"Em direções
opostas, Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant, caminham na perseguição
ao horizonte na forte luz do pensamento."
Por Jair Martins*
Já faz algum tempo
que meu querido escritor Elenilson Nascimento, um filho pelo coração, embora
até o presente momento nunca nos tenhamos vistos, mas, nutro por ele um
sentimento materno virtual, me pediu para comentar sobre a poética de três
grandes expoentes contemporâneos, por mim considerados e que são de uma geração
que vislumbram com escritos manifestos de audácia. Ao receber o pedido me
assustei por não achar que teria cacife para tanto, mas, terminei por
considerar a oportunidade.
Como amante
das letras e de suas revelações, tratado gráfico que expõe a alma, espelho que
reflete o íntimo, ponderei e aceitei o desafio sem prazo para a entrega – O que
faço agora. Apresento o meu singelo comentário, por ordem das gerações, os
poetas: Sérgio Vaz – São Paulo; Elenilson Nascimento – Bahia e Ni Brisant – também da Bahia, mas que
reside em São Paulo. E procurar entender as suas peculiaridades, seria invadir
o oceano querendo agarra-se a sua água. Não há como segurá-la. Nos permitindo
apenas sentir e refrigerarmo-nos em seus conceitos, muitas vezes indomáveis ao
entendimento por estar focado na transformação.
O encontro
poético destes três artistas das letras, tem tom grave entoado sob a maestria de quem os lê. Ao derramar sua alma
em versos, estes poetas incorporam o gênio da sensibilidade. A intimidade de
cada um com suas poesias, comparo-os ao
colibri e as flores. Ele suga-lhe o néctar e ainda poliniza os campos. Esse
comportamento só quem o tem é o poeta. Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni
Brisant, são colibris sugadores da palavra.

Ainda tendo
como exemplo o oceano, os três são águas de grande volume. Mergulhei nesses
três ícones surgidos para nossa época em que a liberdade de expressão é um
serviço prestado em alerta as mentes atrofiadas, considerando o fundamental, os
títulos bem diversificados de cada poema
em expressar verdades antes mascaradas.
Eu os enquadro
nas palavras do excepcional escritor Guimarães
Rosa ao dizer: “Quando escrevo repito
o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em
outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco.
Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos
como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas
profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens”. É
nesses passos do pensamento do autor que encontro nossos mencionados poetas,
como águas agitadas na superfície e sabedoria em profundidade.
Conferindo
alguns versos desses poetas, vejo o quanto da versatilidade no manejo da
palavra com a mensagem poética de cada um. Sérgio Vaz – “Proibido – De andar sobre a água, agora ele nada na terra” (do
livro "Colecionador de Pedras" – in "Poema
Proibido" – página 105) - onde o poeta nesse seu verso consegue limitar a
insatisfação. Elenilson Nascimento – “Folhas
ao Vento como palavras também se não acham uma âncora como vidas se afundam,
murcham e morrem” (do livro "Palavras Faladas Fadadas
Palavras" – in “Folhas ao Vento – página 83) - em lirismo de
profunda elegia, o poeta vulgariza o fim de tudo. Ni Brisant – “Falo – Da boca pra fora para-raios. Dentro
arranha-céu” (do livro "Para Brisa" – in
"Poema Falo" – página 17). O poeta antagonizou na forma debochada os
absurdos de uma realidade.
Dentre os 124
poemas de Sérgio Vaz, 74 de Elenilson Nascimento e os 45 de Ni Brisant, dos
seus respectivos livros acima mencionados, todos por mim lidos e sentidos, como
já citei antes, há um confronto de gêneros, de convicção e de ótica, porém
culminando em comunhão com o sentido maior. A palavra difundida na sua essência
para a qual foi criada – A Revelação.
A diversidade
poética funciona como um grande leque que se abre pela força da inteligência,
representada pelas palhetas (seus versos), no amparo de belos padrões (o lirismo),
numa só finalidade, o frescor da inspiração sobre a face do leitor. Essa é a comparação que faço a vitrine das
diferentes ofertas de leituras em que os poetas Sérgio Vaz, Elenilson
Nascimento e Ni Brisant se enquadram tão bem.
Ao despontar
suas vidas, os poetas em questão encerraram o século XX , adentraram ao século XXI com ousadia,
intrepidez e perspicácia. Na visão da ciência mística, todas as pessoas na
faixa etária de zero idade há 35 anos, entraram no ano 2000, trazendo do século
vencido o desejo das mudanças, da renovação e da inovação. Predestinados,
podemos assim dizer. Aos que optaram pela poesia têm em suas composições a
força do ontem, do agora e do que há de vir, manifestando ao entendimento
valores retidos antes ignorados. A sublimidade dessa arte esculpida nas letras
é divina. O Criador moldurou o grande
cenário que é a vida com o versar dos poetas. Toda palavra tem o sentido
“Faça-se”. Sabemos que há poder nas palavras.
Em direções
opostas, Sérgio Vaz, Elenilson Nascimento e Ni Brisant, caminham na perseguição
ao horizonte na forte luz do pensamento. Em nosso celeiro de poetas, todos
estão unificados no trabalho árduo e solitário da escrita, vemos que os
subjetivos da construção humana, natureza, paixão e mistérios, os aproximam. É
o caso da linguagem uníssona por eles usadas;
AMOR e SOFRIMENTO, nos seus mais extremos derivados.
A poética de
Sérgio Vaz, atrai o seu olhar para as temáticas de discussões sentimentalistas.
A poética de Elenilson Nascimento, aponta as infrações cometidas por excesso ou
escassez de sentimentos e os deslizantes tombos da estupidez do cotidiano. E a
poética de Ni Brisant, narra o comum tão importante dos temas atuais. Como
poeta de postura marginal, valoriza as necessidades das inclusões sociais.
Em suma, formam
um pacto de cumplicidade racional. Nas confissões de Sérgio Vaz, na
irreverência de Elenilson Nascimento e nos queixumes de Ni Brisant, sentimos o
hálito de uma digestão favorecida pela imaginação das suas particulares
conjecturas. Eles são três grandes universos poéticos os quais reverencio.
Ao compartilhar com o leitor suas obras
fazem transitar suas íntimas confissões
transformadas em arte. Grata pela vida deles.
Ni Brisant, Elenilson Nascimento
e Sérgio Vaz.
* Jair Martins é poetisa
e membro da União Brasileira de Escritores -UBE, da Academia de Artes, Letras e
Ciências de Olinda- AALCO e da Academia de Letras e Artes do Nordeste
Brasileiro - ALANE