurdo... Também vejo um pouco de Nelson Rodrigues. Quais
são as suas referências?
MZ: Procuro
desenvolver um teatro autoral, mas lógico que tem referências fundamentais para
este desenvolvimento. Artaud, Brecht e Grotowski. Aqui no Brasil o Antunes
Filho e na questão do Teatro Ritualístico o Zé Celso.
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Cena de Mulheres de Nelson |
6) Na sua opinião, o brasileiro gosta de teatro? O que ele
procura no teatro?
MZ: O brasileiro
gosta de teatro. Mas com a massificação (super clichê isso, mas fazer o quê?)
imposta pelos meios de comunicação, em especial a TV Aberta (Plim Plim), o
brasileiro acaba buscando no teatro uma extensão do que vê na televisão. Ou
seja ele não vai ao teatro pra ver uma grande encenação, um bom texto. Ele vai
pra ver o ator X, a atriz Y, que são carinhas que entram em suas casas sem
pedir licença, todos os dias pela TV.
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Cena de O Grande Circo Imaginário |
7) O que você não colocaria em uma peça de teatro?
MZ: Um texto
ruim. Acho fundamental a escolha de um bom texto, para que se conduza uma
encenação relevante.
8) O
que é o Teatro da Estrutura?
MZ: O Teatro da Estrutura é um método
teatral que criei e venho desenvolvendo desde 2007, quando morei em Curitiba
com uma Cia. que levei de Vitória-ES pra lá. O nome do método acabou se
transformando no nome da Cia. que criei em 2008 aqui no Rio.
O método “O Teatro da Estrutura”,
falando de modo superficial e rápido, procura unir a verdade do ator, da
personagem do texto e de uma terceira pessoa que tenha relação direta com o que
é dito no texto. A junção destas três verdades, formam a “verdade absoluta” da
personagem que vai pra cena. Aí pra chegar nisso existe uma infinidade de
exercícios que venho desenvolvendo a nove anos.
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Cena de Hierarquia, Nem Anjo Escapa |
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Cena de Senhorita Júlia |
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Cena de Pirandelo Reduzido e Ampliado |
9) Comecei
a entrevista falando sobre a sua peça que mais me marcou, Apocalipse. Agora
quero falar da primeira do primeiro trabalho seu que assisti. VEM! Por que esse
nome? Você tem essa necessidade de escancarar as feridas do ser humano? O seu
ego, as incertezas... As certezas, sempre tão frágeis... o estresse do
dia-a-dia? Por quê? Quem é Márcio Zatta e o que ele quer mostrar ao público?
MZ: Então, Brunno. Coloquei esse nome
VEM!, porque a cena fala de um chamamento que o ser humano precisa fazer pra si
mesmo, pra que ele pare e veja o quanto ele tá envolvido e se preocupando
demasiadamente com coisas que na maioria das vezes são completamente fúteis e
desnecessárias à sua felicidade. A maioria destes seres humanos só percebem
isso quando sofrem um derrame, um infarto, que os deixam com sequelas para o
resto da vida.
![]() |
Cena de VEM! |
Sou um diretor de teatro que procura
fazer o que acredita dentro do teatro. Costumo sempre dizer esta frase em
relação ao teatro que desenvolvo: Pra mim o Teatro tem que tocar nas feridas e
despertar questionamentos. Tem que colocar o público pra pensar. Transformar de
alguma forma a sociedade em que vivemos. Acredita em um teatro cênico e
principalmente pós cênico, onde o público saia do espaço de encenação pensando
e refletindo sobre o que assistiu.
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Cena de Decifrando Sade |
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